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Goleiro de 2,04m superou trauma na infância e virou promessa do Inter

Carlos Miguel, goleiro do Internacional que mede 2,04m durante partida da base - Divulgação
Carlos Miguel, goleiro do Internacional que mede 2,04m durante partida da base Imagem: Divulgação

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

02/02/2018 04h00

Se todo bom time começa por um grande goleiro, o Inter semifinalista da Copa São Paulo pode ser considerado assim. Carlos Miguel é grande, principalmente no tamanho, mede 2,04 m. E foi grande também debaixo das traves. Defendeu quatro pênaltis e terminou a competição como um dos destaques do Colorado.

Com 19 anos, o goleiro 'gigante' chamou atenção até da mídia internacional. Foi destaque no jornal Marca, respeitado na Espanha, que abriu matéria para falar sobre o camisa 1 do Inter Sub-19.

"Eu achei legal, é o que sempre quis. É meu sonho ter destaque, jogar bastante, ser bastante conhecido no futebol. Foi logo no primeiro jogo a matéria, nem esperava. De repente todo mundo falou, fui olhar... Caramba estou lá. Foi muito legal", contou Miguel ao UOL Esporte.

Com contrato com Inter até o fim de 2019, Miguel será integrado ao time Sub-23 em 2018. O aproveitamento nos times principais ainda é incerto. "Não sei o que vai acontecer. Vou trabalhar forte para crescer ainda mais", afirmou.

Início difícil, basquete e drama familiar

O início da carreira de jogador de futebol nunca é fácil. Mas as dificuldades de Carlos Miguel vieram ainda antes do comum e o destino foi mais duro com ele do que com a maioria dos meninos.

Filho de José Cláudio, goleiro do Botafogo nos anos de 1978 e 1979, ele é caçula de quatro irmãos e natural da cidade fluminense de Cardoso Moreira, aproximadamente 300 km distante da capital, Rio de Janeiro. E aos sete anos perdeu o pai e a mãe vítimas de assassinato.

'Gigante', durante a Copa São Paulo, Miguel chamou atenção ao lado de atacante do Boavista - Reprodução/Sportv - Reprodução/Sportv
Imagem: Reprodução/Sportv

"Superar, até hoje eu não supero isso. Mas aprendi a conviver. O futebol me faz feliz, é uma ajuda, uma alternativa. Junto com minha família, meus amigos, tento esquecer ao máximo. Mas sempre lembro deles", falou emocionado.

Fã de Dida, Miguel chegou ao Internacional em 2016. Antes, iniciou suas atividades no esporte quando adolescente. A cidade, distante do Rio, não dava opções de profissionalismo. E a altura - já evidente na época - o fez atuar no time de basquete local por torneios amadores. "Mas não era o que eu queria, preferia jogar futebol", explicou.

A investida no esporte de Michael Jordan não agradou, mas o futebol ainda parecia distante. Empresários e amigos diziam que levariam Miguel para testes em clubes do Rio, e não cumpriam o prometido. Até que foi levado por um amigo para tentar a sorte no Bonsucesso. "Eu estava desistindo e falei para ele (amigo). Você vai lá em casa e fala com a minha avó e minha tia. Se elas deixarem eu vou. Caso contrário não", explicou. Foi, e acabou aprovado.

Do Bonsucesso veio o Boavista e um teste no Flamengo. Nova aprovação para base do Rubro-Negro e por lá até o meio de 2016 sem grandes chances ou atenção do clube, quando veio o Internacional e o crescimento em popularidade acompanhando os mais de dois metros de altura. Hoje ele mora sozinho na capital gaúcha e acredita que todo sacrifício valerá a pena. "Sinto saudade da minha família. Mas vida de jogador é isso. Tem que ter sacrifício", afirrmou.

"Um dos mais promissores que trabalhei"

O coordenador da preparação de goleiros da base do Inter, Léo Martins, considera Carlos Miguel um dos mais promissores que já passaram por suas mãos. E olha que ele trabalhou com grandes goleiros, cujo nome mais destacado é Alisson Becker, atualmente na Roma e titular da seleção brasileira. O trabalho com o 'gigante' precisou ser desde o básico. A ausência de base requisitou paciência e interesse. Ele cresceu, (ainda mais) ganhou 2 centímetros no último ano já no Inter e 15 Kg de massa muscular. Além de multiplicar elogios.

"Ele chegou para mim num peneirão, num teste mesmo. Eu aceitei olhar pelo tamanho. Mas tive que comprar a briga. Um jogador de 18 anos com aquele tamanho e praticamente parte técnica crua. Fiz com ele trabalhos que se faz com meninos de 13, 14 anos. Mostrei vídeos dos lances, tive muita paciência, didática e acreditei nele. É o goleiro que eu vi com a maior capacidade de evoluir rapidamente. É o mais promissor com quem trabalhei. É o diferente em termos de crescimento e idade. Ele cresceu muito. Hoje ele poderia jogar qualquer esporte, vôlei basquete, é goleiro nato. Ele sai 70 centímetros do chão. Isso para um goleiro da altura dele é um absurdo. Sou muito chato no trabalho, fazer uma defesa que me agrade é difícil, cobro muito mesmo. Fui goleiro, estive no time do Santos campeão brasileiro de 2002, joguei no Mogi Mirim, e por isso conheço bem a função ", disse ao UOL Esporte.

"Ele tem vivido coisas novas na carreira, isso também trabalhamos bem com ele. Na Copa Ipiranga do ano passado, ele jogou a primeira partida com televisionamento, o primeiro jogo à noite, nunca tinha acontecido isso. Começou a dar entrevistas... É algo que também trabalhamos com ele e tem reagido muito bem. Todos os goleiros cresceram com a ascensão dele. Ele já é um vencedor na vida por toda história familiar que teve. E vejo nele um goleiro com capacidade para futebol inglês. Alto, bem posicionado, técnico, rápido, bom com os pés. Tem tudo para chegar muito longe na carreira", finalizou.