Topo

Aliado de Roberto, dono da Kalunga diz que Corinthians perdeu credibilidade

Paulo Garcia (centro) é candidato a presidente com Flávio Adauto e Emerson Piovesan  - Divulgação
Paulo Garcia (centro) é candidato a presidente com Flávio Adauto e Emerson Piovesan Imagem: Divulgação

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

09/01/2018 04h00

"Você não pode ser 'o quanto pior melhor'".

A frase acima, repetida pelo candidato Paulo Garcia duas vezes em entrevista ao UOL Esporte, explica um pouco de sua atuação política no Corinthians. Há três anos, ele retirou a candidatura na semana do pleito para apoiar o opositor Roque Citadini. Antes, suas empresas haviam sido as principais doadoras para a campanha de Andrés Sanchez a deputado federal. Sanchez, hoje rival à presidência corintiana, é adversário político de Garcia, mas também chamado por ele de amigo.

Esse estilo conciliador do dono do grupo Kalunga, um dos cinco candidatos atuais, também ajudou Roberto de Andrade, justamente o candidato a vencer Citadini em 2015. Para se livrar do impeachment, Roberto levou Garcia para dentro de sua administração e colocou uma série de pessoas de seu grupo político em cargos-chave. Se iniciou a gestão com Andrés como seu padrinho, Andrade conclui no dia 3 de fevereiro com Paulo como principal aliado.

Apesar dessa proximidade, Garcia não se furtou a comentar a situação do clube, que segundo ele carece de credibilidade e precisa ter marcas mais importantes associadas. Paulo, o quinto candidato entrevistado pelo UOL, ainda respondeu perguntas sobre o irmão Fernando, empresário de diversos jogadores no Corinthians e que, segundo ele, não terá mais negócios caso vença a eleição.

Confira as principais respostas de Paulo Garcia, candidato a presidente do Corinthians:

Paulo ajudou a salvar presidente do impeachment

Desde a época do Dualib e do Andrés, nunca fomos oposição. Somos independentes e apoiamos o melhor para o clube. Um grupo queria o impeachment do Roberto e não achamos justo. Essas bagunças, politicamente, atrapalham. Era exclusivamente político.

(...) Me pediram apoio (Roberto e diretoria) em cima do que acontecia (impeachment) e eu falei que não tinha nada contra. Me perguntaram o que ocorria e falei (presidente) "não frequenta o clube", não tem conversa com ninguém. Falei "dizem que o Andrés manda no futebol", mas ele jura que não. Eu mesmo falei para o Andrés ser vice de futebol e ele não quis. O clube estava acéfalo. Ele (Roberto) me ofereceu a vice-presidência e eu disse: "Não, vão falar que fiz conchavo". Fica ruim para as duas partes.

Depois, remontou diretoria com Roberto de Andrade

Conversando, me pediram opinião e falei: "Adauto (diretor de futebol) é um cara íntegro", conhece o clube há muitos anos, se dá bem a imprensa, é um bom nome. Passados uns dias, já tinha o Emerson (Piovesan, diretor financeiro) desde o início e ele (Roberto) me falou "Rachid entende bem do clube, se eu falar com ele você apoia"? E eu falei que ele faria o que fosse para o bem do clube e ajudou na questão do impeachment.

NR.: Diversos membros do grupo de Garcia fazem ou fizeram parte da administração de Roberto no último ano. O diretor de futebol Flávio Adauto, o secretário geral Antônio Rachid, o diretor de marketing Fernando Sales e o diretor financeiro Emerson Piovesan, presente desde o começo da gestão.

Primeiro, a receita, depois o investimento

Tem de ter um planejamento de dez anos, seguindo metas. No transcurso, tem planos econômicos, vai adaptando. Um clube como o Corinthians, você faz um estudo para ver o que é viável, o que vai agregar. Faz um plano diretor, aprova no Conselho, muitos dão palpite porque tem que escutar as pessoas. Não pode acontecer e não é só no Corinthians, é em vários clubes, onde o cara gasta e depois corre atrás da receita. Tem que fazer com aquilo que você tem. Se não é assim, pega qualquer patrocinador, vai cair em banco...

