Topo

Vice do Fla admite chance de entregar o cargo: "Não serei manipulado"

Ricardo Lomba é o representante do grupo político SóFLA no futebol rubro-negro - Gilvan de Souza/ Flamengo
Ricardo Lomba é o representante do grupo político SóFLA no futebol rubro-negro Imagem: Gilvan de Souza/ Flamengo

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/11/2017 04h00

Ricardo Lomba assumiu a vice-presidência de futebol do Flamengo há 43 dias. Torcedor fervoroso do Rubro-negro e integrante do grupo político da situação SóFLA (Sócios pelo Flamengo), o funcionário da Receita Federal topou o desafio de ser o homem forte do departamento mais questionado na gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello.

Pouco tempo passou, mas o Flamengo continuou acumulando resultados ruins mesmo com o segundo elenco mais caro do país. Em meio ao turbilhão político, noticiado pelo UOL Esporte na última quarta-feira (15), Lomba luta para fazer valer no futebol o que considera correto e também os desejos dos seus pares.

Em entrevista exclusiva, o dirigente reconheceu que o trabalho do Flamengo está absolutamente aquém do esperado, criticou a pasmaceira que o futebol do clube atravessa e admitiu a possibilidade de entregar o cargo caso não tenha autonomia para realizar a reformulação necessária para a próxima temporada.

Confira a entrevista com Ricardo Lomba:

UOL Esporte: Você imaginava que fosse tão complicado assumir a vice-presidência de futebol do Flamengo?
Ricardo Lomba: Imaginava, mas não esperava pela qualidade do elenco e todo o investimento que foi feito. Achei que teríamos um fim de ano mais tranquilo. Só que não adianta nos afundarmos e sofrermos agora. Nos resta trabalhar muito para conquistar os resultados que ainda podemos na reta final.

UOL Esporte: Há algo que ainda possa ser feito? Sabemos que o clima é de fim de festa nos bastidores e até a torcida se mostra desanimada para os últimos compromissos...
Ricardo Lomba: O resultado está muito aquém do esperado. A torcida precisa estar indignada mesmo. A cobrança é legítima. É necessário ficar triste e estamos preocupados. O que precisamos fazer? Trabalhar e tentar fazer alguma coisa diferente para os resultados acontecerem. Não dá para ficar acomodado e satisfeito. Não era isso mesmo que queríamos e estamos em uma situação bem inferior da que esperávamos.

UOL Esporte: Sabemos que é delicado falar sobre a próxima temporada, mas noticiamos que o seu grupo político (SóFLA) exige modificações no futebol para 2018 e confia que você será a voz deste processo. Como lida com essa responsabilidade?
Ricardo Lomba: Fico muito feliz de ter sido o nome apoiado pelo grupo. Eles estão desde 2012 e 2013 trabalhando muito pelo Flamengo. Queremos o melhor para o clube. Os caras estão perturbando, me cobrando e exigindo resultados melhores. Todos querem o mesmo objetivo, mas as coisas não estão acontecendo. Não dá para ficar na pasmaceira atual. Só a gente vai resolver isso. Precisamos cobrar.

UOL Esporte: A possibilidade de você entregar o cargo é concreta caso não tenha autonomia para realizar as mudanças?
Ricardo Lomba: Fui chamado para ajudar. Mas, se não posso fazer o que não agrada a A, B ou C, saio com a mesma tranquilidade com a qual assumi o cargo. Se não tiver autonomia, não tenho que estar ali. Precisa ser assim com qualquer um que assumir o posto. Faria isso em qualquer lugar. Não serei manipulado. Se acharam que seria, escolheram a pessoa errada. O presidente me dá liberdade para trabalhar, já falamos bastante coisa e sobre algumas mudanças. Estamos caminhando, por enquanto. É hora de calma e lucidez, porque fica aquele desespero do futebol quando o resultado não acontece.

Ricardo Lomba tem a missão de reformular o futebol do Flamengo para 2018 - Gilvan de Souza/ Flamengo - Gilvan de Souza/ Flamengo
Ricardo Lomba tem a missão de reformular o futebol do Flamengo para o ano de 2018
Imagem: Gilvan de Souza/ Flamengo
UOL Esporte: Incomoda a possibilidade de ficar queimado com o grupo político e a torcida se as coisas não funcionarem como o desejado?
Ricardo Lomba: Faço tudo pelo Flamengo, mas não quero nunca ser taxado de omisso. Eu prefiro não pecar pela omissão. Só vou me queimar com os meus pares se tiver convicção de alguma coisa, mas eles não gostarem. Só que podem ter a certeza de que farei de tudo para o futebol rubro-negro trilhar o caminho das vitórias.

UOL Esporte: Muitos querem que você seja a voz do torcedor. Desejam que cobre os jogadores e mostre a alma rubro-negra, o que sustentam que não existe no elenco atual. O seu perfil é esse?
Ricardo Lomba: Qualquer pessoa que assuma algum cargo precisa saber cobrar na hora necessária. Trabalho há anos na Receita Federal e sempre cobrei os resultados. Essa é a função de líderes e chefes. Claro que vou fazer isso no Flamengo. Se não fosse para isso, jamais aceitaria o cargo. Só que precisamos saber cobrar e ouvir as críticas. Não posso agir quebrando tudo. Tivemos mais um dia ruim contra o Coritiba. Não estava nos planos outra derrota e tivemos uma conversa forte. Foi uma situação corriqueira.

UOL Esporte: Você é um rubro-negro conhecido de arquibancada. O episódio da agressão sofrida por torcedores organizados o deixou abalado? É o tipo de coisa que faz repensar sobre o cargo? Nota: Lomba teve o carro cercado e chutado pelos torcedores no protesto realizado contra a má fase do time no Centro de Treinamento Ninho do Urubu.
Ricardo Lomba: Não me fez repensar. O protesto é legitimo. A violência, não. Não tenho nada contra, mas existe um limite. Não pode ter agressão física ou material com quem quer que seja. Fui mostrar a minha solidariedade aos jogadores e até servir de interlocutor. Não deu tempo. Fui cercado até por alguns que conheço de arquibancada. Não concordo com esse tipo de atitude, mas o protesto é justo, já que o Flamengo não correspondeu ao que os torcedores esperavam para o ano.

UOL Esporte: Como você avalia o trabalho do técnico Reinaldo Rueda? Acha que ele ainda consegue colocar o Flamengo nos trilhos até o fim da temporada? Muitas pessoas que vivem os bastidores dizem que ele aparenta estar desanimado...
Ricardo Lomba: Eu acho que se trata de um grande profissional e com um currículo invejável. Ele chegou em um país diferente. Não sabia com quem trabalhar, metodologia... Mas acredito que conseguirá dar a volta por cima. É um profissional acima da média. Óbvio que precisa de um processo de adaptação e amadurecimento. Isso vale para todo mundo, inclusive os jogadores. Estamos falando do Flamengo. É preciso ser diferente aqui.

UOL Esporte: Essa sequência ruim pode abreviar a passagem do técnico Reinaldo Rueda pelo clube? No caso, acha que ele pode se sentir impotente e entregar o cargo?
Ricardo Lomba: Chance zero de acontecer isso.

Ricardo Lomba e Bandeira - Gilvan de Souza/ Flamengo - Gilvan de Souza/ Flamengo
O presidente Bandeira impõe resistência para a reformulação do futebol no Flamengo
Imagem: Gilvan de Souza/ Flamengo