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Agora dirigente do SP, Lugano cita desafios e começa a estudar português

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

30/01/2018 15h15

Sai o zagueiro vencedor, entra o dirigente com absoluta ligação com o São Paulo. Diego Lugano foi apresentado nesta terça-feira como superintendente relações institucionais do clube. Na primeira entrevista na nova função, o ídolo são-paulino falou dos desafios na nova função, revelou que voltou a estudar português e citou duas inspirações: o espanhol Emílio Butragueño, que desempenha a mesma função no Real Madrid, e o ex-lateral Roberto Carlos, também ligado ao time espanhol.

"Estou muito orgulhoso e feliz pela oportunidade do São Paulo. Vou reiniciar minha vida dentro do futebol. É um passo transcendental. A exigência e confiança do São Paulo me alegram", disse o Lugano, que ressaltou a forte ligação com o clube tricolor.

"Essa ligação com o São Paulo acontece há 16 anos quando cheguei e tivemos um vínculo muito especial, além da bola, de ganhar ou perder, jogar bem ou mal. Compartilhamos valores, princípios, de como enxergar o futebol e a instituição como um todo, o que deveria oferecer ao torcedor e à sociedade, algo muito mais profundo, do que um simples resultado esportivo", completou.

O novo diretor falou sobre os desafios no cargo diretivo. Para ele, o maior deles é unir a experiência como jogador com a visão institucional.

"São ações diárias pequenas no dia a dia para transmitir os exemplos. Cada dia é mais difícil gerir futebol. Cada jogador é uma empresa que movimenta muita gente interessada, que não estão dentro do clube, com valores de mercado para o mundo real totalmente exorbitantes. Esses atletas são muito novos. É uma missão quase impossível. Cada jogador com sua influência, boas e ruins, origens diferentes. Foi o que fizemos toda a vida: gerindo grupos no vestiário. Por isso é o diferencial dos ex-jogadores nessa função: a vivência de quase duas décadas. Isso não se estuda, nem se aprende. Isso se vive. Porém, temos muito para aprender, visualizar o macro institucional. Esse é o maior desafio. Unir experiência como jogador e agora a visão institucional", ressaltou.

O ex-jogador brincou ao falar sobre a comunicação com os atletas e outros dirigentes. Por isso, começou a estudar português. "Com tantos gringos aqui nos últimos anos, meu portunhol ficou mais forte. Vou ter de ter melhorar muito mesmo, não tem jeito", disse.

Lugano citou alguns exemplos para seguir nessa nova função. Além de lembrar alguns nomes que o inspiram, o uruguaio ressaltou a identificação deles com seus respectivos clubes.

"Vários jogadores fizeram isso. Roberto Carlos e Butragueño. São espelhos macros da função. Rivarola no Chile, Argentina, há outros. É área que se abre para ex-jogadores. Tem de ter identificação com clube. São Paulo tem sorte de ter identificação com jogadores desse jeito", ressaltou.

O ex-zagueiro será dirigente, e não membro da comissão técnica. Apesar disso, frequentará o CT da Barra Funda constantemente para colocar em prática a boa relação com o elenco.

Lugano ainda terá missões institucionais, como representar o São Paulo em eventos e reuniões com federações. Ao lado do.diretor executivo de futebol Raí, a ideia é formar uma diretoria de futebol forte, que imponha respeito e credibilidade - recentemente, o ex-zagueiro Ricardo Rocha também assumiu um cargo no clube, o de coordenador de futebol.

"Vamos interagir e contribuir, mas há funções bem definidas, o meu papel, do Ricardo e o do Lugano. Mas os três com conhecimento de sobra para contribuir na situação do clube", disse Raí.

"É um momento de grande relevância do clube. É uma figura totalmente conectada ao São Paulo. Lugano está agora está com mais um traço de identificação e aprimoramento. Comprovando seu apego e identificação. Ele, com o Raí e o Ricardo [Rocha] completará um trio de campeões mundial dentro dessa instituição. Diego atuará na implementação de projetos. É um passo maior, uma ousadia do São Paulo no sentido de se alinhar com grandes instituições do futebol mundial", frisou o presidente Leco.

O último jogo de Lugano como jogador profissional foi disputado em dezembro passado, na última rodada do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, o zagueiro atuou 90 minutos no empate por 1 a 1 com o Bahia.

Lugano chegou ao São Paulo em 2003. A primeira passagem durou pouco mais de três anos e acabou marcada pelos títulos da Libertadores e do Mundial, em 2005, além do estadual daquela temporada. Em seguida, o uruguaio acertou com o Fenerbahçe, da Turquia, onde também brilhou.

O retorno ao São Paulo aconteceu no começo de 2016, depois de o jogador ter atuado no Cerro Porteño, do Paraguai. Aos 35 anos, porém, Lugano pouco entrou em campo. Em dois anos no clube tricolor, o atleta disputou 36 jogos, com dois gols marcados. No total, o zagueiro defendeu o São Paulo em 213 duelos.

Confira mais trechos da entrevista de Lugano:

OUTRA PROPOSTA
Tinha uma proposta para jogar na Ásia. Minha família falou "chega" de viajar pelo mundo. São Paulo cidade e clube deram para nós muito respeito e qualidade de vida. É uma função muito espontânea, recebi do São Paulo. O que chega é muito natural. E essa continuidade da vida, com filhos e mulher aqui, foi natural. A vida foi desenvolvendo aqui e estou feliz e orgulhoso por isso

REAÇÃO SÃO-PAULINA
Você se faz forte de dentro para fora. Ano passado teve mudanças. Está se aprimorando muitas áreas, adquirindo tecnologias, profissionais de alta capacidade em todas as áreas, jogadores que chegam com um perfil mais São Paulo. Pessoas históricas na instituição, que ajudam a contribuir nesse perfil e maneira de pensar. Isso alimenta a acreditar num futuro promissor. Tem de fazer todo dia. Se não tem trabalho com essência, no médio prazo vai perder. Pode ganhar título por acaso. Há dificuldades financeiras, mas se ficar forte internamente o São Paulo é um monstro, todos têm medo de quando o São Paulo reagir, porque aí vai ter a hegemonia do futebol brasileiro e sul-americano. Mas para isso tem de mudar as coisas invisíveis aos olhos de vocês

VAI PUXAR A ORELHA DOS ATLETAS?
Futebol mudou. Tem outro jeito de chegar ao jogador. Conheço os meninos. É diferente. Cada um precisa de um contexto, as pessoas são diferentes. Tampouco falo que nunca vai acontecer, mas não é o ideal (risos) e não é o que acontece hoje no vestiário. Hoje é mais importante entender o contexto