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Associação prevê Pacaembu "capenga" até concessão e pressiona Prefeitura

Pacaembu recebeu oito partidas em 2018, e cinco tiveram problemas de energia - Dassler Marques
Pacaembu recebeu oito partidas em 2018, e cinco tiveram problemas de energia Imagem: Dassler Marques

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

07/03/2018 15h43

Preocupados com os recorrentes casos de queda de energia durante partidas realizadas no estádio do Pacaembu em 2018, um grupo de moradores do bairro se mobilizou para pedir explicações ao poder público sobre o que considera "uma coisa meio arquitetada", de acordo com declaração de Rodrigo Mauro, presidente da associação Viva Pacaembu. O temor deste grupo de moradores é que o estádio não esteja recebendo cuidado e manutenção suficientes ao mesmo tempo em que a Prefeitura trabalha pela concessão deste espaço público à iniciativa privada.

De acordo com a Viva Pacaembu, a Prefeitura Regional da Sé, responsável pela área onde se localiza o estádio do Pacaembu, tem se omitido de discussões sobre o bairro e os jogos realizados por lá, inclusive não teve representantes na tradicional reunião pré-jogo para definir detalhes logísticos antes de Santos x Corinthians, no último domingo. Este encontro também conta com Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e FPF (Federação Paulista de Futebol), entre outros órgãos.

A pedido do UOL Esporte, a Prefeitura Regional da Sé se posicionou sobre o tema relatando que "sempre atua no entorno do estádio Paulo Machado de Carvalho quando há eventos no local" e "o planejamento é feito com a Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar". Além disso, a Regional Sé informa que "está à disposição dos moradores para diálogo e resolução de demandas".

Foi justamente na partida entre Santos e Corinthians que houve o pior caso de queda de energia no Pacaembu. Aos 22 minutos do segundo tempo, os holofotes se apagaram e a interrupção do clássico durou 45 minutos. Antes disso, em oito partidas ao todo realizadas no estádio no ano, houve mais quatro casos: paralisação por 15 minutos em Palmeiras x Portuguesa (Copa São Paulo de Juniores), 30 minutos em São Caetano x Corinthians (Paulistão), queda de energia antes e depois do jogo em Corinthians x Ferroviária (Paulistão) e queda breve em Corinthians x São Paulo (Paulistão).

"Nas cinco vezes em que acabou a luz no estádio do Pacaembu, em 2018, só uma também atingiu o bairro. Nas outras quatro vezes foram problemas pontuais dentro do estádio. Não sei se resolveu, se vai resolver ou mesmo se querem resolver. Porque isso nunca aconteceu no estádio, em outras gestões, então ficamos com a pulga atrás da orelha. Isso tudo acontece em um momento que querem tanto fazer a concessão? O prefeito foi às redes sociais logo depois dizendo que quer fazer a concessão, então parece que foi uma coisa meio arquitetada, de caso pensado", conta Rodrigo Mauro, que ainda amplia a argumentação de "sucateamento" proposital do Pacaembu.

"As coisas são feitas de um jeito que o equipamento público caia em desuso, numa vala em que ninguém vai querer, porque não é feita a manutenção. No domingo à noite, o Eduardo (José Eduardo Gomes, ex-diretor do estádio) deu uma entrevista à Jovem Pan dizendo que a fiação era dos anos 40 e não havia dinheiro para reformar a fiação. Não tem dinheiro? Para um equipamento público e esportivo que atende a população inteira de São Paulo? Mesmo que pensem em concessão, isso demora quanto tempo? O edital sai no fim de abril, depois são mais cinco ou seis meses para apresentação de projetos, licitação, órgãos de tombamento, audiências públicas... Então esse negócio não sai esse ano. Como podem não fazer manutenção? Se a concessão der tudo certo e for bem feita não sai antes de dezembro, então seriam oito meses capengando o equipamento público da cidade. Não dá para entender", critica.

