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Coronel Nunes volta à direção da CBF, mas poder segue com grupo de Del Nero

Coronel Nunes discursa na sede da CBF - YASUYOSHI CHIBA/AFP
Coronel Nunes discursa na sede da CBF Imagem: YASUYOSHI CHIBA/AFP

Do UOL, em São Paulo

15/12/2017 11h37

A suspensão imposta pelo Comitê de Ética da Fifa a Marco Polo Del Nero, nesta sexta-feira, deixa a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) provisoriamente nas mãos do Coronel Nunes. Veterano dirigente e um dos quatro vices da entidade, o presidente da Federação Paraense de Futebol é um conhecido aliado do mandatário punido.

Aos 79 anos, Coronel Nunes assume como presidente em exercício em razão do estatuto da entidade, mudança já oficializada no site oficial da entidade por meio de comunicado. O dirigente já havia ocupado o posto em 2016, durante um período de licença de Del Nero.

"A CBF informa que recebeu nesta sexta-feira (15) a notificação da decisão do Comitê de Ética da Fifa, determinando a suspensão por 90 dias do presidente Marco Polo Del Nero. A entidade informa que, em cumprimento à citada decisão e em linha com seu Estatuto, o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima assume interinamente a Presidência", informou a confederação.

Por estatuto, o presidente da CBF tem direito a indiciar um interino em caso de pedido de licença. Mas, caso seja afastado por qualquer motivo, assume o vice-presidente mais velho. 

Hoje, além de Coronel Nunes, a CBF tem como vice-presidentes Fernando José Macieira Sarney, Gustavo Dantas Feijó e Marcus Antônio Vicente.

Segundo o blog do jornalista Ricardo Perrone no UOL, a punição da Fifa não deve afetar na prática o funcionamento do poder na CBF.

"Del Nero já não precisava da cadeira para dar as cartas quando (José Maria) Marin era o número 1 da confederação. A estrutura montada pelo cartola permite o controle à distância. Coronel Nunes, vice que assumirá o posto, não tem força política para proclamar sua independência. (...) na prática, Rogério Caboclo, diretor-executivo que Del Nero parece preparar para sua sucessão, deve tocar a entidade seguindo os planos do presidente suspenso", explica o Blog do Perrone. 

Manobra para preservar poder

Nunes foi eleito vice-presidente da CBF em 2015, numa escolha vista como manobra para garantir o poder do grupo de Del Nero na entidade. Tudo porque, à época, o vice mais velho era Delfim Peixoto, ex-presidente da Federação Catarinense e então adversário político de Marco Polo – Peixoto foi uma das vítimas fatais do desastre aéreo da Chapecoense no final do ano passado

Coronel Antônio Nunes assistiu ao treino da seleção brasileira - Lucas Figueiredo/Mowa Press - Lucas Figueiredo/Mowa Press
Coronel Nunes em treino da seleção
Imagem: Lucas Figueiredo/Mowa Press

No final de 2015, Del Nero tirou licença da CBF pela primeira vez, indicando como interino Marcus Vicente, então presidente da Federação Capixaba. Mas, ao entender que o substituto estava ganhando liberdade demasiada no posto, o presidente voltou e destituiu Vicente.

Então dias depois a eleição de Nunes foi viabilizada, em substituição a José Maria Marin, desde essa época em prisão domiciliar nos Estados Unidos. Em seguida, com nova licença de Del Nero, o aliado Nunes assumiu a CBF pela primeira vez. 

Em junho passado, Nunes enfrentou um susto na Austrália, durante amistoso da seleção. O dirigente passou mal e foi internado com problemas no coração e pneumonia. Presidente da Federação Paraense desde 1998, o dirigente é um fanático torcedor do Vasco. Também é conhecido por declarações controversas em entrevistas à imprensa.   

Passado ligado à ditadura militar no Pará

O comando do futebol brasileiro já contou com uma série de homens que, de alguma forma, participaram da ditadura militar no país (1964-1985). O novo comandante da CBF engrossa essa lista, com um histórico de serviços ao regime no Pará.

Antes de assumir a Federação Paraense de Futebol, o Coronel Nunes teve uma carreira ascendente na Polícia Militar do estado. O futuro dirigente conseguiu seis promoções ao longo de sua trajetória na força de segurança, sendo quatro delas durante o regime militar.

Comandante da PM em Santarém, Nunes cuidou da manutenção da ordem em uma região estratégica da região Norte, "do Médio e Baixo Amazonas, Alto e Baixo Tapajós, bem como região do Xingu".

Nos anos em que Nunes esteve na PM do Pará, a partir de 1967, a instituição se notabilizou como braço de apoio ao Exército na repressão à guerrilha do Araguaia e outros movimentos de resistência.

Adiante, em 1977, Nunes entrou na última leva de "prefeitos biônicos" da ditadura, sendo escolhido para governar Monte Alegre, sua cidade natal, no oeste do Pará.

Em janeiro de 2016, uma reportagem da "Agência Pública" revelou que, apesar de servir ao regime militar, o Coronel Nunes recebe uma pensão mensal na condição de perseguido político ("vítima de ato de exceção de motivação política"). Mais exatamente, o valor de R$ 14.768, pago pela Força Aérea Brasileira, além de uma quantia retroativa, chancelada por uma decisão do Ministério da Justiça em 2003. 

Fifa afasta Del Nero por 90 dias

Marco Polo Del Nero segue como presidente da CBF - Alan Lima/MoWA Press  - Alan Lima/MoWA Press
Imagem: Alan Lima/MoWA Press

O Comitê de Ética da Fifa suspendeu nesta sexta-feira o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, por 90 dias. A punição pode ser aumentada em 45 dias, conforme investigação da entidade.

Del Nero vem sendo investigado pela Justiça dos Estados Unidos sob a acusação de integrar esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em contratos de transmissões televisivas de competições da América. O dirigente permanece no Brasil. Como não há acordo internacional entre os dois países, o mandatário da CBF não tem participado dos depoimentos aos norte-americanos, em Nova York.

Na última quinta-feira, a defesa do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, acusou Del Nero de ter sido responsável por chefiar os esquemas ilegais envolvendo a CBF.

A versão apresentada pelos advogados de defesa indica que Marin seria o "rei", uma figura apenas decorativa. Por sua vez, Del Nero, que na época era o vice-presidente da entidade, seria na prática o articulador das atividades fraudulentas.