Família já se opôs à candidatura de Paulo

Minha família não tem nada contra. Pelo contrário, faço o que quiser. Por alguns deles, por meus filhos, acham que é um desgaste muito grande e não tem necessidade. A minha saúde graças a Deus está ótima, estou bem. Se colocam situações....se perguntar ao meu irmão Beto, ele é contra, mas vai dizer "o problema é dele". Ele não gostaria porque você vai se expor, vai ser sofrido, tem gente que só quer criticar.

Andrés é aliado ou adversário?

É meu amigo. Tenho bom relacionamento com ele. Nunca critiquei, se puder ajudar eu ajudo. Me dou bem com ele. Administrativamente, penso de uma forma e ele de outra. Algumas coisas batem, mas sei que não dá certo. Não tem problema nenhum de me assemelhar a ele. O Emerson e o Flávio pensam da mesma forma. Se não for assim, dá desgaste, não dá certo.

Sem dinheiro próprio no clube

Primeiro, o estatuto não permite. Mas seria incapacidade muito grande o Corinthians precisar de doação. Tem marca forte, torcida muito grande, de 30 milhões de pessoas. Em quantitativo, o Corinthians é o maior do torcedor menos favorecido ao mais favorecido.

Se arrepende de doações para campanha de Andrés?

Faria novamente, não tem nada a ver. Fizemos para vários e só não faço mais porque a lei proíbe. Sempre fizemos doações. Wadih Helu foi um dos maiores adversários políticos que tivemos e fizemos doações sempre. Não pode misturar amizade com teu pensamento em termos de clube.

Como lidar com jogadores ligados ao irmão?

Cumprir os contratos. Os jogadores são ativos do clube. Tem que cumprir os contratos e desvincular. Se falar que vai de imediato fazer alguma coisa, vai desvalorizar o atleta e o clube vai perder dinheiro. O nepotismo nunca foi aceito e gera desconfiança. Não tenho necessidade de correr riscos. Fernando é íntegro, conheço a índole dele antes de nascer e pode puxar uma ficha dele que não tem nada que desabone. O futebol deu desgaste para ele.

NR.: Paulo assegura que o irmão Fernando não terá negócios no Corinthians caso ele seja presidente.

O que faria no caso Malcom?

Não participei desse processo. O Tite era o técnico. Não participei do processo, não sei como foram feitos os contratos. Se é feito de uma forma, tem que honrar os contratos. Eu não posso dizer o que eu faria, se o Corinthians precisava abrir mão. Se o atleta quer ir embora, é complicado. Tem que conversar e tem pessoas que aceitam e outras que não aceitam. Se não aceitam, fica difícil segurar o atleta.

NR.: Nesse caso, o irmão de Paulo foi acusado publicamente pelo treinador Tite de fazer pressão pela venda do jovem ao Bordeaux. O gerente de futebol Alessandro também se manifestou contrário à venda realizada por Roberto de Andrade.

Como equacionar a dívida do estádio?*

Ele (Emerson Piovesan) saiu fora do negócio porque não competia mais a ele. Teve um dissabor com a Caixa e com a Odebrecht. Houve situações que o Emerson não concordava e levou ao Conselho. Eu não conheço o contrato na íntegra. O Andrés precisa estar junto porque é quem conhece de tudo. Não tenho acesso aos contratos, como foi feito. Assim como não tenho da Nike, da Globo, não adianta especular como fazem outros candidatos. A lei foi feita para ser cumprida, tem que negociar e ver se vai entrar na Justiça ou não. Isso, somente se esgotar toda a chance de acordo, que seja viável.

NR.: Piovesan foi responsável pela parte financeira do estádio durante a gestão Roberto.