Estádio do Pacaembu - Divulgação/Prefeitura de São Paulo - Divulgação/Prefeitura de São Paulo
Plano de desestatização envolve o estádio, que terá edital de concessão em 24 de abril
Imagem: Divulgação/Prefeitura de São Paulo

Oposição fará representação

Donato, vereador e líder da bancada do PT na capital paulista, prometeu apresentar uma representação ao Tribunal de Contas do município "para que seja proposta medida cabível visando apurar irregularidades relacionadas à manutenção do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho". O petista lembra a aprovação de uma lei em setembro de 2017 que deu autorização para a outorga de concessão do complexo do Pacaembu, que além do estádio possui um centro poliesportivo, e que depois disso o local passou a "ostentar problemas", o que sugere um "abandono de sua manutenção". 

"A ocorrência de fatos como este tem como efeito concreto a depreciação do valor do bem", diz Donato, que ainda completa seu posicionamento: "Não é possível que o prefeito abandone a manutenção do equipamento, até porque, sequer se sabe se a concessão pretendida terá êxito", em referência a João Doria, que é do PSDB.

Chance de suspender partidas?

Uma sentença judicial em favor da associação Viva Pacaembu pode fazer a associação de moradores procurar novamente os órgãos públicos para pedir explicações sobre as recorrentes quedas de energia que denigrem o nome do estádio e do bairro. Não é descartado, inclusive, que novas partidas sejam suspensas até que tudo que resolva a contento. O próximo jogo marcado na agenda do Pacaembu é no dia 15, próxima quinta-feira, entre Santos e Nacional (URU), pela Copa Libertadores.

"Existe a necessidade de se evitar transtornos aos moradores da região em saúde, segurança e sossego. Só que acontecem nos jogos muitas irregularidades no lado de fora, neste ano de 2018 é um negócio absurdo, de comércio irregular, flanelinhas, ambulantes... Sem contar a questão da energia. Agora vamos chegar ao juiz que nos deu a primeira decisão e dizer que é preciso cumprir a sentença, com embargos administrativos a quem autorizou a realização do jogo. Estamos muito preocupados com tudo isso, porque o pessoal está largando para justificar que o bairro se degrada e fazer a concessão", acusa Rodrigo Mauro.

Em resposta à denúncia, a Regional Sé diz que cerca de 30 sacos com produtos irregulares são apreendidos em dias de jogos no Pacaembu.

Jogo de versões

Em declarações recentes, o prefeito João Doria alegou que os apagões são habituais no bairro do Pacaembu, não são "problema da Prefeitura" e que a solução definitiva é o investimento privado. A Eletropaulo, empresa estatal de distribuição de energia, justifica que não houve problemas no fornecimento de energia no estádio ou na região no dia da partida entre Santos e Corinthians. O secretário municipal do Esporte de São Paulo, Jorge Damião, reforçou em entrevista ao UOL: a Eletropaulo não tem responsabilidade no caso porque não atuou no jogo, que teve utilização de gerador locado pelo Santos.

Uma análise preliminar da Prefeitura, que contou com o auxílio de técnicos da Eletropaulo, identificou uma falha na cabine primária, um equipamento do estádio que recebe a energia vinda do gerador (ou da rede elétrica) e a distribuiu entre as torres. O problema foi causado pela leitura de um objeto que se chama relé, que é como um interruptor. Houve uma oscilação da rede, o relé identificou e tentou atuar. Com isso, desligou o disjuntor e a energia caiu.

José Eduardo Gomes, então diretor do estádio, foi afastado pela Prefeitura, que assumiu a administração do estádio com o auxílio de engenheiros da secretaria de Esporte, cúpula da Eletropaulo e a Francisco Dada, hoje diretor do Departamento de Gestão de Políticas e Programas de Esporte e Lazer (DGPE), mas que antigamente trabalhava no Pacaembu. A ideia é que sejam lançados estudos para a instalação de um novo circuito elétrico na região.