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Como ex-astro do futebol europeu resolveu investir em clube capixaba

Sub-17 do Porto Vitória comemora o título do Capixaba sub-17 - Reprodução/Facebook/portovitoriafc - Reprodução/Facebook/portovitoriafc
Sub-17 do Porto Vitória comemora o título do Capixaba da categoria
Imagem: Reprodução/Facebook/portovitoriafc

Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo

13/10/2017 04h00

Por meio de sua empresa 12M, Frédéric Kanouté decidiu investir no mercado do futebol brasileiro. O ex-astro do futebol europeu, que jogou como atacante por Lyon, West Ham, Tottenham e Sevilla, vem ao país em novembro para acompanhar de perto o desenvolvimento do Porto Vitória, clube capixaba do qual é parceiro.

O Porto Vitória foi fundado em outubro de 2014 por Vinícius Coelho, que até hoje preside o clube. Oriundo de uma família de empresários, o dirigente resolveu aliar sua expertise como gestor e sua paixão por esportes para lançar o projeto.

"Sempre trabalhei com a família, que tem um grupo de empresas. Somos em três irmãos, e eu sou o caçula. Eu fui o único que na juventude fiz todo tipo de esporte possível. O que mais levei a sério foi o basquete. Joguei em alto nível na base. Fiquei uns seis anos nisso. Então, sempre fui ligado ao esporte", contou Coelho, ao UOL Esporte.

"Me formei em marketing e fiquei um tempo com uma empresa de publicidade. Mas sempre senti um incômodo, e decidi ir morar em Londres com a minha esposa. Depois, trabalhei em uma empresa de saúde, mas não tem nada a ver comigo. Foi quando meu pai leu que a Fifa queria proibir que empresários tivessem a posse de jogadores e quis abrir um clube. Falei 'deixa comigo'. Hoje, já tem três anos", completou.

Para levar o projeto adiante, Coelho resolveu investir em sua preparação. O presidente fez cursos na Trevisan e na Universidade do Futebol, aproveitando a oportunidade para se relacionar no meio. Tudo para angariar conhecimento para a gestão do clube, que hoje trabalha com categorias de base e ainda se estrutura antes de levar uma equipe profissional.

Hoje, os garotos do Porto Vitória têm à disposição psicólogo, odontologista, nutricionista e médico, além de um centro de treinamento com três campos.

"Isso chamou a atenção do Kanouté. Claro que foi por intermédio de uma pessoa que me conhecia. Foram dois anos de conversas. Temos um canal no YouTube com todos os nossos jogos, e eu mandava os vídeos para ele. Até que, ano passado, ele levou um atleta nosso para o Genk e o Málaga. Hoje, esse atleta está no sub-20 da Ponte Preta, se chama Érik Rocha. Ele começou a gostar, e hoje está agenciando um atleta nosso", contou Coelho.

O intermediário que apresentou Kanouté ao Porto Vitória é Eduardo Ramos, capixaba que mora em Dubai, onde o ex-atacante tem residência, há sete anos. Os três têm em comum suas ligações profissionais com o futebol.

"O presidente do Porto Vitória é um amigo próximo dele. Acontece que o Porto Vitória tem a mesma filosofia que eu tenho de desenvolver jogadores jovens. A 12M está trabalhando no desenvolvimento de jovens com algumas academias de elite na África. Então, decidimos conhecer o Porto Vitória e discutir uma parceria com eles. Percebi que Vinícius e seus colegas já fazem um trabalho incrível e profissional, o que me deu mais vontade de acertar a parceria. Ali, começava uma parceria frutífera", disse Kanouté, também ao UOL Esporte.

O Porto Vitória é o terceiro clube em que Kanouté investe, o primeiro fora da África.

"Temos um em Mali e um na Zâmbia, dois que já viram vários jogadores começarem uma carreira profissional na Europa e jogarem por suas seleções profissionais", revelou o malinês.

Parceria com brasileiros

Diego Capel (e), Frederic Kanoute, Adriano e Luis Fabiano (d) comemoram gol do Sevilla contra o Tenerife - AFP/Cristina Quicler - AFP/Cristina Quicler
Kanouté comemora gol do Sevilla com Diego Capel, Adriano e Luis Fabiano
Imagem: AFP/Cristina Quicler

Kanouté se destacou no Sevilla entre 2005 e 2012, quando dividiu o vestiário com inúmeros brasileiros, como Daniel Alves, Adriano, Renato e Luís Fabiano. De acordo com o ex-atacante, a parceria aumentou sua vontade de investir em clubes do país, assim como as semelhanças com o povo africano.

"Fui sortudo o bastante para jogar junto com esses brasileiros supertalentosos, o que certamente influenciou minha decisão de algum modo. Além disso, o Brasil me lembra a África na incrível quantidade de talentos crus que você acha e na paixão por futebol. Então, pensei que era uma extensão lógica do que estamos fazendo na África", revelou o malinês.

De acordo com Coelho, Kanouté é um parceiro importante para o futuro do clube, que já almeja o lançamento de uma equipe profissional.

"Está desenvolvendo um projeto para alavancarmos o clube. Vai estar no Bahrein falando sobre investimento para o CT, para a equipe sub-20 e para o profissional", revelou o dirigente, que teceu elogios ao parceiro.

"Ele é uma pessoa que, para ser sincero, não conhecia bem. Fiquei fã. É muito tranquilo, calmo, estilo Kaká, Leonardo. Fala cinco línguas, é polido. Respeita demais as pessoas. Para, conversa, bate papo, tira foto. É um cara bem maleável mesmo. Diferenciado”, exaltou.

Metas ousadas

Em apenas três anos, o Porto Vitória já bateu a primeira meta de sua criação: colocar jogadores nas categorias de base de cinco clubes da elite do futebol brasileiro. Agora, os objetivos são ainda mais ousados: ter um jogador convocado para uma seleção brasileira e criar um time profissional.

"Nossa meta é, claro, construir o profissional. Queremos também ter jogador em seleção brasileira em dois anos. Precisamos investir, e com acesso às competições nacionais é mais fácil. A ideia é ter um time profissional com base sub-23. Claro que você pode ter uma espinha dorsal com atletas mais experientes", disse Coelho.

De acordo com o presidente do clube, o fácil acesso a competições nacionais pela falta de concorrência de elite no Espírito Santo pode servir como atalho para o Porto Vitória.

"Temos acesso para a Série D e para a Copa Verde. Não é um objetivo inalcançável. Ainda tem vaga para a Copa do Brasil. São quatro vagas. Dá para conquistar com uma certa tranquilidade. Sem falar que o sub-20 tem duas vagas para a Copa São Paulo", projetou.