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Del Nero diz que recorrerá e chama ação da Fifa de "graciosas especulações"

Sergio Moraes/Reuters
Imagem: Sergio Moraes/Reuters

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/12/2017 20h03

Suspenso de qualquer atividade relacionada ao futebol pelos próximos 90 dias pelo Comitê de Ética da Fifa, o presidente afastado da CBF Marco Polo Del Nero se manifestou nesta sexta-feira (15) por meio de carta assinada.

O mandatário, suspeito em esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em contratos de transmissões televisivas de competições da América, disse que irá recorrer da decisão e chamou a ação da entidade máxima do futebol de “graciosas especulações investigativas.”

"Meus advogados requererão, no momento processualmente adequado, o arquivamento dessas graciosas especulações investigativas e a adoção das contramedidas cabíveis", afirmou por meio de carta.

Del Nero afirmou que viu como "natural" seu nome ser referido no processo que está sendo julgado nos EUA. "As contratações de que participou a CBF e que se acham sob suspeita e julgamento, são todas anteriores à minha gestão e não foram por mim assinadas", afirmou o mandatário, que assumiu o comando da CBF em 2015, sucedendo José Maria Marin.

No fim da nota, Del Nero lança um desafio à Justiça dos EUA e à Fifa de comprovarem esquemas de corrupção envolvendo o seu nome. "Antes de acusarem a quem nada deve, apresentem provas e documentos que indiquem as contas bancárias, as remessas, o meu envolvimento – direto ou indireto – com empresas investigadas, o recebimento ou o “caminho do dinheiro” já que modernamente nenhum centavo é movimentado sem que fiquem visíveis rastros."

Com o afastamento de Del Nero, a CBF será presidida interinamente por Coronel Nunes. Uma eleição na CBF pode ser marcada a partir de abril de 2018, um ano antes do fim do mandato.

Na quinta-feira, a defesa do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, acusou Del Nero de ter sido responsável por chefiar os esquemas ilegais envolvendo a CBF. Marin seria o "rei", uma figura apenas decorativa, declarou o advogado de Marin. Já Del Nero, que na época era o vice-presidente da CBF, seria o articulador das atividades criminosas.

"Del Nero (vice durante o mandato de Marin) era o herdeiro natural da presidência da CBF, mas ele não esperava a renúncia de Teixeira. Meu cliente podia até ser o presidente, mas não era ele quem mandava. Tanto que quem foi eleito para o comitê executivo da Fifa foi o senhor Del Nero, quando em geral esse cargo é ocupado pelo presidente da federação. Não podia ser mais claro seu papel marginal em tudo isso", argumentou o advogado de Marin, Charles Stillman, ao júri em Nova York.

Durante as últimas semanas, ex-executivos da Traffic e Torneos, que tinham direitos de competições, acusaram Del Nero de receber subornos por contratos. No total, é apontado que o dirigente ganhou US$ 6,5 milhões (R$ 21 milhões na cotação atual) em propinas por acordos da Libertadores e da Copa América. Ele nega as acusações.

Em junho de 2015, sete dirigentes ligados a confederações das Américas foram detidos em hotel na Suíça sob a acusação de integrar esquema criminoso em contratos televisivos. Entre os presos estava José Maria Marin.

Del Nero também estava na Suíça no momento das prisões. O dirigente retornou imediatamente ao Brasil. Desde então, Del Nero não fez mais viagens internacionais, se ausentando de diversos compromissos importantes pela CBF. Del Nero tem evitado até competições dentro do Brasil. Na quarta-feira, ele não compareceu à final da Copa Sul-Americana, no Maracanã, para a decisão entre Flamengo x Independiente.

Leia na íntegra a carta de Marco Polo Del Nero

À vista da decisão de Comitê de Ética da Fifa proferida na data de hoje bem como às últimas notícias divulgadas pela mídia, que se referem ao julgamento do ex-presidente da CBF José Maria Marin na Corte de Justiça do Brooklin, Nova York, EUA, cumpre-me, em respeito à opinião públicas com vistas a restabelecer a verdade, esclarecer que:

1 – Não estou sendo julgado naquela Corte de Justiça americana, eis que os acusados no processo em questão são os senhores Burga, Napout e Marin, ex-dirigentes de entidades internacionais voltadas ao futebol.

2 – Como presidente eleito da CBF e sucessor cronológico de Marin, natural que meu nome pudesse ser referido como representante da entidade nos dias que correm, até como dado de esclarecimento sobre os limites temporais da administração precedente.

3 – Assumi a presidência da CBF em 2015, passando a responder por ela a partir desse momento, início de meu mandato, nada tendo a ver com os contratos por ela celebrados nos anteriores, que são precisamente os que se acham sob investigação da Justiça americana e na Fifa.

4 – No julgamento em curso na jurisdição norte-americana não surgiu – mesmo porque nunca existiu – dado concreto e documental de qualquer recebimento de vantagens ilícitas de minha parte, embora os investigadores do FBI – mundialmente reconhecidos com os mais capacitados do Planeta – tenham realizado uma completa devassa em minha vida econômica, fiscal e bancária. Nenhum centavo de real, euro ou dólar foi encontrado como a mim destinado, tampouco contas bancárias ocultas ou estruturas secretas, contrariamente ao que se constatou em relação a outros acusados.

5 – As contratações de que participou a CBF e que se acham sob suspeita e julgamento, SÃO TODAS ANTERIORES À MINHA GESTÃO E NÃO FORAM POR MIM ASSINADAS.

6 – A tentativa de réus e delatores se livrarem de acusações que lhe são dirigidas através do expediente corriqueiro de atribuir a terceiros inocentes a prática da infração em troca de benesses processuais é comum nos tribunais e não pode ser aceita como verdade absoluta.

7 – Fica lançado aqui o repto para que qualquer pessoa, entidade, órgão de imprensa, instituição ou investigador, nacional ou estrangeiro, aponte e comprove a existência de conta bancária, fluxo financeiro ou dado contábil que espelhe qualquer recebimento de vantagens indevidas de minha parte.

8 – Meus advogados requererão, no momento processualmente adequado, o arquivamento dessas graciosas especulações investigativas e a adoção das contramedidas cabíveis.

9 – Em suma, como nada de irregular pratiquei e, por isso mesmo, não posso aceitar o enxovalhamento de minha honorabilidade, manifesto aqui o meu enfático repúdio à essas leviandades acusatórias e renovo o desafio: antes de acusarem a quem nada deve, apresentem provas e documentos que indiquem as contas bancárias, as remessas, o meu envolvimento – direto ou indireto – com empresas investigadas, o recebimento ou o “caminho do dinheiro” já que modernamente nenhum centavo é movimentado sem que fiquem visíveis rastros... ou então, que se insinuem maldades contra quem nada de ilícito praticou.