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Por que um laço amarelo está causando polêmica com Guardiola na Inglaterra

Guardiola, com o polêmico laço amarelo, comemora o gol do City contra o United - Andrew Yates/Reuters
Guardiola, com o polêmico laço amarelo, comemora o gol do City contra o United Imagem: Andrew Yates/Reuters

Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

11/12/2017 04h00

Não é só o futebol ofensivo do Manchester City, com trocas rápidas de passes, lançamentos certeiros e a invencibilidade no Campeonato Inglês, que vem fazendo Josep Guardiola chamar a atenção na Europa. Além de ser um dos grandes responsáveis pela campanha da equipe nesta temporada, o técnico espanhol está sob os holofotes por conta de sua atuação política.

Desde 17 de outubro de 2017, quando o City bateu o Napoli na Liga dos Campeões, o técnico dedicou a vitória por 2 a 1 a Jordi Sánchez e Jordi Cuixart, líderes das duas principais organizações a favor da independência da Catalunha. Um dia antes (16) do jogo válido pelo Grupo F, os dois foram presos preventivamente após incitarem o povo da região a votar por sua independência da Espanha.

"É um bom momento para dedicar a vitória a eles. Não há civilidade maior que as ideias. Os dois sempre fizeram tudo com civilidade, expressando suas ideias, o que queremos”, disse na entrevista coletiva após o fim da partida.

Em defesa da independência

Nascido em Santpedor, cidade catalã que fica a 63 km de Barcelona, Guardiola passou a demonstrar seu apoio aos líderes encarcerados de forma alternativa: com um laço amarelo do lado esquerdo de seu peito, representando a Catalunha.

A 'estreia' do laço de Guardiola aconteceu na vitória por 3 a 2 do City sobre o West Bromwich, em 28 de outubro, pelo Campeonato Inglês. Desde então, o técnico já utilizou o item em outros oito jogos do City, incluindo duas partidas da Liga dos Campeões contra Feyenoord e Shakhtar Donetsk.

O gesto parece simples, mas poderá render punições ao técnico catalão, principalmente na competição continental. Nesta temporada, a Uefa quis punir o Legia Varsóvia por causa de um mosaico erguido pela torcida polonesa que mostrava um soldado nazista com uma arma apontada à cabeça de uma criança. Em anos anteriores, a entidade já multou o Barcelona em várias ocasiões pelas bandeiras da Catalunha que torcida blaugrana costumava levar no Camp Nou com o intuito de pedir a independência da região, que fica no nordeste da Espanha.

Guardiola - Catalunha - Lluis Gene/AFP - Lluis Gene/AFP
Guardiola já participou de atos a favor da independência da Catalunha
Imagem: Lluis Gene/AFP

Embate Guardiola x Mourinho

A polêmica ganhou um novo capítulo no último sábado (9), antes da partida entre Manchester United e Manchester City. Na coletiva pré-jogo, José Mourinho deu uma alfinetada em Guardiola por conta da fita. "Se as regras permitem, ele é um cidadão livre para fazer isso. Mas não tenho certeza se as normas permitem qualquer mensagem política no campo de jogo. Eu acho que não me deixariam fazer algo do tipo. É só isso que eu acho."

Depois do jogo, vencido pelos citizens por 2 a 1 em pleno Old Trafford, Guardiola reiterou seu apoio aos presos políticos. "Se a Uefa, a Fifa ou a Federação Inglesa querem me punir por usar o laço, vão em frente. Mas eles, especialmente os Jordis, estão presos. Eles só pediam para as pessoas votarem, não se esqueçam disso. Eu levo especialmente por duas pessoas que defenderam algo como votar. Para estar na prisão é preciso fazer algo grave, e enquanto estiverem lá terão o meu apoio. Eles estão há mais de 60 dias na cadeia, e isso é injusto."

Nenhuma das três entidades citadas por Guardiola tomaram alguma posição relacionada ao laço, mas as declarações dos técnicos adversários podem fazer as organizações reverem suas posições. Caso punido, o técnico poderia desfalcar o City em algum jogo da fase final da Liga dos Campeões, além de receber uma multa. Mas nem isso possivelmente o fará deixar de apoiar a independência da Catalunha e de seguir pedindo as liberdades dos líderes políticos que representam a região em que ele nasceu.