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Em despedida, diretor do Cruzeiro questiona critérios da nova diretoria

Diretor de futebol encerrará suas atividades no Cruzeiro e dará lugar a Marcelo Djian - Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro
Diretor de futebol encerrará suas atividades no Cruzeiro e dará lugar a Marcelo Djian Imagem: Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro

Enrico Bruno e Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

28/11/2017 15h52

Sem treinos, a tarde desta terça-feira na Toca da Raposa II ficou marcada pelo discurso de despedida de Klauss Câmara. Atual diretor de futebol, o profissional é mais uma das trocas realizadas pela futura diretoria celeste e dará lugar ao ex-jogador do clube Marcelo Djian. Em suas últimas palavras, Klauss relembrou sua passagem pelas categorias de base, agradeceu ao departamento de futebol e disse não guardar mágoas por causa da saída já esperada, mas questionou os critérios da futura diretoria e acredita não ter saído do clube por incompetência ou mau profissionalismo.

"Não posso dizer que não foi uma interpretação por parte deles, porque não fui avaliado por eles. Não posso dizer que não estou sendo demitido por eles, porque me consideram um mau profissional, porque não tive a oportunidade de ser avaliado. Isso faz parte do jogo, faz parte do futebol. Se tem uma certeza de todos nós, que trabalhamos com futebol, é que seremos demitidos, nossos ciclos se encerram. Quando a gente fala de vitória, de grandeza e de conquista, a gente não fala só de troféus, fala das relações humanos no elemento no qual estamos inseridos", comentou Klauss, que foi diretor das categorias de base do Cruzeiro e passou pelo grande desafio de se tornar o diretor de futebol profissional a partir de janeiro deste ano.

"A gente já sabia da minha não continuidade, mas deixei para falar ao final do processo para que causasse o mínimo possível de intervenções no grupo e na equipe. Dizer que são quase 10 anos de serviços prestados a esse clube, foi um orgulho muito grande ter recebido a missão de dirigir o departamento de futebol em 2017. A gente sabia que, no início dessa temporada, havia até resistência de outros profissionais que eu estivesse aqui. Largar a cidade de origem, família e um desafio, podendo ter um período curto, com chance de ficar desempregado logo à frente. Era um cenário bastante difícil para poder assumir para qualquer outro profissional. Eu pude ser o responsável pelo futebol do Cruzeiro nessa temporada. Me sinto honrado por ser o diretor das duas Tocas da Raposa, a I e a II. Muitos títulos conquistados nas duas Tocas, nos dois departamentos. Podemos interferir no processo de formação, de atletas, cidadãos e homens. Alcançar a maturidade como pessoa, cidadão e atleta. É um privilégio muito grande", acrescentou.

Abaixo, veja outros trechos da entrevista de despedida de Klauss Câmara:

Balanço de sua passagem pelo Cruzeiro

"Foram quase 10 anos de serviço prestado ao Cruzeiro. 25 anos atuando no futebol. Graças a um trabalho coletivo e conjunto, me sinto vencedor por onde passei. Agradecer às pessoas, em especial o Bruno (Vicintin), profissional e amigo. Me sinto honrado em ter cumprido a missão que ele me deu e ter honrado a expectativa de todos. Quando a comissão técnica estava de folga, estávamos aqui todos os dias sem folga", comentou Klauss, que assumiu a diretoria de futebol no início deste ano e foi o maior responsável por conduzir as negociações com Thiago Neves, principal contratação celeste da temporada.

Sorte aos futuros gestores

Quero desejar sorte à diretoria que assume e que eles consigam alcançar todos os objetivos propostos pela grandeza e pelo tamanho do clube. Que eles consigam colocar o Cruzeiro em patamares maiores. O caminho está muito mais fácil, a casa está arrumada. O Cruzeiro é um boeing na pista, prontíssimo para decolar. Que eles consigam que essa aeronave decole, que tenham seriedade, compromisso com essa camisa, com esse clube. Com muito orgulho e satisfação, que eles possam ter sucesso.

Contratações e permanência de jogadores

Não só a contratação do Thiago Neves, mas outros jogadores também deram certo. Se voltasse atrás, faria de novo a contratação do Thiago Neves, porque vimos que ele é um jogador importante. Fez o gol do título, que colocou o Cruzeiro na Libertadores 2018. É uma contratação que deu certo para o clube, não para mim. Quem contrata o jogador é a instituição, essa bandeira que nós representamos. Temos um relacionamento, nossa forma de trabalhar e ação no mercado. Fizemos mais renovações de contrato que renovações. A renovação é uma contratação. A gente, às vezes, tem um jogador com incertezas. O que o clube e a instituição pensa a respeito dele. Vocês sabem e podem até ajudar nesse caso. Tivemos o Henrique, capitão da equipe, o Manoel, o Alisson, o Rafael. O Rafinha, que foi um jogador extremamente importante. Foi um jogador muito importante na final da Copa do Brasil. As renovações também consideramos grande relevância.

Conquista da Copa do Brasil

A nossa conquista da Copa do Brasil foi muito maior que realmente foi. Eu saio com sentimento de dever cumprido, com a sensação de ter representado um gigante do futebol mundial, que é o Cruzeiro. Ver que fizemos algo que tudo aquilo que é considerado, por todos que falam sobre boas gestões, nós fizemos. Montamos equipe forte dentro de orçamento limitado.

Dívidas do clube na Fifa

Com relação às dívidas e às ocorrências que existem do clube com a Fifa, não é uma exclusividade do Cruzeiro. Já sabíamos disso quando assumimos. Em nenhum momento, pensei que estive presente ou que fui o responsável ou não. Como toda a diretoria que estava presente nessa temporada, assumi o que competia ao Cruzeiro. A operação do Ábila não foi o Klauss quem fez, mas foi o Cruzeiro. O Ábila era um jogador de muito apelo para a torcida, um artilheiro, mas não vinha sendo usado no elenco principal. Poderíamos pensar somente em nós e dizer que não era uma competência nossa se ele joga ou não. O que fizemos do Ábila não foi o mais seguro para nós, mesmo sendo um atleta querido pela torcida. Olhamos o melhor para o Cruzeiro. A operação do Ábila rendeu uma economia de R$ 25 milhões ao Cruzeiro. Trouxemos um atleta que queríamos que respondesse à altura na mesma função, que é o Sassá. Fizemos de forma paralela para que o clube não fosse prejudicado em questão de performance. Dificuldades financeiras vão existir nas próximas temporadas. Tivemos um orçamento extremamente limitado e restrito. Tivemos dificuldades financeiras, mas em nenhum momento jogamos para as dificuldades financeiras qualquer tipo de desculpa. O Cruzeiro estaria para brigar e vencer, independente do orçamento.

Atrasos de salários

Isso é uma coisa importante e relevante. Os salários estão todos em dia. A dificuldade de pagamento de imagem existiu sim ao longo do ano e acredito que existam algumas imagens em aberto. Não sei precisar agora, porque o financeiro tem atuado com o Gilvan na questão dos débitos. A questão financeira está inerente e o clube soube gerir em 2017 e tem que ser assim em 2018.