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Ex-Santos, neto de campeão mundial faz crossfit antes de nova chance

Victor conciliou treinos com rotina no sub-20 do Santos, clube em que jogou por 6 anos - Reprodução/Instagram
Victor conciliou treinos com rotina no sub-20 do Santos, clube em que jogou por 6 anos Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

02/04/2018 04h00

Clodoaldo Tavares Santana é um dos nomes mais conhecidos da história do futebol brasileiro. Foram 510 partidas pelo Santos e 54 pela seleção brasileira, pela qual foi tricampeão do mundo no México, em 1970. Após quase meio século, outro membro da família tenta a sorte no futebol: Victor, neto do Corró, tem 21 anos e encerrou no último dia 19 de março um longo contrato nas categorias de base do próprio Peixe. Enquanto busca novas chances no futebol, o zagueiro mantém a forma de um jeito incomum para atletas profissionais: é praticante de crossfit.

Academias que oferecem este treinamento de alta intensidade que associa ginástica, levantamento de peso olímpico e atletismo estão se popularizado no Brasil. Victor Santana surfou nesta onda e começou no fim de 2017. Hoje ele já faz treinos mais pesados, alcança marcas competitivas e se motiva a continuar. Mas também sente na pele que existe um preconceito relativo à prática do crossfit, ainda mais na posição de jogador de futebol. Inclusive, ele só topou conversar com o UOL Esporte para ajudar a derrubar este preconceito.

"Eu comecei a fazer crossfit quando entrei de férias no fim do ano passado. Já tinha vontade, mas também tinha medo de não conseguir aguentar a carga de treino no Santos e o crossfit. Aí nas férias fiz e não dava para ser melhor, gostei demais. Na verdade, o crossfit me ajudou bastante no futebol, porque me sinto fisicamente muito bem. Esse preconceito acaba quando você começa a se aprofundar e entender o que é. Eu tinha preconceito. Pensava: "mas eu vou machucar meu ombro, meu joelho...". E a verdade é que é um esporte que você faz na medida em que aguenta você e compete só consigo mesmo para melhorar", diz Victor Santana, que se vê como um "apaixonado pelo crossfit".

Victor Santana - Reprodução/Stories - Reprodução/Stories
Victor aproveitou as férias do ano passado para começar no esporte e continua até hoje
Imagem: Reprodução/Stories

"É um esporte completo, tem levantamento de peso, movimentos de ginástica, corrida, saltos em caixa e outras coisas. O objetivo é que seu condicionamento seja o melhor possível para qualquer exercício. As pessoas falam que lesiona muito, mas na verdade lesiona como qualquer esporte, quando você faz de forma errada. No meu caso ajudou, fisicamente estou melhor do que quando comecei no crossfit, mas eu faço realmente porque me divirto, porque gosto. E hoje em dia eu faço até propaganda para todos os meus amigos", brinca o jogador.

Victor costuma fazer os treinos à tarde. Como é muito intenso, em uma hora ele faz todas as atividades do dia. Até 19 de março, quando tinha contrato com o Santos, a frequência não era diária: ele ia para o crossfit nos dias em que não estivesse muito cansado das atividades no CT Rei Pelé, realizadas majoritariamente de manhã. Agora sem o futebol ele está indo todo dia e usando os treinos para manter a forma antes dos novos desafios.

No futebol, outro tipo de preconceito

Victor Santana é nascido e criado em Santos, cidade onde a família fixou residência desde os tempos em que Clodoaldo era jogador. Ele começou a frequentar escolinhas de futebol aos 7 anos graças ao apoio do avô, que foi praticamente o responsável pela criação do menino, que perdeu o pai cedo.

Aos dez anos, o neto do campeão mundial foi aprovado para jogar futsal no Internacional de Regatas e depois passou pela modalidade no Santos. Em 2011, o menino teve destaque em uma edição do Campeonato Paulista sub-15 pelo Jabaquara e se credenciou a um teste no Peixe, já no campo. Foi aí o primeiro preconceito que Victor encarou. Ou melhor, preferiu nem encarar.

Clodoaldo e Victor Santana - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
"É meu avô, meu pai, meu amigo, tudo para mim", diz o neto criado pelo avô na infância
Imagem: Reprodução/Instagram

"Quando chego a algum lugar eu prefiro esconder que sou neto do Clodoaldo. Existe um preconceito, e eu quero que as pessoas percebam que eu tenho capacidade, não que consegui algo por ser da família de alguém. Tento esconder, mas às vezes não adianta, sempre tem quem desmereça, quem veja diferente. Procuro conviver e levar da melhor forma possível, porque foi assim aos 15 anos e será assim aos 30 também", desabafa o jogador.

Entre 6 de fevereiro de 2012, quando foi aprovado no Santos sem que seu treinador soubesse que era filho de um ídolo do clube, e 19 de março de 2018, quando o contrato acabou sem decisão de renovar, foram mais de seis temporadas na base do clube, títulos, derrotas e experiência acumulada. Curiosamente, o avô também deixou o Peixe em janeiro, após dois anos como consultor da diretoria.

"Meu avô saiu do Santos tranquilo, sabe como são as coisas do futebol. No fundo, eu também. No ano passado não joguei muito, fazia uma ideia que meu contrato acabava em março, já sabia que seria difícil. Agora meu avô está me ajudando a buscar um clube. Peguei alguns jogos para montar meu DVD e vamos buscar coisas novas. Não quero ficar muito tempo parado", conta Victor Santana. 

Parado não é exatamente o que Victor está. Semana passada ele alcançou novas metas pessoais no crossfit.