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Chape planeja 2018 sem ajuda de clubes: "Não queremos ser os coitadinhos"

Rui Costa (esq.) renovou contratos de Arthur Caike e Jandrei até 2021 - Sirli Freitas/Divulgação/Chapecoense
Rui Costa (esq.) renovou contratos de Arthur Caike e Jandrei até 2021 Imagem: Sirli Freitas/Divulgação/Chapecoense

Danilo Lavieri

Do UOL, em Chapecó (SC)

29/11/2017 04h00

Passado um ano da tragédia que vitimou 71 pessoas no acidente aéreo na Colômbia, a Chapecoense agora tenta planejar a temporada de 2018 com metas esportivas mais ousadas. Se após o acidente diversos clubes ofereceram ajuda à equipe de Santa Catarina, para a próxima temporada os planos não contam com a solidariedade alheia.

Na virada de 2016 para 2017, equipes do mundo inteiro deram ajuda financeira e facilitaram transações com empréstimos gratuitos ou condições facilitadas. Isso não deve se repetir.

Rui Costa, diretor executivo do clube, expressou toda a sua gratidão pela ajuda recebida, mas fez questão de ressaltar que nada disso teria dado certo caso o trabalho da diretoria não tivesse sido bem feito.

Confira a entrevista de Rui Costa ao UOL Esporte:

UOL Esporte: Como você resume esse ano de transformação da Chapecoense?
Rui Costa:
 Seria diferente para qualquer gestor que se deparasse com o desafio que a gente teve. Por mais profissional que o tema fosse, a gente sempre esteve envolvido em contexto de emoção, de consternação. Várias vezes eu tive dúvida do que poderia fazer e se seria possível fazer. Foi um ano pesado e triste por tudo o que se sucedeu do ponto de vista emocional. Mas, em metas, no aspecto profissional foi um ano excelente. A gente retomou o caminho de a cidade ter emoções com o clube. Conseguimos remontar a equipe, conquistar um título quatro meses depois do acidente, conseguimos uma classificação que nos foi retirada na Libertadores, lideramos o Brasileiro por um tempo e o futebol termina o ano com superávit. E é sempre bom lembrar que dissemos não ao benefício de não cair.

Reinaldo em ação pela Chapecoense no jogo contra o São Paulo - Daniel Vorley/AGIF - Daniel Vorley/AGIF
Reinaldo será um dos atletas a deixar a Chape em 2018
Imagem: Daniel Vorley/AGIF

UOL Esporte: O que passou pela sua cabeça quando foi convidado?
Rui Costa:
A primeira coisa foi uma gratidão e honra por fazer parte desse projeto. E agora ter na minha história de vida poder contar que eu fiz parte da reconstrução de um clube. Levei toda a minha família para Chapecó, porque não poderia fazer isso sem eles. Para fazer sucesso em Chapecó, você precisa pertencer a Chapecó. E é o maior desafio da minha carreira. Nada vai superar. Houve momentos que eu conversava e perguntava. Será que vamos conseguir?

UOL Esporte: Neste ano, a Chape demitiu técnicos, brigou em campo e teve episódios que ganharam mais repercussão pelo apelo nacional que o time teve após o acidente. Você sente que essa cobrança está diferente também?
Rui Costa:
Quiseram colocar um rótulo que a gente nunca se impôs. A Chapecoense é igual qualquer outro time de futebol, com fatores extras, problemas e tudo o que um clube de futebol tem. Se o papel que queriam nos dar era do clube de coitadinho, do que aceita tudo, as pessoas erraram. Porque não é isso. Fizemos um processo de reconstrução profissional que está sujeito a oscilações como qualquer clube. Trocamos de técnico, vendemos jogadores, tivemos queda técnica. É normal no futebol mundial. E as pessoas imaginaram que a Chapecoense faria um papel de fazer tudo diferente do que está no futebol.

UOL Esporte: Mas não dá para ser diferente do que é o dia a dia de futebol?
Rui Costa:
Claro que queremos fazer diferente, mas estamos sujeitos a tudo isso. E em nenhum momento vamos usar o acidente como escudo para os problemas. Respondemos quando perguntamos, mas jamais vamos falar disso como desculpa.

UOL Esporte: De 2016 para 2017, vários times ajudaram a Chapecoense. Como vai ser o planejamento para 2018?
Rui Costa
: Foi uma solidariedade que tivemos, mas também tivemos muito planejamento profissional. Não contamos com esse tipo de ajuda para 2018. Todas as aquisições serão feitas em cima do nosso mapa de mercado, em negócios que a gente tenha reciprocidade com outros times. A direção já prometeu um orçamento de consolidação na Série A e que a gente tenha um ano positivo em conquistas. Em 2017, tivemos movimentações importantes com os ativos do clube e vamos manter tudo dentro do planejamento, sem loucura.

UOL Esporte: Muita gente prometeu ajuda e não deu?
Rui Costa:
Muita gente assumiu compromissos que seriam inviáveis, porque esticaram a mão sem perceber onde estavam. Mas não foi por má fé. Foi para tentar fazer um gesto, para mostrar que poderíamos contar com eles. Prefiro sempre pensar em toda a ajuda que tivemos.