Topo

Pai de ex-atleta diz que estava no dia do suposto abuso de dirigente

Régis Santana, pai de menino que acusa dirigente do Santos de pedofilia - Arquivo pessoal
Régis Santana, pai de menino que acusa dirigente do Santos de pedofilia Imagem: Arquivo pessoal

Marcello De Vico e Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

19/04/2018 14h56

A acusação de pedofilia contra o dirigente do Santos Ricardo Marco Crivelli, o Lica, ganhou novos capítulos nesta quinta-feira (19). Régis, pai de Ruan  Petrick Aguiar de Carvalho, jogador de 19 anos que acusa o diretor santista de abuso sexual, deu seu depoimento e afirmou estar presente na casa onde o atleta afirma ter sido abusado.

“Acredito no meu filho porque eu estava lá no dia que esse safado aliciou ele. No dia que o Lica dormiu na casa do Luciano, eu estava lá. E ele disse para mim: ‘seu filho é craque e vou leva-lo para o Santos’. Uma semana depois meu filho estava no Santos. Ele nem viu meu filho jogar bola, nem foi avaliado”, disse em entrevista ao UOL Esporte nesta quinta-feira (19).

Ruan atuou no Santos em 2010, quando Lica trabalhava no departamento profissional. O jogador alega que foi abusado por ele quando tinha apenas 11 anos de idade. O ato teria acontecido no alojamento de Luciano Pereira, empresário de Ruan, - e Régis afirma que estava no local quando tudo aconteceu.

O pai do menino ainda acusa Lica de pagar dinheiro 'por fora', além do salário do Santos, e que dias após o episódio do abuso sexual Ruan já estava atuando no time alvinegro, sem sequer passar por um teste.

“Recebia salário e tudo. Inclusive ainda tinha um dinheiro por fora que ele [Lica] dava”, acrescenta Régis.

De acordo com Régis, sua ideia inicial era não envolver o Santos na história. Porém, reclamou que o clube está defendendo o funcionário acusado.

“Em momento algum eu quis prejudicar o Santos. Mas eu estive no Santos e percebi que eles estão levando para um lado político. Eu não tenho nada a ver com a política do Santos. Mas eles estão levando para a política e eu percebi que eles estão defendendo esse Lica”, completou.

Outro lado

Em contato com o UOL Esporte, Adriano Vanni, advogado de Lica, disse que seu cliente ‘só se manifestará para a autoridade policial quando for convocado’.

“Meu cliente nega veementemente as acusações. Acreditamos muito nas investigações que estão sendo feitas por policiais especializados neste tipo de acusação. A verdade virá à tona, é só uma questão de tempo”, acrescentou.

O Santos, por sua vez, prontificou-se a contribuir com todas as investigações e afirmou que Lica foi afastado de suas funções assim que soube do caso.

“O Santos FC é reconhecido internacionalmente por seu consistente trabalho com a base, que sempre apresentou resultados bastante elevados, tanto esportivos quanto de cidadania. O clube vai contribuir plenamente para as investigações em andamento. Tão logo soube do caso, Lica foi afastado pelo Comitê de Gestão do Clube”, disse.

Entenda o caso

Ricardo Marco Crivelli, que coordena a equipe de análise de atletas nas categorias de base do clube, foi acusado de pedofilia. A Delegacia de Repreensão e Combate a Pedofilia, em São Paulo, abriu inquérito para investir o suposto caso de abuso sexual.

UOL Esporte teve acesso ao Boletim de Ocorrência. Lica, como é conhecido o dirigente santista, foi acusado por Ruan Petrick Aguiar de Carvalho, que alega ter sido abusado quando tinha apenas 11 anos de idade.

Fachada da Vila Belmiro - Ricardo Nogueira/Folhapress - Ricardo Nogueira/Folhapress
Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress
Ruan relata ter mudado do Pará para São Paulo em 2010, quando se instalou no ginásio do Ibirapuera e sofreu abusos de um empresário. Traumatizado, ele conta que recorreu ao irmão, que o indicou um outro intermediário. Este último o teria apresentado a Lica, então dirigente do Santos. Na casa deste intermediário, identificado como "Luciano", Ruan teria sofrido o abuso. 

“Lica passou a aliciar a vítima e passar a mão em seu corpo, pegando em seu órgão genital e iniciando sexo oral, e após alguns dias a vitima foi até o time do Santos, fez uma avaliação e jogou por um ano e meio”, diz o boletim de ocorrência. Ruan permaneceu no clube por um ano e meio e, na mudança de categoria, teria protestado contra os abusos de Lica, que então o teria dispensado.

Nas últimas semanas, Ruan teria tentado voltar ao futebol por intermédio do mesmo Luciano, que o indicou Lica - hoje de volta ao Santos. Em depoimento, Ruan disse que a lembrança dos ocorridos o fez tomar a atitude de denunciá-lo. 

Por conta das acusações, Lica foi afastado de suas atividades no Santos. O clube alega que tomou esta postura para que o dirigente centralize seus esforços apenas em sua defesa.

A diretoria santista ainda ressalta nos bastidores que o seu profissional sofre de conspiração política, pois o mesmo teria dispensado muitos jogadores de empresários e vetado a entrada de outros atletas no clube. Além de dirigente da base alvinegra, Lica também é sócio do presidente José Carlos Peres na empresa Saga Talent  Sports & Marketing.