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"Para-raios", Abel se desgastou no Flu e hoje está entre Inter e Palmeiras

Abel Braga virou porta-voz de diversos problemas do Fluminense e se incomodou  - Thiago Ribeiro/AGIF
Abel Braga virou porta-voz de diversos problemas do Fluminense e se incomodou Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Do UOL, em São Paulo*

22/11/2017 04h00

A atual temporada foi a mais desgastante da carreira de Abel Braga, com a morte trágica de João Pedro, seu filho caçula, como ponto máximo de tensão. Neste contexto, a situação do Fluminense não ajudou. Diante de um time repleto de jovens e com pouco dinheiro em caixa para mudar essa situação, Abel Braga esgotou ainda mais as suas forças por funcionar como uma espécie de para-raios do Tricolor.

Ainda que tenha encontro marcado com o presidente Pedro Abad para discutir sua continuidade no Fluminense, o técnico já mira um 2018 fora das Laranjeiras. E se divide entre Palmeiras e Internacional na missão de decidir os próximos passos da carreira.

Pelo lado do time paulista, pesam a boa estrutura e o investimento de olho em grandes títulos - algo que Abel não teria no Fluminense e sente falta.

O Palmeiras trata Abel Braga como a primeira opção por causa do perfil "paizão" do comandante. O clube entende que o treinador não teve um ano de bons resultados por ter em mãos uma equipe em formação, que ainda por cima sofreu com a saída de Richarlison. Se receber um não do técnico do Fluminense, Alexandre Mattos e companhia disseram que vão conversar com Roger Machado. Os cartolas alviverdes ainda não têm certeza de que a família de Abel topará morar em São Paulo.

De olho no Sul, a relação íntima com o clube onde ganhou seus maiores campeonatos mexe com o profissional. O Inter tem Abel como único alvo no momento e seu filho e representante, Fábio Braga, está na capital gaúcha para se encontrar com o presidente Marcelo Medeiros nesta quarta-feira. Não será firmado acordo, mas as partes querem apresentar o que pretendem para 2018.

O treinador, campeão da Libertadores e do Mundial de 2006, é ídolo da torcida, amigo da direção e tem total respaldo para chegar ao clube como pilar de uma reconstrução que começa a partir do retorno à Série A. Na avaliação do Internacional, Abel poderá recuperar forças após a trágica morte do filho junto ao clube que o tem no posto mais alto entre os treinadores. Além disso, coloca o comandante como preferido pela boa relação com D'Alessandro, capitão do time.

Abel era técnico do Inter com o atual presidente, Marcelo Medeiros, como vice de futebol em 2014. Foi o último treinador a começar e terminar um ano no comando do Colorado. E só não seguiu no clube porque Medeiros, que já tinha acerto com ele para 2015, perdeu a eleição presidencial.

Desgaste no Fluminense

Não foram poucas as vezes que Abel teve de vir a público para "colocar a cara" e falar repetidas vezes sobre o momento difícil do Flu, tanto esportiva quanto financeiramente. Isso cansou ainda mais o treinador, que ficou exposto e sentiu um pouco a falta de respaldo público da cúpula de futebol tricolor em determinadas ocasiões.

Apesar dos percalços, Abel não tomará nenhuma atitude sem antes sentar à mesa com o presidente Abad. Se ouvir do mandatário que o time poderá ser reforçado e os problemas econômicos como atrasos de salários não se repetirão ano que vem, pode até ficar. O técnico, porém, não acredita que isso deve acontecer. Caso o presidente não possa prometer uma injeção de recursos e um pouco mais de estabilidade, a iminente saída se confirmará um caminho natural.

Ainda que uma definição não seja esperada para as próximas horas, o treinador gostou muito de tomar ciência do interesse palmeirense. Por meio do diretor Alexandre Mattos, o clube entrou em contato com Fábio Braga, filho e representante de Abel. Desde o desastre com João Pedro, Fábio decidiu largar a carreira de jogador e abriu uma empresa de representação. Ele será responsável por conduzir uma eventual negociação com os paulistas.

De volta ao clube que o consagrou como técnico campeão brasileiro de 2012, Abel Braga desembarcou nas Laranjeiras com a missão de construir uma equipe recheada de jovens e de novos valores revelados em Xerém.

O trabalho começou promissor e o renovado Fluminense teve bons momentos, especialmente no primeiro semestre do ano, quando ficou perto do título do Carioca e encantou com um futebol rápido e leve. A saída de Richarlison, no entanto, fez o time ter uma nítida queda, o que também foi aumentado por conta das dezenas de lesões que assombraram o Flu no ano.

Antes quase unanimidade entre os tricolores, Abel passou a ter resistência de parte da torcida, que atribuiu a ele algumas derrotas que teriam sido construídas por opções teoricamente equivocadas do comandante. Com o ano para lá de atribulado, o Tricolor tem números apenas razoáveis na temporada. Em 73 jogos, a equipe soma 29 vitórias, 20 empates e 24 derrotas.

*Com reportagem de Danilo Lavieri, José Edgar de Matos, Leo Burlá, Marinho Saldanha e Pedro Ivo Almeida