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Vizinhos em Manchester, Guardiola e Mourinho fogem à regra das mansões

Reuters/Darren Staples
Imagem: Reuters/Darren Staples

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING).

09/12/2017 04h00

Manchester City e Manchester United chegam ao clássico deste domingo no Old Trafford separados por oito pontos na classificação do Campeonato Inglês – o lado azul, ainda invicto após 15 rodadas, ostenta a liderança, enquanto o anfitrião do jogo mais aguardado até agora na temporada inglesa ocupa o segundo lugar. Fora de campo, a distância entre Josep Guardiola e José Mourinho, rivais históricos e símbolos de filosofia de jogo e de personalidade contrastantes, é menor: moram a menos de 500 metros um do outro, um percurso de cinco minutos a pé.

Há um ano e meio em Manchester, ambos optaram por morar no centro da cidade, à beira do Rio Irwell, mas por motivos distintos. No bairro repleto de bares e restaurantes, um deles catalão, Guardiola divide com a família um apartamento em um prédio residencial de alto padrão. As instalações disponibilizam piscina coberta, academia 24 horas, serviço de manobrista, entre outros serviços.

Pep teve Gabriel Jesus como vizinho nos primeiros meses do ex-palmeirense na Inglaterra, mas posteriormente o atacante se mudou para uma residência mais espaçosa a fim de acomodar com mais conforto dois amigos, o irmão mais velho e a mãe, principais companhias longe do Brasil.

Mourinho, por sua vez, mora em uma suíte de luxo do Hotel Lowry, com qualidade cinco estrelas e que servia de espaço de concentração para o elenco do United desde os tempos de Alex Ferguson. O técnico português aboliu a obrigatoriedade da noite de sono pré-jogo no hotel em partidas em Manchester, e atualmente os atletas se apresentam horas antes de a bola rolar para uma refeição e a preleção do treinador.

Se Guardiola fez a opção de viver no centro da cidade para se envolver no dia a dia da cidade, o "Special One" decidiu o sítio pela praticidade de chegar às rodovias e à estação de trem com acesso a Londres, a 340 km de Manchester e onde estão baseados sua esposa e filhos desde os tempos de Chelsea.

“Vivo um pouco isolado da sociedade”, afirmou o treinador do United antes do Dérbi. "Minha rotina é do CT para o hotel. Na minha última folga fui para casa”, contou. “Não tenho comunicação com os torcedores, mas não preciso disso para saber o significado deste jogo para eles", finalizou.

Mourinho e Guardiola cachecol - Alex Livesey/Getty Images - Alex Livesey/Getty Images
Imagem: Alex Livesey/Getty Images

Em outubro de 2016, Mourinho chamou de “desastre” a sua rotina em Manchester pelo seu endereço ser de conhecimento público, o que é um prato cheio para o assédio de paparazzi. “Às vezes quero caminhar, ir até um restaurante e não posso. Mas sei pedir comida pelos aplicativos de celular”, ironizou na época.

Apesar das queixas, uma foto dele está entre tantas de personalidades do futebol que decoram o restaurante italiano San Carlo, situado próximo ao hotel. Guardiola também frequenta o ambiente e tem um retrato seu na parede.

"Ainda não tivemos a possibilidade de nos encontrar em Manchester”, declarou Pep sobre o rival. “E nosso relacionamento está normal”, acrescentou.

A escolha da dupla de viver na região central foge à regra da maioria dos astros do futebol. A preferência dos boleiros costuma ser por bairros mais afastados, onde encontram mansões. A casa de Paul Pogba, estrela do United, é avaliada em R$ 13 milhões. Localizada a 54 km de Manchester, a residência tem cinco suítes e piscina interna. O francês, suspenso do clássico, ainda planeja construir no terreno o que batizou de "Pogbarena", espaço dedicado para receber convidados.

De companheiros a rivais históricos

Os treinadores se conhecem desde o fim dos anos 90, quando o catalão ainda era jogador e referência do Barcelona-ESP, e o português exercia o cargo de auxiliar de Bobby Robson. Pelo clube blaugrana, conquistaram três títulos juntos: Copa do Rei (1997), Supercopa da Espanha (1996) e Supercopa da Europa (1997).

Entre 2010 e 2012, o companheirismo do passado deu lugar a uma das grandes rivalidades entre técnicos nos últimos anos: Guardiola no Barça, e Mourinho no Real Madrid, clubes que simbolizam as duas cidades, de ideologias totalmente opostas do esporte à política. O período ficou conhecido por clima de extrema tensão entre os dois, com trocas públicas de provocações. O cenário atual é muito mais ameno, talvez por não terem disputado troféus como no tempo da Espanha.

Em 2016/17, o Manchester City terminou em terceiro na Premier League, e o Manchester United foi sexto. No cenário europeu, os Citizens participaram da Liga dos Campeões, da qual foram eliminados nas oitavas de final pelo Mônaco-FRA, enquanto os Red Devils conquistaram a Liga Europa sobre o Ajax-HOL.

Guardiola e Mourinho - Chris Brunskill/Getty Images - Chris Brunskill/Getty Images
Imagem: Chris Brunskill/Getty Images

O United até eliminou o rival nas oitavas de final da campanha do título Copa da Liga, mas a pouca relevância do torneio não alterou muito os ânimos. Além desta vez, dois dos treinadores mais renomados do futebol mundial se enfrentaram em outras duas oportunidades desde que desembarcaram em Manchester, ambas pela Premier League. O primeiro reencontro, em setembro de 2016, em Old Trafford, terminou 2 a 1 para os visitantes – foi o último revés em casa na liga nacional do United, que acumula 24 partidas de invencibilidade diante da sua torcida no período, com 14 triunfos.

“Não tenho dúvidas de que o nosso time está melhor em comparação ao ano passado", avaliou Mourinho. "Só que o City também evoluiu desde a última temporada”.

Guardiola diz que não pretende mudar a estratégia que vem sendo adotada ao longo da campanha do líder. “Nosso maior desafio é jogar bem e conseguir fazer o nosso plano de jogo. Gostaria de terminar a partida e chegar ao vestiário tendo feito no Old Trafford o mesmo que apresentamos até agora na temporada”.

O Manchester City está a uma vitória de igualar o recorde de 14 triunfos consecutivos na Premier League, marca que pertence ao Arsenal desde agosto de 2002.

No retrospecto geral, Pep leva vantagem sobre Mourinho: oito vitórias, contra quatro reveses, além de quatro empates.