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De criticado a xodó: Romero usa clássicos e muda status no Corinthians

Romero versão 2018: personalidade, unanimidade e paz com a imprensa - Marcello Zambrana/AGIF
Romero versão 2018: personalidade, unanimidade e paz com a imprensa Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

26/01/2018 04h00

O aceno vindo do banco de reservas do Corinthians, seguido da resposta rápida do camisa 11 à beira do campo, mexeu com a torcida no Pacaembu. Num grito uníssono, espectadores de todos os setores do estádio prontamente vibraram com a decisão de Fábio Carille. Romero entraria em campo dali a instantes para ajudar o time alvinegro a virar o jogo contra a Ferroviária, na última quarta.

A cena pode parecer comum, mas diz muito. Até porque essa reação dos corintianos não aconteceu nos momentos em que Jadson e Clayson entraram no gramado, minutos antes de Romero. A atitude mostra como o atacante paraguaio superou a desconfiança de outrora para virar um dos protagonistas do Corinthians.

A reação empolgada da torcida ocorreu, coincidentemente, a três dias do clássico com o São Paulo, tipo de duelo em que Romero quase sempre se destaca. Nos confrontos com os principais rivais do Corinthians, o atacante paraguaio provou que é muito mais que entrega em campo, carrinho no meio-campo e combate até a linha de fundo. Os números e as atitudes em campo mostram o quanto ele é decisivo.

No ano passado, por exemplo, o camisa 11 corintiano foi às redes contra São Paulo, Santos e Palmeiras na campanha do título brasileiro. A relação entre ele e os clássicos é tão intensa que o jejum de quase cinco meses sem gols vivido em 2017 teve o pontapé inicial contra o São Paulo e o capítulo derradeiro diante o Palmeiras. Em lances isolados, ainda mostrou o amadurecimento conquistado como atleta do clube.

Romero 2 - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Romero foi decisivo contra o Palmeiras no jogo que encaminhou o título brasileiro
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

O próprio Romero reconhece que confrontos com os rivais estão em outro patamar. "Clássico é diferente, sempre tento fazer o melhor. Tem de deixar tudo no clássico, é um jogo à parte, é especial. Fazer gol em clássico sempre é bom", disse Romero pouco depois de ser ovacionado por 22 mil torcedores no Pacaembu.

Tempos difíceis e saudade do irmão

Quem vê Romero hoje em campo, e até mesmo fora dele, com uma personalidade que salta aos olhos, até se esquece do caminho tortuoso que o paraguaio precisou percorrer até a estabilidade como titular da equipe alvinegra.

Romero chegou ao Corinthians em junho de 2014 depois de se destacar no Cerro Porteño, clube que o revelou. Aos 21 anos, o jogador assinou em contrato de cinco temporadas com o Corinthians e conseguiu certo destaque nos primeiros jogos, ainda sob o comando de Mano Menezes.

A boa impressão foi tanta que Romero foi titular no clássico com o Palmeiras, ainda no quarto jogo com a camisa do Corinthians. Na ocasião, deu lugar a Romarinho na reta final da vitória corintiana por 2 a 0 em Itaquera.


O bom começo e a realização do sonho de atuar no Brasil, porém, contrastavam com a complicada adaptação à cidade de São Paulo. Sozinho, ainda sem a noiva, Romero considerava que a chegada do irmão gêmeo, Óscar, que hoje atua no futebol chinês, facilitaria o processo.

"Ele chegou tímido por ser um grande clube. Era muito reservado e sério, mas sempre foi muito profissional. Aos poucos foi se soltando. Tive uma conversa com ele no começo. Ele deixou claro que iria superar os obstáculos e que seria um grande jogador, que seria ídolo", ressaltou Ximenes, que foi responsável pela contratação do atacante.

Romero, contudo, ainda precisaria lidar com as más atuações e a desconfiança de parte da torcida. No começo de 2015, já com Tite à frente do Corinthians, ele enfrentou a forte concorrência no ataque, que ainda tinha Guerrero e Vagner Love. À época, o jogador chegou a ser testado como centroavante.

Romero - Divulgação - Divulgação
Romero chegou ao Corinthians em 2014
Imagem: Divulgação

Ximenes lembra que, apesar disso, Romero conseguiu lidar bem com a situação. "Ele reagia bem, sempre reagiu bem. Ele sempre acreditou muito nele, por isso que ele conseguiu superar as críticas da torcida e da imprensa. Ele tem uma autoconfiança muito grande", contou.

A matada e a selfie

Titular do Corinthians a partir da chegada de Fábio Carille ao comando do time, Romero conseguiu mudar o status no Corinthians. Intocável após as campanhas dos títulos paulista e brasileiro, o atacante roubou a cena jogos cruciais da temporada 2017.


No clássico com o São Paulo válido pelo Brasileirão, em junho passado, Romero abriu o placar no triunfo por 3 a 2 em Itaquera e ainda protagonizou um lance memorável. Dias antes, havia sido protagonista de uma reportagem da Rede Globo que o mostrava errando um domínio. No jogo, deu a resposta. Com a bola espirrada e jogada para o alto, Romero a colocou no chão com um toque leve. Para delírio dos torcedores, ainda fingiu que pegaria a bola com as mãos.


Diante do Palmeiras, já em novembro, no clássico que encaminhou o título nacional, Romero voltou a marcar o primeiro gol corintiano. Na comemoração, sem timidez alguma, pegou um celular e, ao lado dos companheiros, tirou a foto mais marcante da temporada corintiana.

No último dia 18, Romero quebrou o silêncio com a imprensa depois de oito meses. Na primeira entrevista, disse que voltaria a tirar uma selfie no gramado após um gol. O paraguaio que adora clássicos terá a chance de reeditar a comemoração justamente no clássico deste sábado.