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Palmeirense na infância, Geromel quase largou futebol para virar bancário

Lucas Uebel/Grêmio
Imagem: Lucas Uebel/Grêmio

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

19/12/2017 04h00

O zagueiro Pedro Geromel foi o grande destaque do Grêmio na derrota para o Real Madrid, no Mundial de Clubes. Mas pouca gente sabe que o homem que levantou a terceira Taça Libertadores tricolor era palmeirense na infância e quase desistiu do futebol precocemente para virar bancário.

Em um bar na zona norte de São Paulo, os amigos mais próximos do capitão gremista se reuniram para torcer pelo vizinho querido.

Filho de uma família de classe média, Geromel sempre teve o futebol como pilar de sua vida desde a infância, quando participava de campeonatos escolares. Por influência de tios e primos, escolheu o Palmeiras como time do coração. Não foi uma escolha totalmente natural, já que dentro de casa a paixão clubística sempre foi dividida: seu pai, Valmir, é corintiano roxo, ao passo que o irmão Ricardo é são-paulino.

Mas Pedro (ou Pê, ou Narigudo, ou Agostinho Carrara, como seus amigos o chamam) se acostumou a ir ao Parque Antártica e ao Pacaembu para ver o Palmeiras jogar, conforme lembra um de seus amigos palestrinos, Filipe Belluzzo, com quem o hoje zagueiro gremista dividiu arquibancada em finais de campeonatos.

Faixa Geromel - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

“O pai dele diz que um dia os dois estavam vendo um jogo do Palmeiras na TV”, conta Belluzzo, “e o Palmeiras tomou um gol. O Pedro, que tinha uns 10 anos, se irritou, desligou a TV e disse: ‘Se você não é palmeirense não pode ver jogo do Palmeiras’.”

O são-paulino Rafael Mielle lembra de um artifício curioso para ajudar Geromel a ver os jogos na época em que o zagueiro tentava a vida na Europa: “Eu já transmiti um São Paulo x Palmeiras pelo MSN porque ele não conseguia acompanhar de lá. Apontava a webcam do computador para a TV e a gente assistia o jogo juntos, eu torcendo pelo São Paulo e ele pelo Palmeiras.”

Geromel também nutria simpatia pela Portuguesa, cujo estádio fica próximo da Vila Maria, na zona norte de São Paulo, onde o zagueiro cresceu. Mesmo quando já não morava mais na capital paulista, o jogador sempre ia ao Canindé ver a equipe rubro-verde, ao lado de Rodrigo Babu, outro de seus amigos de infância e que também era jogador de futebol.

Frustração no Palmeiras ameaçou sonho de boleiro

Portuguesa e Palmeiras, aliás, foram dois times pelos quais Geromel atuou na época da base. Da Portuguesa saiu após deslocar o fêmur durante um jogo. Do Palmeiras acabou sendo liberado por não ter muitas oportunidades de jogar em partidas importantes. A frustração por não conseguir se firmar no Palmeiras coincidiu com o fim do colegial, e o zagueiro encarou um dilema comum na vida de muitos jovens atletas: seguir o sonho de se profissionalizar no futebol ou seguir uma carreira tradicional.

Seu pai, dono de uma empresa bem estruturada na capital paulista, lhe ofereceu a oportunidade de trabalhar em um banco. Geromel cogitou largar o futebol para virar um “menor aprendiz”. Por pouco o atual capitão do Grêmio não se tornou um bancário.

Resolveu dar mais uma chance ao sonho e foi tentar a sorte em uma equipe de Jales, uma cidade de 50 mil habitantes no interior paulista, onde jogou por alguns meses.

Até que um tio de Rodrigo Babu, que era presidente do clube português Chaves, então na segunda divisão, convidou os dois garotos a se aventurar na Europa.

O auge de Geromel aconteceu tardiamente

Em Portugal, morando sozinho e sem conseguir criar vínculos com seus companheiros de clube, Geromel cogitou mais uma vez voltar ao Brasil e desistir da carreira na bola. Em uma conversa com seu pai, ouviu que seria recebido em São Paulo de braços abertos, desde que nunca mais pensasse em voltar a jogar.

Mas atendeu ao apelo de alguns amigos e resolver permanecer em Portugal. Logo se destacou, ganhou prêmios individuais e finalmente deu certo como jogador, embora nunca tenha sido muito conhecido no Brasil. Foi jogar na Alemanha e na Espanha. Quando estava emprestado ao Grêmio (aonde chegou questionado e sob desconfiança), seu amigo Elias, então no Corinthians, tentou levá-lo ao Parque São Jorge.

“O Corinthians queria um zagueiro e eu falei que poderia convencer o Geromel a vir”, disse o volante, hoje no Atlético-MG, enquanto participava de um churrasco em homenagem ao amigo na zona norte de São Paulo. “Ele estava emprestado ao Grêmio, mas disse que preferia ficar lá porque tinham o interesse de acertar com ele.” A amizade entre os dois vizinhos nasceu nos tempos das peladas no bairro e até hoje eles se frequentam.

Palmeiras de Alexandre Mattos ouviu não

O Palmeiras tentou ter de volta o zagueiro. Logo que o diretor Alexandre Mattos começou a adotar uma postura agressiva de contratações, Geromel foi procurado, mas recusou o contrato em nome de sua permanência no Grêmio. “Ele não quis nem ouvir de quanto era a proposta”, conta Babu. “Como ele tinha dado a palavra de que renovaria com Grêmio, nem cogitou sair. O Mattos disse que já o admirava como jogador, mas a partir daquele momento também passava a admirá-lo como homem.”

Segundo seus amigos, o capitão gremista não pensa em deixar Porto Alegre no futuro próximo. Na capital gaúcha, ele é respeitado, além de seus filhos e mulher se sentirem adaptados à rotina da cidade. Ele também diz gostar de poder voltar para casa nas férias e andar confortavelmente pelas ruas de São Paulo sem ser assediado por torcedores rivais ou pela imprensa, o que poderia acontecer caso ele jogasse por um time da capital paulista.

Sua boa atuação na final do Mundial deve aumentar ainda mais o prestígio do homem que levantou a terceira Taça Libertadores pelo Grêmio. E agora ele aparece como o favorito para assumir a quarta vaga de zagueiro na seleção brasileira. Pode ir a uma Copa do Mundo pela primeira vez aos 32 anos.