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Choro no ônibus do Liverpool e City acuado: a magia e bastidores de Anfield

Shaun Botterill/Getty Images
Imagem: Shaun Botterill/Getty Images

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Liverpool (ING)

05/04/2018 04h00

“Nós conquistamos toda a Europa e nunca vamos parar”, dizia a bandeira vermelha, posicionada estrategicamente no caminho de acesso de Liverpool e Manchester City ao Anfield. O termômetro apontava 9ºC no fim da tarde desta quarta-feira (4), e a neblina e o vento gelado se somavam à expectativa na cidade inglesa mais vencedora no continente, com cinco títulos da Liga dos Campeões dos Reds.

Torcedores se amontoaram nas calçadas, nos muros das casas e até em cima de placas de sinalização de trânsito para recepcionar o ônibus vermelho e tentar intimidar o azul. Cientes do plano dos aficionados, as autoridades locais até alteraram a rota habitual das delegações. O objetivo era evitar as ruas estreitas ao redor do estádio. Só se esqueceram de que, apesar da tentativa de cercear a recepção dos elencos, (ainda) resta algo inegociável no futebol dos bilhões: a paixão.

No tremular das flâmulas, cachecóis alvirrubros e na erupção de um mar de fumaça vermelha, o veículo que carregava Josep Guardiola e companhia surgiu no horizonte. Foi o sinal para a festa explodir. O time a ser batido, líder isolado da Premier League e a uma vitória do título, teve o ônibus alvejado por latas e garrafas de cerveja. Vidros quebraram e, no meio da confusão, dois policiais ficaram feridos.

De dentro do ônibus, a movimentação da torcida vermelha foi registrada nas redes sociais de Manel Estiarte, braço direito de Pep no comando do City. O vídeo mostra a festa e a euforia da torcida do Liverpool, mas também gestos ofensivos e objetos atirados contra o ônibus da equipe.

“Não esperava algo assim vindo de um clube de tanto prestígio como o Liverpool”, lamentou o técnico catalão. “Não foi o clube, mas as pessoas. Tomara que isso não volte a acontecer”, declarou o treinador, em tom diferente ao do capitão Vincent Kompany. “Sinceramente, o episódio do ônibus não nos afetou em nada. Não ligo que os torcedores façam isso. Contanto que não haja violência e ninguém se machuque, não há problema algum”.

A rejeição aos visitantes se transformou em euforia assim que Jürgen Klopp e seus jogadores se aproximaram. As centenas de pessoas na rua não conseguiram ver, mas por trás dos vidros escuros, jogadores sacaram celulares, e um deles em especial foi dominado pela emoção.

“Eu já tinha lido que eles fariam uma grande festa na nossa chegada ao estádio, mas mesmo assim meus olhos encheram de lágrimas”, revelou Roberto Firmino, quase sempre avesso às entrevistas, mas sincero ao falar sobre a troca de energia com a torcida apaixonada. “Foi algo muito emocionante para mim. Isso só nos dá mais força para lutar dentro do campo”.

O apoio fora do lendário Anfield virou a voz de milhares do lado de dentro. As paredes traduzem em palavras a alma da casa vermelha. "Anfield é único. Vive, respira e nos fortalece" é uma das últimas frases que os jogadores leram antes de escutar a tradicional música “You will never walk alone” (Você nunca caminhará sozinho), que selou o pré-jogo mágico. Na véspera, Jürgen Klopp, carrasco de Guardiola, disse que não há melhor sensação do que vencer os melhores. A noite, portanto, foi inesquecível.

Klopp comemora com a torcida do Liverpool - Carl Recine/Reuters - Carl Recine/Reuters
Imagem: Carl Recine/Reuters

Embalado por 54 mil pessoas, o Liverpool teve atuação de gala no primeiro tempo e, em 30 minutos, colocou 3 a 0 no placar. Mohamed Salah, Oxlade-Chamberlain e Sadio Mané retribuíram os incessantes gritos das cadeiras com gols que colocaram os Reds muito próximos da semifinal da Liga dos Campeões.

Após o apito final, Klopp fez questão de se dirigir ao Kop, setor mais popular do estádio, para agradecer pelo estímulo irrestrito. Bateu no peito e socou o ar, no delírio final da noite.

“Jogar aqui é difícil. O clima é muito complicado. Todos sabem que o Liverpool tem cinco Champions, e o estádio se torna um caldeirão”, admitiu Gabriel Jesus.

O jogo de volta acontece na próxima terça (10), e só uma equipe sairá do Estádio Etihad a duas partidas da grande final em Kiev, na Ucrânia.