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De volta ao Flu, Angioni rejeita rótulo de ultrapassado: "Não cola"

Angioni substituiu Paulo Autuori no comando de futebol do Flu - Lucas Merçon/Fluminense
Angioni substituiu Paulo Autuori no comando de futebol do Flu Imagem: Lucas Merçon/Fluminense

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/08/2018 04h00

Torcedor do Fluminense desde menino, Paulo Angioni voltou ao clube há pouco mais de um mês. Entre um gole de café com leite e uma mordida em um sanduíche, o diretor de futebol do Tricolor falou sobre o momento do clube e rebateu os críticos que rotulam o profissional, com passagens e títulos por gigantes como Vasco, Palmeiras e Bahia, como "ultrapassado".

"Quero contribuir para acabar com o preconceito. Se já estudava muito, agora estudo muito mais. A crítica não me abate, a crítica me dá oportunidade de melhorar. Essas coisas não colam em mim", disse ao UOL Esporte.

No futebol desde 1980, o morador do Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro, defende a ampliação do tempo de amadurecimento do atleta profissional, o que, segundo ele, aumentaria a oferta de mão de obra. Ele afirma que uma melhor educação dos jogadores melhoraria a qualidade do jogo e admitiu a dificuldade em administrar atrasos salariais. Confira o papo com a principal cabeça pensante do futebol tricolor.

Salários atrasados

"Temos uma pendência de imagem. Quando você não cumpre salários há um desgaste muito grande, é um dos fatores mais difíceis de serem ultrapassados. Quando a gente fala em atraso, apontamos só para o jogador. O jogador faz uma cobrança que não é só por ele, é por tudo que o rodeia. Se existe uma classe bondosa e prestativa, essa é a de jogador. Eles convivem com gente que ganha menos e incorpora isso dos roupeiros, massagistas e gente que ganha muito menos. Eles acompanham o sofrimento dessas pessoas. Talvez seja a pior coisa para administrar. Você administra, mas nunca é 100%".

Rótulo

"Há dois aspectos: a minha tristeza e o entendimento da cultura brasileira. O que me conforta é que há pessoas que acreditam e dão a oportunidade de me mostrar. Há pessoas que me julgam com o preconceito natural da vida, mas muitos tabus estão sendo quebrados. Quero contribuir para acabar com o preconceito. Se já estudava muito, agora estudo muito mais. A crítica não me abate, a crítica me dá oportunidade de melhorar. Essas coisas não colam em mim, eu estudo, eu não paro, não conto histórias e fico dizendo o que fiz. As pessoas só se interessam pelo que eu posso fazer". 

Legado desejado

"Quero deixar um legado de mudança radical no conceito da maturação do jogador. Se obtém frutos excepcionais a partir disso. Isso diminui os custos do futebol brasileiro, não tem como seguir com esses custos altos. Há vários exemplos de clubes que melhoraram sua gestão e estão num caos novamente cinco anos depois, estão todos atrás de grife. No momento em que se coloca mais jogadores no mercado, essas grifes vão desaparecer e você não vai ficar restrito a alguns jogadores caríssimos. É o legado que quero deixar, é o de fazer entender que o futebol brasileiro precisa amadurecer seus jogadores. Olho no mercado e não encontro jogadores. Se vou aqui e trago um jogador de um clube menor, vou passar por um crivo de críticas. O preconceito acaba quando você tem profusão de jogadores no mercado".

Papel do executivo

"A insegurança passava pelo treinador, e a forma dele se sustentar era pelo poder, pois ele era o primeiro a cair. Hoje, em uma visão equivocada da minha classe, passamos a ser alvo disso também. Eu pago esse preço. Eu não contrato, quem contrata é o clube, eu não sou dono do clube. Eu sou paciente, eu delego. Tenho paciência para modificar, tento ajustar as pessoas com serenidade. Eu prefiro me adaptar do que as pessoas se adaptarem a mim, isso é uma regra de vida, na minha própria casa. Dou várias oportunidades para o enquadramento. Se insistir no erro, não está prejudicando a mim, mas o conjunto. Minha porta está sempre aberta, converso com todo mundo. Quando tem divergências, tento mostrar a partir de convicções a razão da minha divergência".

Qualidade do espetáculo

"Não gosto, precisamos melhorar muito. A gente tem de melhorar muito a educação do jogador no campo. Precisamos ter uma educação melhor. Chegamos num momento de ter espetáculo. Se você melhora a disciplina do jogo, sobe o rendimento da qualidade. Mas os clubes têm de contribuir para isso. É uma deterioração de anos. Quais ações foram feitas? Falta um pensar no futuro, o futebol, tem pouco debate. Abrir uma roda de debate é raro.

Postura do jogador

"É um direito dele (levantar a bandeira que quiser). O profissional para viver no futebol tem de ter preparo, o jogador é um julgador. Ele passou a ter uma abrangência maior, uma visão mais ampla. Existe uma cobrança com conteúdo".

Sistema dos clubes

"Cada clube tem uma caixa, a sua forma de enxergar as coisas. Você tem de ter muito cuidado quando chega. Se você chega e inclina um pouquinho a caixa, você já começa a trazer problema para você mesmo. Tem de ter muito cuidado ao mexer com a caixa. Se mexer muito rápido, ela te destrói. Cada clube é uma caixa, são instituições diferentes. Cada clube é um modelo, mas todos eles são inseguros. O futebol se resume a insegurança".

Colaboração entre os clubes

O Clube dos 13 virou um distribuidor de receitas, só tinha esse viés. Hoje existe um intercâmbio entre os executivos, trocamos idéias. Mas as instituições precisam se organizar. A CBF tem contribuído para isso, eles vem ofertando mecanismos para melhor qualidade do profissional de futebol. A partir do momento que encampam melhorar a formação do profissional, vão abrir até chegar na área da direção do futebol.

Envolvimento com a política 

"Acabo participando nas reuniões semanais com os gestores da área, mas fico afastado, o CT é meu nicho".

Melhoras no CT

"Estou diariamente com o Gustavo Ribeiro (diretor do CT). Caminhamos para a conclusão da sala de imprensa. O prédio administrativo é um segundo momento. A sala de imprensa e o refeitório são coisas que estamos caminhando agora. O Fluminense do amanhã é lá, temos paz, tranquilidade. Não está pronto, mas ninguém pode reclamar do que temos lá".