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Tentaram apagar minha história no Corinthians, desabafa Cristian

Eduardo Knapp/Folhapress
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Vanderlei Lima e Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

06/05/2018 04h00

Idolatrado por parte da torcida do Corinthians por sua passagem no clube entre 2008 e 2009, Cristian não teve o mesmo sucesso de 2015 a 2017, quando voltou após seis anos no Fenerbahçe e pouco atuou. Apesar de se dizer grato ao clube, o volante revelou, em entrevista ao UOL Esporte, que ainda carrega mágoa de um integrante da atual diretoria alvinegra.

A gratidão ao Corinthians também é semelhante a que o jogador tem pelo Grêmio e por Renato Gaúcho, que apostaram nele no fim do ano passado, quando o atleta estava há quase um ano sem jogar profissionalmente. Atualmente com 34 anos, o volante está à procura de um novo clube depois uma passagem rápida pelo São Caetano neste ano.

Além de falar sobre sua trajetória, o jogador disse que Fábio Carille possui um futuro brilhante e ainda vê o futebol brasileiro em evolução, comparado à forma como os clubes lidam com crises e jogadores com a reserva.

Veja as declarações de Cristian na íntegra:

Volante graças a Mancini

Eu jogava de zagueiro e volante, e quando eu fui para o profissional não tinha zagueiro eu continuei assim no Paulista. Aí o falecido treinador Giba me pôs de zagueiro nos treinos e o Zetti também. Eu já tinha treinado com o Mancini na época de volante e ele gostava de mim ali. E quando ele passou a ser treinador no Paulista, ele disse: 'A partir de hoje você vai treinar de volante, porque eu gosto de você assim'. O Mancini foi o responsável por tudo, ele que me colocou para jogar. Eu já o admirava quando ele jogava. Ele era um volante moderno na época eu ficava olhando e admirando ele no sentido de eu querer ser o Vagner Mancini no Paulista de Jundiaí um dia. Ele para mim foi um espelho dentro de campo e depois como treinador ele me colocou pra jogar de volante. Eu tenho vários ídolos na época, eu gostava muito do Vampeta, do Rincón, mas como eu estava e acompanhava muito tudo de perto no Paulista, o Mancini também era um dos ídolos que eu queria acompanhar bem de perto.

Identificação instantânea no Corinthians

Não adianta só você ser habilidoso, técnico. Você tem que ter coisas diferentes, tem que entrar dentro de campo como se fosse torcedor do Corinthians, se não nada funciona. Nada acontece e na minha primeira passagem eu fiz tudo isso e mais um pouco. Por isso que a identificação foi muito rápida.

Vendido ao Fenerbahçe 'de surpresa'

É difícil falar agora o que aconteceu, me pegou muito de surpresa. Isso aí eu posso te falar porque o meu último jogo foi contra o Cruzeiro no Mineirão. Nós ganhamos por 2 a 0 e ali eu já estava vendido para o Fenerbahçe. Isso me foi avisado no aeroporto. No Mineirão a gente nem conversou, então eu fui pego de surpresa. Não posso falar se foi bom ou ruim, mas lá na Turquia eu também fiz muito sucesso, tive muitas alegrias, fui bem tratado e recebido. Eu achava que eu tinha que fazer uma longa história no Corinthians. Por isso que eu voltei de novo e aí é uma outra história. Agora já foi, não tenho muito o que ficar falando. Passou. É só torcer e ver os amigos jogar e eu ficar torcendo pelo Corinthians.

Falta coletividade no Brasil

Eu saí do Corinthians apaixonado pelo clube, pelos funcionários, eu gostava muito de estar no clube, e aí você vai para um lugar que é tudo novo onde os clubes são mais profissionais, que são diferentes em todos os sentidos. Você tem que aprender, você quer evolução quanto homem, quanto jogador de futebol, porque lá é totalmente diferente do Brasil. Você ficar de fora do time é uma coisa normal, natural. Aqui você fica de fora as vezes e quer matar um. Quando eu fui para lá, vi vários jogadores com nome, campeão mundial, reconhecido pelo mundo inteiro e ficou no banco de reservas numa boa. Por que aqui no Brasil a gente não tem esse costume? Então você aprende, acaba vendo que na realidade não é só onze que jogam, são 22 ou 32 jogadores. Você é importante para o clube também mesmo não jogando, e hoje está se mudando muito aqui no Brasil, coisa que lá fora já está há muito tempo na frente. Algumas coisas nós estamos muito atrasados, mas melhoramos muito. Mas tem que melhorar muito mais em termos de treinador ser mandado embora. Se perde um campeonato ou alguns jogos já mandam embora.