É favorável à saída da Odebrecht?

Eu não sei. Como não participei, não tomei ciência de nada, falar em tese é bobagem. É desgaste. Foram feitas comissões, o Roque (Citadini) participou de duas e não sei o que acabou acontecendo. Tem que sentar na cadeira, vai precisar 90 dias para fazer uma inteligência em cima disso, se colocar a par de uma carência para ver o que vai fazer. Fora isso, é difícil.

Papéis dos vices

Emerson na parte financeira, o Flávio no futebol. Dar uma continuidade ao trabalho que vem sendo feito para se envolver dentro de uma lógica. No futebol, tem que conversar com a comissão, fazer uma reunião e no melhor dos mundos ter jogadores do melhor nível, adaptados ao clube.

Situação financeira e falta de credibilidade

Não tenho ideia, não. Não sei o planejamento futuro do clube, o que tem comprometido em dívidas. O Emerson não sabe tudo. O negócio da Arena consome dinheiro, de certa forma. O Corinthians vai sofrer no início desse planejamento. Na grande realidade, o "impeachment do Roberto", "fulano é ladrão", isso é prejudicial ao clube. Ninguém quer agregar sua marca a uma coisa questionada.

Conversando com Fernando (Sales, diretor de marketing) por várias vezes, muita gente (parceiros) quer entrar, mas se criam esses fatos, os bancos veem o clube quebrado, patrocinador fica mais difícil. Temos que resgatar a credibilidade, ter credibilidade em quem entra. Essa situação espanta qualquer um. Se tivesse uma empresa, você colocaria dinheiro (no Corinthians)? É muita coisa que acaba desmoralizando, é fraude no balanço, é coisa desse nível. Quem é do bem, vamos dizer assim, não quer se misturar com o mal.

Corinthians precisa de marcas melhores

Não quero citar marcas. Por exemplo, a HP só entra em mídias do lado de empresas que são líderes de mercado. Se tiver uma marca que não seja conhecida e do mesmo potencial, ela não entra. Isso se chama adequação da marca. Não faz eventos pequenos, um executivo não anda na classe econômica, só se hospeda em hotel cinco estrelas...ele não vai se nivelar por baixo.

Sem caça às bruxas

O pessoal fala em mandar todo mundo embora. Na Arena, fico com Lúcio (Blanco, gerente) na hora. É super competente, idôneo. A Nancy, (secretária) que trabalha no clube, querem mandar embora. Ninguém está lá para namorar, está para trabalhar. Não pode ameaçar pessoas. É muito despreparo. Vai mandar embora só quem não trabalha, não tem metodologia. Tem empresas terceirizadas de segurança e limpeza que a gente vai rever, tem valores que de repente podem estar dentro do custo ou estarem mais altos porque o clube não tem expertise nisso. O mais barato não é nunca o ideal, é custo-benefício.

Projeto para 3ª idade no clube

Não custa nada pegar no clube hoje, porque tem muitos sócios, e fazer hidroginástica, ter um turismo para eles, uma excursão, ter um lugar para dançar, para jogar baralho. Tem que ter cuidadores para aproveitar o pessoal que fica em casa o dia todo porque não tem amigos. Ele traz filhos, netos...o clube tem que ser de família, com atividades esportivas, spa para as mulheres...o Corinthians tem que voltar a ser clube de família. Isso não custa nada.

Quer recrutar ex-jogadores

Se você vai em um Bayern de Munique, no Barcelona, em um centro de treinamento, você não vê só um time de futebol. Ex-jogadores fizeram cursos e são aproveitados. Não em administração em si, mas no futebol. Hoje, o ex-atleta no clube parece leproso porque ninguém recebe, todos fogem. Tem que ter uma sede para eles irem no dia do aniversário, para fazer um tour na Arena, dar entrevistas, relembrar os velhos tempos...aqui, o ex-jogador é descartado. Podem ser olheiros, podem ir a aniversários de cidades...