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Até a pé ou de turbante. Torcida vai às lágrimas, mas não larga o Grêmio

Luiza Oliveira

Do UOL, em Abu Dhabi (Emirados Árabes)

16/12/2017 16h58

Eles honraram a palavra e fizeram jus ao que sempre cantaram. No distante deserto dos Emirados, a 13 mil km de casa, vieram de todos os jeitos. A pé como manda a tradição, de bicicleta, de jipe, de avião. Não importa como, lá estavam eles. Não importa se contra o poderoso Real Madrid de Cristiano Ronaldo.

Desde a chegada do Grêmio a Al Ain, onde disputou a semifinal, já pareciam ser de casas. Tiraram o turbante da mala e invadiram a Arábia em quase 8 mil corações que, não satisfeitos em conquistar a América, queriam conquistar o mundo.

Não foi fácil chegar. O título da Libertadores a poucos dias do início do Mundial tornou tudo mais difícil. As passagens estavam caras e até o visto seria difícil tirar a tempo. Mas eles se viraram. Alguns, acreditavam tanto na equipe que compararam as passagens antes mesmo das finais. Essa confiança toda só pode ter dedo de Renato Gaúcho.

Eles sabiam que seria sofrido. Se contra o Pachuca já foi difícil, contra o Real a tarefa era muito mais ingrata. Renato pode até ser melhor que Cristiano Ronaldo. Mas Renato não está mais em campo, Cristiano sim.

E lá estava ele. O melhor do mundo teve dificuldades no primeiro tempo diante da monstra dupla de zaga Geromel e Kannemann que desarmou até pensamento. E não estavam sozinhos. Nas arquibancadas, lá estavam outros 8 mil terceiros zagueiros prontos para darem carrinho no ganhador da bola de ouro 5 vezes a qualquer hora.

E deram. Às vezes até aquele carrinho desleal. Aos 30 minutos do primeiro tempo, Cristiano Ronaldo foi cobrar uma falta bem ao seu estilo, cheio de vaidade. A torcida não perdoou e soltou um grito feio de ‘bicha’.

Os seus ela seguia apoiando. Lá atrás, a cada passe do ‘Geromito’ ou do xerife Kannemann representava um grito de gol. Aos 33, a defesa parou a boa jogada de Carvajal e a torcida se animou em alto e bom som: ‘Vamo, vamo, tricorlor’.

O duelo equilibrado deu esperanças no segundo tempo. Mas os tricolores tinham o Real Madrid como adversário não só nas quatro linhas, mas também nas arquibancadas. A grande maioria de torcedores presentes no estádio Zayed Sports City torcia para o inimigo.

Não que tantos merengues tenham cruzado a Europa para chegar até a Arábia. Foram os torcedores locais que se uniram ao mais famoso e poderoso time em campo para apoiá-lo. Se era um duelo de Davi x Golias nas quatro linhas, fora dele não era diferente.

Mas assim como seus guerreiros em campo, eles seguiam lutando. E foi no segundo tempo, depois do gol de falta de Cristiano Ronaldo aos 8 minutos, que eles deram a maior demonstração de amor. Mal se percebeu a comemoração madrilena diante do ‘Grêmiooo’.

E até o fim do jogo foi assim. Salvo raros momentos em que os locais se admiravam com os galácticos, lá estavam eles com o seu uníssono grito ‘Grêmioooo’. O apito final uma hora chegaria e o choro foi inevitável. As lágrimas azuis, pretas e brancas tomaram conta do estádio. É triste perder um Mundial. Mais que a tristeza só o orgulho dos guerreiros que caíram de pé e voltarão de cabeça erguida para o Brasil.