Mágoa na volta ao Corinthians

Eu posso dizer que eu fui muito desvalorizado, o que algumas pessoas fizeram comigo... Hoje eu posso falar porque só eu sei o que aconteceu comigo, algumas pessoas não tiveram caráter. Não foi homem comigo como eu sempre fui com o clube, sempre eu fui bom profissional, nunca faltei a um treino, nunca deixei de treinar mesmo não jogando. Eu era um dos primeiros a chegar, mas enfim, agora não vem ao caso eu ficar falando disso. Eu tenho admiração muito grande pelo clube, isso nunca vai ser apagado. Algumas pessoas tentaram apagar, mas não vão conseguir, fica marcado, não tem jeito. Os títulos conquistados que eu fiz parte estão na história. Quando eu voltei, eu tinha uma proposta do Flamengo para ir na época. Meu filho não me viu jogando pelo Corinthians, porque quando ele saiu daqui ele era muito novo. E tinha a minha vontade também de voltar para o Corinthians e eu voltei. Não me arrependo de nada e como eu falei. Tenho o Corinthians no meu coração e tenho respeito muito grande pela instituição, pelas pessoas que trabalham no Corinthians, pelo Andrés, pelo treinador e vou continuar respeitando.

Carille te afastou?

O Carille não tem nada a ver com isso. Ele é um cara que sempre me ajudou desde a minha primeira passagem, sempre conversava comigo, eu sempre falava com ele. Ele não teve participação de nada disso.

Admiração desde a infância

Eu já tinha uma admiração pelo Corinthians. A gente via Marcelinho Carioca, Vampeta, Rincón, Luizão, Dida, Ronaldo (Goleiro), então eu já tinha um carinho em BH e tenho um carinho muito grande pelo Corinthians. Na verdade, eu nunca imaginava que eu ia um dia jogar no Corinthians, mas hoje eu torço para o Corinthians. Hoje eu tenho um carinho muito grande para dois clubes, o Corinthians é o clube que eu tenho muito mais carinho, mas também o Grêmio.

Gratidão a Renato e ao Grêmio

O Renato Gaúcho e o Grêmio para foram muito importantes na minha vida. (No Corinthians) me botaram para treinar afastado, ficar muito tempo sem jogar, treinando em horários diferentes e isso é muito complicado para um jogador de futebol. Você fica fora de ritmo, você fica fora de jogo, mesmo que você treina não é a mesma coisa. É aí que que entra o Renato Gaúcho. Foi aí que ele mostrou que é esse treinador que todo mundo fala, que ele é um dos melhores treinadores do Brasil junto com o Carille, Mano Menezes. Porque dar confiança para um jogador que ficou muito tempo parado é difícil, então o Renato me deu essa confiança. Você aprende a valorizar muito mais as pessoas porque você começa a dar valor para quem te dá valor

'Aqui você vai ter bola'

Eu até falei para a minha esposa que iria treinar e acompanhar o meu filho, porque ele joga no Corinthians. Pelo menos eu ficaria mais próximo a família. E o Renato me ligou. Eu lembro como se fosse hoje. Foi numa sexta-feira, às 22h, mais ou menos. Ele tinha um jogo contra o Sport no sábado e me perguntou se eu estava bem. Como eu estava, eu falei para o Renato que eu precisava treinar com bola. Aí o Renato falou assim: 'Aqui o que mais você vai ter é bola, fica tranquilo e vem com a cabeça boa que você vai ajudar a gente'. O Renato é um cara que vai estar sempre no meu coração por tudo o que aconteceu em poucos meses. Eu aprendi muito, eu vi muitas coisas boas do Renato. Para mim ele é um cara sensacional e que vai estar sempre no meu coração.

Por que não ficou no Grêmio?

Não dependeu só de mim, dependeu de outras pessoas. Mas eu tenho um carinho muito grande pelo Grêmio e pelo Corinthians eternamente. Eu nunca tive a conversa sobre ficar ou não ficar no Grêmio. Em todos os clubes que eu passei, eu tento fazer o meu melhor e tentar ajudar de qualquer maneira. Eu não sei porque não fiquei, também não tem nada a ver o Corinthians. Eu nunca tive problema pelos clubes que eu passei com diretorias e com ninguém. É uma pessoa específica só que hoje trabalha no Corinthians. O Corinthians não pertence a essa pessoa, então eu nunca tive problema com a diretoria. Eu sempre fui um cara muito profissional.

Semelhanças entre Tite e Carille

A gente que vem da Europa está acostumado com todo o tipo de treino. Então quando eu cheguei aqui e vi os treinos do Tite, a forma de como ele trabalha, me surpreenderam muito porque são treinos específicos, intensos. O Carille tem uma participação muito grande nisso. Os treinos do Carille são muito bons e parecidos com os do Tite. Eu particularmente já sabia que o Carille ia dar super certo no Corinthians. Se eu fosse um diretor ou presidente do clube, eu não contrataria outro treinador. Deixaria já naquela época o Carille de treinador com a saída do Tite.

São Caetano e futuro

Eu moro aqui em São Caetano, tenho um carinho muito grande pela cidade, mas eu estou treinando, esperando alguma coisa aparecer e a gente sabe que futebol é rápido, dinâmico e tudo pode acontecer. Eu nem estava esperando nada no ano passado e veio a proposta do Grêmio. Não tenho empresário, trata comigo mesmo. Encerrar a carreira ainda não.