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Atuação de gala de Neymar vira pano de fundo em briga com torcida

Christophe Simon/AFP
Imagem: Christophe Simon/AFP

João Henrique Marques

Do UOL, em Paris (França)

18/01/2018 04h00Atualizada em 18/01/2018 10h36

A cena é insólita. Após marcar quatro gols e ainda colaborar com duas assistências na goleada do Paris Saint-Germain por 8 a 0 diante do Dijon, pelo Campeonato Francês, Neymar tem pressa, deixa o campo no Parque dos Príncipes com a bola do jogo e o troféu de melhor da partida nos braços. A atitude é para evitar o contato com a torcida na tradicional comemoração em conjunto. Assim, a rixa criada entre os fãs do clube e o brasileiro foi escancarada.

A atuação de gala do camisa 10 virou pano de fundo de um duelo marcado por vaiais ao jogador e até a não-comemoração de parte da torcida em um dos seus gols. Isso, pois o brasileiro ignorou os gritos de “Cavani, Cavani” como pedido para que o uruguaio fosse o responsável por uma cobrança de pênalti. Se tivesse efetuado a cobrança e convertido, o uruguaio chegaria viraria o maior artilheiro da história do PSG, ultrapassando Zlatan Ibrahimovic com 157 gols marcados com a camisa do time parisiense.

A relação do brasileiro com a torcida do PSG é de altos e baixos. Os gritos de apoio e aplausos, Neymar tem em todos os jogos do time no estádio. No entanto, o problema criado com Cavani por conta dos pênaltis deixou um ranço em muitos fãs.

A cada pênalti marcado para o PSG no Parque dos Príncipes, Neymar ouve milhares de pedidos pela cobrança do uruguaio. O atendido, em vitória contra o Troyes por 3 a 1, em dezembro, foi agraciado com uma salva de palmas – na ocasião, Cavani desperdiçou a cobrança.

Neymar e Cavani contra o Dijon - Jack Chan/Xinhua - Jack Chan/Xinhua
Imagem: Jack Chan/Xinhua

Diante do Dijon, Neymar ouviu até mesmo pedidos da torcida para que Cavani cobrasse uma falta no começo do segundo tempo – o brasileiro já havia feito gol de falta no primeiro tempo. O desejo da torcida foi atendido, mas o gesto dá o tom da pressão com a qual o brasileiro convive.

“O público paga a entrada e é soberano, decide o que fazer em cada momento. Mas, claro, é melhor que o público apoie os dois jogadores e não se ponha a favor de um ou de outro", comentou o lateral esquerdo Yuri Berchiche.

A disputa pelas cobranças de pênaltis teve Neymar como vencedor por determinação do treinador Unai Emery. Mas, durante o suspense, o jornal esportivo francês "L’Equipe" trouxe em uma pesquisa o uruguaio como o preferido da torcida pelo posto com 65%. Neymar ficou com os 35% restantes. O atrito com o centroavante ainda proporcionou pesadas críticas da imprensa local. O jornal “Le Parisien” exibiu reportagem de capa intitulada “a face oculta de Neymar”.

O jornal uruguaio “Ovación” teceu duras críticas a Neymar. Na visão da publicação, o brasileiro teve uma atitude egoísta ao optar por bater o pênalti ao invés de deixar para Cavani, que poderia se transformar no maior artilheiro da história do PSG.

“Neymar, como bom ególatra que é, não teve a atitude esperada e preferiu fazer seu quarto gol. Pegou a bola e com certeza estará um gol mais perto de um dia bater Cavani como maior artilheiro do PSG. Os 222 milhões de euros que ele custou não o vão transformar em ídolo (do PSG), como Cavani é por sua humildade e sacrifício”.

Abalado, Neymar se negou a dar entrevistas após a incrível atuação contra o Dijon. O relacionamento ruim está longe de ser contornado. Aparentemente, gols não bastam para que o camisa 10 vire unanimidade no PSG.

“Esse gesto é uma pena e um pouco ingrato (a vaia). Como eu disse antes ele fez quatro gols e deu duas assistências e Cavani é da casa, já faz alguns anos que está aqui e sempre tem uma atitude correta com o clube e os torcedores, além de ser um excelente jogador. Ele é muito querido. Neymar poderia ter dado a bola, seria um gesto de fair play, mas no papel é Neymar quem deve bater os pênaltis e tem essa responsabilidade”, destacou o lateral direito Thomas Meunier.

Na manhã desta quinta-feira (18), Neymar postou uma imagem com um trecho da Bíblia em seu Instagram. "Eu me deito e durmo, e torno a acordar, porque é o Senhor que me sustém”.