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Quarto árbitro da final contradiz versão da FPF sobre diretor em campo

Adriano de Assis Miranda, quarto árbitro da final, em depoimento no TJD - Leandro Miranda/UOL
Adriano de Assis Miranda, quarto árbitro da final, em depoimento no TJD Imagem: Leandro Miranda/UOL

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

17/04/2018 19h31

O quarto árbitro que atuou na final do Campeonato Paulista entre Palmeiras e Corinthians, Adriano de Assis Miranda, contradisse em depoimento no Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP) a versão da Federação Paulista de Futebol para a presença em campo do diretor de arbitragem Dionísio Domingos: a de que ele, naquela partida, também atuou como tutor de arbitragem.

Falando no inquérito que apura se houve interferência externa na arbitragem no jogo, Adriano negou que Dionísio tenha atuado como tutor, cargo que daria a ele permissão para estar no gramado. Já as outras testemunhas ouvidas nesta terça-feira, como o delegado do jogo Agnaldo Vieira, o árbitro Marcelo Aparecido e os árbitros assistentes Anderson José de Moraes Coelho e Daniel Paulo Ziolli, disseram que Dionísio foi tutor ao lado de José Henrique de Carvalho.

"O José Henrique era o tutor, o Dionísio estava apenas acompanhando ele, nas proximidades do campo, sem atuação. Ele (Dionísio) não passou nenhuma informação para a gente, nem antes e nem depois da partida", afirmou Adriano.

Questionado sobre o motivo da presença de Dionísio no gramado, o quarto árbitro não soube informar. Em vídeo divulgado em seus canais oficiais, o Palmeiras sustenta que o diretor da FPF conversou com a equipe de arbitragem durante o intervalo de oito minutos entre a marcação inicial de um pênalti sobre Dudu e a decisão do árbitro Marcelo Aparecido de assinalar apenas escanteio.

Mais tarde no depoimento, Adriano entrou em contradição ao afirmar que Dionísio só esteve em contato com a equipe de arbitragem no dia do jogo. Anteriormente, ele havia afirmado que o diretor esteve presente na concentração dos árbitros no hotel, em uma reunião de planificação da partida, no dia anterior à final. A discrepância causou até uma advertência dos auditores por possível falso testemunho.

Testemunhas desmentem quarto árbitro

Dionísio Domingos - Leandro Miranda/UOL - Leandro Miranda/UOL
Dionísio Domingos (à dir.), diretor de arbitragem da FPF, depõe no TJD
Imagem: Leandro Miranda/UOL

O árbitro Marcelo Aparecido, assim como as demais testemunhas, afirmou que Dionísio exerceu, sim, a função de tutor. "É comum o tutor estar ali. Ele é diretor da federação, mas estava na função de tutor. Ele fica ali para ver o que está acontecendo no campo de jogo", disse o juiz da partida.

Posteriormente, o próprio Dionísio depôs e reiterou que ele mesmo havia se designado tutor do jogo, ao lado de José Henrique de Carvalho. "Pela importância da partida, nós entendemos que deveria haver dois tutores", disse o diretor, que negou ter passado qualquer informação a membros da equipe de arbitragem na beira do campo, e afirmou que seu telefone celular esteve o tempo todo desligado dentro de seu bolso.

Dionísio foi questionado se o técnico corintiano Fábio Carille chegou a dizer a ele que não havia sido pênalti segundo as informações da transmissão da televisão. "Ele aproxima e fala uma série de coisas, eu nem sei o que ele falou. Assim como o do Palmeiras também estava falando um punhado de coisas. Não estou preocupado com o que eles estavam falando", respondeu.

A posição de tutor foi criada pela FPF no ano passado com o objetivo de preparar a equipe de arbitragem antes da partida e avaliar sua atuação depois dela. A federação não divulga nenhum tipo de escala prévia de tutores para os jogos.

Em outro depoimento desta terça, o árbitro assistente Anderson José de Moraes Coelho afirmou que a presença de dois tutores em uma mesma partida era uma situação incomum. No jogo de ida da final, na Arena Corinthians, só um tutor foi escalado.

Quarto árbitro explica demora

Segundo a versão de Adriano de Assis Miranda, ele tinha uma visão lateral da jogada e comunicou o árbitro Marcelo Aparecido de que o pênalti não havia acontecido logo depois de o lance ter sido apitado, dizendo a palavra "canto" (escanteio) três vezes no rádio. Porém, devido à aglomeração de jogadores em torno do juiz, Marcelo não ouviu.

Com a confusão formada pelos atletas dos dois times, ele demorou oito minutos para correr até o árbitro e comunicar pessoalmente sua visão, motivando a mudança na marcação do pênalti. Ele também afirmou que queria passar a informação para Marcelo sem a presença de jogadores por perto, o que acabou não sendo possível. Adriano negou ter recebido informações externas sobre o lance.

Marcelo Aparecido corroborou a versão do quarto árbitro em seu depoimento. Ele afirmou que mudou de decisão quando Adriano se aproximou pessoalmente dele e proferiu as seguintes palavras: "Marcelo, para mim toca na bola, mas a decisão final é sua".