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Geração dourada do Chile encara o Brasil por última chance de jogar Copa

Alexis Sánchez e Arturo Vidal: os símbolos da melhor geração da história do Chile - Ian Walton/Getty Images
Alexis Sánchez e Arturo Vidal: os símbolos da melhor geração da história do Chile Imagem: Ian Walton/Getty Images

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

10/10/2017 04h00

Há dez anos, o Chile vivia um dos piores momentos futebolísticos de sua história. O time havia ficado de fora das duas últimas Copas do Mundo, sofrendo com uma equipe envelhecida. Poucos poderiam imaginar que ali, sob o comando do recém-chegado treinador Marcelo Bielsa, surgiria uma geração de jogadores que, quase uma década depois, levaria o país a duas conquistas de Copa América, as maiores glórias da história da seleção.

Nesta terça-feira (10), essa mesma geração luta para não dar seu último suspiro. O Chile encara o Brasil no Allianz Parque a partir das 20h30 (de Brasília) em um jogo decisivo para se classificar para a Copa do Mundo de 2018, que pode ser a última de jogadores que elevaram o patamar da seleção ao longo dos últimos dez anos. São os casos de Alexis Sánchez, Arturo Vidal, Jorge Valdivia, Claudio Bravo e Gary Medel, para ficar apenas em alguns.

O início da "geração dourada"

Bielsa - Jamie Squire - FIFA/FIFA via Getty Images - Jamie Squire - FIFA/FIFA via Getty Images
Imagem: Jamie Squire - FIFA/FIFA via Getty Images

O Chile bicampeão da América em 2015 e 2016 nasceu com Bielsa em 2007. O processo de renovação liderado pelo polêmico treinador argentino foi gradual. Sua primeira convocação, por exemplo contou com o veterano atacante Marcelo Salas, então com 33 anos. Mas logo ele moldou um time de jogadores jovens, vibrantes e intensos, perfeitos para seu modelo de jogo baseado em pressão constante sem a bola e ataques velozes com ela.

O Chile se classificou para a Copa de 2010, onde foi eliminado pelo Brasil de Dunga nas oitavas de final. A derrota por 3 a 0 retratou bem as principais deficiências chilenas: a falta de imposição física, principalmente nas bolas paradas, e a vulnerabilidade a contra-ataques. Mas serviu para consolidar nomes que até hoje estão no grupo – além dos já citados acima, estavam lá Mauricio Isla, Jean Beausejour, Gonzalo Jara, Fabián Orellana e Esteban Paredes.

Bielsa deixou o Chile em 2011, mas sua passagem deixou marcas transformadoras no futebol do país. Além do modelo de jogo definido que até hoje é a base do jogo do time, ele também mudou a mentalidade dos jogadores chilenos, incutindo a competitividade e a fome de vencer. Claudio Borghi teve uma passagem malsucedida com sérios problemas disciplinares, mas em 2012, um discípulo de Bielsa assumiu o posto para subir o último degrau que separava o Chile dos títulos: Jorge Sampaoli.

Glórias e declínio

Vargas - AP Photo/Julie Jacobson - AP Photo/Julie Jacobson
Imagem: AP Photo/Julie Jacobson

Com Sampaoli, que já praticava um estilo inspirado em Bielsa na Universidad de Chile, a seleção atingiu seus voos mais altos. Na Copa de 2014, novamente caiu para o Brasil nas oitavas, apesar de ter jogado melhor durante a maior parte do jogo e ter acertado uma bola na trave na prorrogação. A falha em transformar o domínio em gols custou caro e, nos pênaltis, o time de Felipão levou a melhor.

Mais atletas importantes da seleção atual estavam no grupo de 2014, como Charles Aránguiz, Eugenio Mena, Francisco Silva, Eduardo Vargas e Marcelo Díaz. Com uma identidade de jogo definida e um grupo coeso há praticamente uma década, finalmente os frutos foram colhidos em 2015. Em casa, o Chile jogou um futebol espetacular e superou a argentina de Messi na final da Copa América para conquistar o primeiro troféu de sua história.

No ano seguinte, na especial Copa América Centenário, mais um título, novamente diante dos argentinos na decisão. O jogo apresentado, porém, já não alcançava as alturas de 2015. Sampaoli, a essa altura, não estava mais na seleção, tendo saído por desentendimentos com a federação chilena.

O novo treinador, Juan Antonio Pizzi, procurou mexer o mínimo possível nas convocações e nas características da equipe. Mesmo assim, o declínio começou. Nas Eliminatórias para a Copa de 2018, o Chile sofreu para impor seu tradicional jogo de pressão e acumulou tropeços, chegando à última rodada precisando de um resultado contra o já classificado Brasil.

As explicações para a campanha decepcionante do bicampeão sul-americano nas Eliminatórias variam desde uma queda física até problemas de relacionamento no vestiário. Mas o certo é que, para Sánchez, Vidal – que está suspenso e não joga –, Bravo e companhia, mais uma derrota para o Brasil pode significar não só a ausência na Copa, mas o fim de uma era para o futebol do país.