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Rueda minimiza impeachment no Santos e nega que Peres tenha ferido estatuto

José Carlos Peres ganhou de Andrés Ruedas nas urnas na última eleição do Santos - Divulgação/SantosFC
José Carlos Peres ganhou de Andrés Ruedas nas urnas na última eleição do Santos Imagem: Divulgação/SantosFC

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

18/04/2018 04h00

O presidente José Carlos Peres, que encara pedido de impeachment de alguns conselheiros do Santos, ganhou um aliado forte na briga contra os opositores. Trata-se de Andrés Rueda, seu rival na última eleição e que aceitou o convite do mandatário para integrar o Conselho Gestor do clube paulista.

Em entrevista ao UOL Esporte, Rueda minimizou o pedido de impeachment. Ele nega que Peres tenha ferido o estatuto do Santos, como alegam os 22 conselheiros que assinaram o documento enviado ao Conselho Deliberativo do clube. O dirigente não hesita em dizer que é um pedido de impeachment "totalmente político".

O posicionamento contraria, inclusive, antigos correligionários. Dos 22 conselheiros que protocolaram o pedido de impeachment, dez foram eleitos pela Santástica União, encabeçada por Rueda nas eleições. “Nada mais que normal que tenha a maioria [do pedido], éramos a junção de 17 grupos. Eu não tinha ninguém, seis meses antes de aceitar a candidatura. E eles têm o direito pois seguem opositores”, disse, minimizando a relação.

Em contato ao UOL Esporte, o dirigente contesta a principal acusação dos 22 conselheiros. No pedido de impeachment, o grupo cita a portaria emitida por Peres que centraliza demissões e assinaturas de novos contratos do clube em sua pessoa, supostamente ignorando o Conselho Gestor, o que é proibido pelo estatuto.

Andres Rueda - Guilherme Kastner/assessoria - Guilherme Kastner/assessoria
Imagem: Guilherme Kastner/assessoria

Rueda diz, no entanto, que desde o começo do ano um novo regimento interno do Conselho Gestor exige que todo contrato passe pelo órgão, que registra os temas em ata e demanda maioria de votos dos membros para aprovação. 

“Na segunda reunião ele [Peres] aprovou o regulamento interno do Conselho Gestor, que já evita qualquer tipo de coisa neste sentido [acusação de não consultar o Conselho Gesor]. Todo contrato do Santos tem que ter cláusula e validade jurídica se estiver anexado a ata que o aprovou em votação. Com isso você evita o presidente de tomar decisões sem passar pelo CG. Isso ele aprovou no primeiro dia. Era o item 1 da nossa campanha na eleição e resolve 90% dos problemas do clube. O Leandro Damião, por exemplo, não passou pelo Conselho Gestor”, afirmou Rueda.

Na visão de Rueda, o pedido não tem fundamento pois não causa dolo ao clube e nem há comprovação de desonestidade

“Pedir impeachment é coisa muito seria, tem que ser embasada com dolo. Misturar gestão de clube com parte politica dá encrenca. Tem de ser dolo ou omissão. Coisas interpretativas, coisa que eu faria diferente e outro faria, não cabe. O Peres foi eleito pela maioria dos sócios. É democrático. Se não gostar, não vota mais na próxima eleição. Mas pedir impeachment por causa de demissão de funcionários... O Santos estava inchado com funcionários, as contas não fechavam. Sempre que demite e contrata vai ter o pessoal que se acha injustiçado. Pedido completamente político, de pessoas que não aceitaram o resultado da urnas. Só se fosse por desonestidade tudo bem, mas não foi”, explicou.

Conselheiros ainda não acreditam em impeachment

O conselheiro Márcio Rosas, que encabeçou a denúncia ao Conselho Deliberativo, alega que ainda não acredita no impeachment, mas comemora a “dor de cabeça” que provocam em José Carlos Peres. Apesar da sinceridade, o conselheiro avisa que os novos pedidos de impedimento de Peres devem complicar de vez a vida do presidente santista.

“Todo a base da denuncia é por ultrapassar a barreira do estatuto. Contratação do Gustavo Vieira, sem documentação nenhuma, e agora fomos para Justiça. A portaria que ele lançou, onde toda contratação precisa passar por ele... Ele não convoca seus gestores para discutir. Isso, estatutariamente, não pode. E mais um monte de coisa, demissões sumárias que ele fez sem consultar ninguém. A última foi do Aarão (técnico do sub 20). Ele decidiu sem consultar os outros gestores. O estatuto diz que ele tem que discutir com todos os gestores, com documentos, emails registrados. Ele não responde aos conselheiros, perguntas formadas. Eu não acredito que chegue ao impeachment, mas uma dor de cabeça ele vai ter”, disse Rosas.

Adilson Durante Filho, conselheiro eleito pela chapa de Modesto Roma e ex-diretor de futebol das categorias de base e do profissional do Santos na gestão Marcelo Teixeira, não vê embasamento para impeachment após ter tido acesso ao documento enviado ao Conselho. No entanto, Durante espera uma posição do Conselho Gestor em relação a acusação de uma possível “ditadura” de Peres.

“Sinceramente, pelo que li nesse pedido, não enxerguei muitos motivos para o impedimento do José Peres. Vejo sim, a extrema necessidade dele afirmar o seu poder e liderança com essa portaria. Há diferença em determinar que se faça e o fazer. Ninguém melhor que os próprios CG’s para nos dizer se houve ou não ferimento ao estatuto do clube, pois a responsabilidade de todas as ações são de todos eles”, disse o conselheiro.

Zé Geraldo, ex-diretor de marketing do Santos, acredita que o pedido de impeachment faz parte de opositores que não se conformaram com a derrota nas urnas.

“Lamentável esse pedido sob quaisquer quesitos que se queira examinar. As eleições terminaram, houve um vencedor eleito democraticamente, ponto. A equipe do Peres não é a ideal, mas, tampouco é a pior. Erros administrativos existiram em todas diretorias anteriores, mas daí a se decidir por impeachment com quatro meses de gestão... Isso cheira mal e  representa outra coisa. Melhor dizendo, tem o significado de choro de chororôs, de bico fino, que perderam a alegria de cantar e desfrutar os prazeres da mãe natureza”, disparou o conselheiro.

O presidente do Conselho Deliberativo do Santos, Marcelo Teixeira, é mais ponderado a falar sobre o assunto e promete avaliar com cuidado o pedido de impeachment.

“Eu acho que tenho que tomar cuidado, como presidente da mesa. Precisamos avaliar com cuidado e com critério, tudo baseado no estatuto do clube. A mesa terá esse cuidado de analisar bem e dar o devido encaminhamento que merece o assunto”, concluiu.