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Planilha cita pagamento de US$ 1 milhão a ex-executivo da TV Globo

Defesa de José Maria Marin diferenciou siglas MP e MCP em planilha - Eduardo Graça/UOL
Defesa de José Maria Marin diferenciou siglas MP e MCP em planilha Imagem: Eduardo Graça/UOL

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Nova York (EUA)

30/11/2017 18h39

A tática da defesa do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, réu na Suprema Corte do Brooklyn no chamado Caso Fifa, de jogar a culpa dos casos de corrupção no atual presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, acabou complicando a vida do ex-executivo da TV Globo Marcelo Campos Pinto.

O advogado de Marin, James Mitchell, procurou fazer com que a testemunha José Eladio Rodríguez, responsável pela operação de depósito de propinas para cartolas sul-americanos após a assinatura de contratos da cessão de direitos de transmissão de televisão e broadcast para torneios como a Copa América, afirmasse que todas as planilhas referentes à movimentação bancária da empresa argentina Torneos y Competencias (TyC), onde trabalhava, identificavam os subornos apenas a um "brasileiro", no singular, ou a "MP", uma referência, segundo o próprio Eladio, a Marco Polo Del Nero, sem menção a Marin.
 
Mas uma outra referência, também presente na planlilha de Eladio apresentada pela Procuradoria, em 9 de dezembro de 2013, dá conta de um pagamento de US$ 1 milhão a "MCP". Em um primeiro momento, Eladio confirmou se tratar de mais uma referência a Del Nero, mas depois de um pedido de retificação da própria Procuradoria, a testemunha afirmou que havia se confundido e que a abreviação MCP designava, na verdade, Marcelo Campos Pinto, ex-diretor da Rede Globo.
 
O único documento apresentado ao júri em que aparece referência explícita a Marin é o e-mail enviado por Eladio a ele mesmo, no dia 6 de junho de 2013. Nele o argentino escreveu "pagamento de US$ 3 milhões, referente à Copa America, para ser dividido entre MP e Marin". Mitchell chamou a atenção, no entanto, para outro e-mail, do mesmo dia, escrito quatro minutos depois, em que o mesmo valor é conectado, por Eladio, apenas a Del Nero. Em outro documento da planilha que Eladio guardava como arquivo há uma anotação "ligar para MP (referência a Del Nero, de acordo com Eladio) por conta da Copa America de 2015", sem referências a Marin. Eladio disse, no entanto, que, para ele, "Marin e Del Nero eram uma pessoa só, pois sempre andavam juntos". 
 
O argentino também lembrou que apenas fazia os depósitos, em contas indicadas pelo comando da Torneos, e que não pode provar se as propinas chegaram de fato às contas dos personagens que aparecem como beneficiários, ou se estes dividiram o montante. Perguntado por Mitchell, Eladio confirmou ter dito às autoridades americanas, quando formou um acordo de delação, este ano, que "Marin me parecia uma pessoa distante". Ele também afirmou: "nunca interagi com ele".
 

Outro lado: defesa do Grupo Globo

 
"Sobre a afirmação de uma testemunha no julgamento que acontece em Nova Iorque, de que o ex-diretor do Grupo Globo, Marcelo de Campos Pinto, recebeu em 2013 pagamento de uma empresa do Grupo Torneos  y  Competencias, que atua na área de marketing esportivo, o Grupo Globo esclarece que nunca teve conhecimento de tal pagamento. Caso tal pagamento tenha ocorrido, foi, evidentemente, contrário aos interesses da empresa. O Grupo Globo reafirma que não tolera nem paga propina", disse o departamento de comunicação da empresa.
 

Outro lado: defesa de Del Nero

 
“Com referência à citação feita pelo delator premiado José Eladio Rodriguez na Corte de Justiça do Brooklin, New York, EUA, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, reitera que o depoimento do Sr. José Eladio Rodriguez se mostra contraditório, confuso e inverossímil, eis que afirma sequer saber quem era o presidente da CBF à época dos fatos ou identificar o significado de supostas iniciais lançadas em uma determinada planilha. Reitera definitivamente que não assinou nenhum contrato objeto das investigações seja pela CBF, entidade da qual não era o presidente à época, seja pela Conmebol, onde nunca exerceu nenhum cargo. Por fim, reafirma que nunca participou, direta ou indiretamente, de qualquer irregularidade ao longo de todas atividades de representação que exerce ou tenha exercido”, disse a defesa de Del Nero.
 

Tentativa de desqualificar acordo

 
Antes das revelações a respeito das siglas na planilha da TyC, a defesa de Marin fez Eladio afirmar que, em troca de total imunidade por organizar e depositar as propinas e destruir documentos comprometedores, ele só teve de depor e devolver aos cofres americanos US$ 675 mil, quando mantém, em duas contas na Suíça, em nome dele e dos filhos, "cerca de US$ 5 milhões". Segundo Mitchell, esse recurso "ficará para os seus filhos e sua família". A ideia é tentar desqualificar o acordo feito entre governo e testemunha do caso. 
 

Dia de julgamentos 

 
Os procuradores informaram nesta quinta-feira que pretendem realizar considerações finais do caso até sexta-feira da próxima semana, dia 8 de dezembro. Depois disso, os advogados de defesa dos três acusados poderão iniciar o processo de depoimento das testemunhas com novo prazo estabelecido para a conclusão das declarações.