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Craque dos 20 aos 40, Zé Roberto é tratado como "lenda" por todos os lados

Zé Roberto Santos Vanderlei Luxemburgo - Daniel Kfouri/France Presse - Daniel Kfouri/France Presse
Zé Roberto se destacou no Santos sob o comando de Vanderlei Luxemburgo
Imagem: Daniel Kfouri/France Presse

José Edgar de Matos e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo (SP)

29/11/2017 04h00

O lado profissional de Zé Roberto é conhecido há pelo menos duas décadas. Passam-se os clubes, e quem trabalhou com o agora ex-lateral esquerdo, que encerra a carreira nesta semana, exalta como o veterano se preparou para levar a vida como atleta profissional ao limite. Aos 43 anos, esta linha chegou ao fim, mas as histórias ficam, especialmente as que ressaltam o outro lado do grande jogador. O UOL Esporte entrevistou ex-companheiros para mostrar uma faceta diferente do jogador workahollic que todos se acostumaram a ver.

A obsessão por cuidar do lado físico em nenhum momento, asseguram os entrevistados, mudou a personalidade de Zé Roberto, um cara descrito como humilde, solidário e com um senso de humor contagiante. Quem trabalhou mais recentemente com o lateral, como o técnico Cuca, se recorda do lado “humorista” do atleta, que, quando precisava falar sério, comandava as preleções do Palmeiras.

“O Zé Roberto é muito palhaço [risos]. Ele tem um lado brincalhão e alegra todo mundo, tem umas tiradas assim...”, contou Cuca, que, antes de dirigir Zé Roberto no Palmeiras, atuou com ele na Portuguesa, em 1994.

Zé Roberto Cuca - Diego Padgurschi /Folhapress - Diego Padgurschi /Folhapress
Zé Roberto e Cuca conquistaram juntos o Campeonato Brasileiro de 2016
Imagem: Diego Padgurschi /Folhapress

“Ele anima a concentração contando as historinhas dele, sempre fazendo aqueles joguinhos antes dos treinos. Agora tem aquele ping-pong, que inventaram uma mesa para jogar ping-pong na beira do campo (futmesa). Parece que estão jogando ping-pong, e o Zé sempre encabeçando isso aí e jogando valendo peteleco [risos]. É um cara nota 10”, acrescenta o treinador que conquistou o Brasileirão de 2016 ao lado do veterano.

O agora ex-atleta ainda mantém proximidade com quem iniciou a carreira, como é o caso de Rodrigo Fabri, com quem foi vice-campeão brasileiro com a Portuguesa em 1996. Dois anos mais novo do que o recém-aposentado lateral palmeirense, Fabri se recorda de como Zé Roberto serviu de inspiração para quem surgia naquela época no clube do Canindé. A recordação mais marcante, no entanto, veio quase 20 anos depois, lá no CT do Palmeiras.

“Fui visita-lo no centro de treinamento com a minha filha, porque minha família toda é palmeirense. A Ana Júlia, que hoje tem 12 anos, é palmeirense e foi comigo. O Zé nos recebeu e apresentou todos os jogadores, que são como ídolos para ela. O Zé Roberto continua sendo a mesma pessoa e fez isso por ela. A Ana Júlia fala para mim: ‘foi o dia mais feliz da minha vida’. Quem proporcionou isso foi o Zé Roberto”, relatou Rodrigo Fabri.

“Futuro embaixador”, Zé combatia o frio alemão com humor

O lado engraçado de Zé Roberto, contado por Cuca sobre a recordação da passagem pelo Palmeiras, ultrapassava a barreira da língua. Durante os mais de dez anos de Alemanha, o lateral/meio-campista era um dos líderes da ‘resenha’, principalmente nos tempos de Bayern de Munique (2002 a 2009), como contou o ex-atacante Giovanni Elber.

“Zé Roberto era muito engraçado nos treinamentos, um cara que fazia todo mundo se divertir muito. O Zé tem um astral muito bom, é muito forte e pensa muito positivo, em coisas boas. Chegava para treinar e animava imediatamente o grupo; nunca vi o Zé Roberto de cara emburrada, falando mal de companheiros. Sempre foi tranquilo”, assegurou Elber.

Zé Roberto Bayern - Getty Images - Getty Images
Zé Roberto: sério no trabalho do dia a dia, mas um dos "reis da resenha" no Bayern
Imagem: Getty Images

Para fazer sucesso na Alemanha, Zé teve como espelho um outro parceiro de Elber: o tetracampeão Paulo Sérgio. Também lenda do Bayern de Munique e hoje praticamente vizinho do palmeirense, Paulo Sérgio possui planos ambiciosos para o amigo recém-aposentado do futebol profissional.

No que depender do ex-atacante, Zé Roberto vai precisar de um espaço na agenda no ano que vem, quando assumir um cargo na diretoria do Palmeiras – o ex-camisa 11 palmeirense será o novo assistente de elenco e participará do dia a dia com Alexandre Mattos (diretor de futebol) e Cícero Souza (gerente de futebol).

“Futuramente, quero levar o Zé Roberto para também ser embaixador da Bundesliga [Liga Alemã]. Há muitas coisas que ele pode fazer, porque foi um exemplo dentro de campo e fora dele. Isso sempre marcou a carreira do Zé Roberto e mereceu tudo pois soube ser sempre muito profissional. Por onde passou, deixou um legado”, opinou Paulo Sergio, que também conta com o palmeirense em campo.

“A partir de 2018, ele vai fazer parte dos másters do Bayern de Munique. Até falei isso para ele, pois já temos um jogo no dia 24 de março contra o Liverpool, e aí será a estreia dele com as lendas do Bayern. O nome dele ainda é muito comentado na Alemanha e na Europa. Deixou um grande legado”, afirma.

Revolução de Luxa

Zé Roberto anotou 10 gols em 133 partidas com a camisa do Palmeiras. Durante a maior parte da carreira atuou como lateral ou no setor de meio-campo. Mas em um breve momento da carreira fazer gol toda hora foi uma realidade. Fora as passagens vitoriosas por Bayern de Munique e Palmeiras – já depois dos 40 anos -, o veterano se destacou com a camisa do Santos sob o comando de Vanderlei Luxemburgo.

Luxa propôs uma revolução na carreira de Zé Roberto: jogou adiantado, encostado nos atacantes. Na nova posição, anotou sete gols na Libertadores de 2007 e comandou um Santos que parou apenas na semifinal para o vice-campeão Grêmio. Dez anos depois, o ainda treinador justifica a aposta.

“Quando ele jogou de atacante todo mundo se assustou. Ele não fazia gol, era difícil de fazer gol...mas começou a fazer muito gol. Precisava da qualidade dele próximo do gol. Ele ficar lá atrás seria um desperdício muito grande”, contou Luxemburgo, que avalia Zé Roberto como o jogador de “melhor longevidade” com quem trabalhou durante toda a carreira.

“Ele sempre foi lateral, volante e foi jogar comigo de atacante no Santos, e jogou muita bola. É um jogador fantástico e foi um privilégio ter trabalhado com ele. Talvez seja o jogador que melhor misturou longevidade com qualidade. Às vezes o cara fica velho e vai perdendo a qualidade, o Zé não: manteve a qualidade com a longevidade”, sentenciou.