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Manutenção de veteranos da Copa indica que Tite fará renovação gradual

Tite durante convocação da seleção brasileira  - Pedro Martins/Mowa Press
Tite durante convocação da seleção brasileira Imagem: Pedro Martins/Mowa Press

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

18/08/2018 04h00

A convocação da seleção brasileira desta sexta-feira inaugura para Tite um novo ciclo. Por um lado, o treinador dá oportunidade a jovens como Pedro, Paquetá e Everton. Por outro, mantém na lista 12 jogadores que disputaram a Copa do Mundo deste ano, na Rússia. As escolhas do treinador indicam que ele não abandonou totalmente suas convicções, e que o processo de renovação do Brasil será gradual.

Algumas escolhas são peças importantes no planejamento de longo prazo, com idade para chegar na edição de 2022 do Mundial, o Qatar, no auge. São os casos de Alisson, Marquinhos, Casemiro, Fred, Coutinho, Douglas Costa, Firmino e Neymar.

Na defesa, a opção pelo experiente Thiago Silva pode ser justificada pela falta de muitas opções para posição, já que jovens que poderiam ser chamados ainda estão em ascensão para dar início a um processo de mudança. Além de convocar novamente Marquinhos, o treinador deu oportunidade para Dedé e Felipe, que já tem mais rodagem, mas ainda com boa idade para 2022.

O mesmo cenário de Thiago Silva pode justificar a escolha por Filipe Luís, que terá 37 anos na Copa do Qatar, mas tem na disputa por posição jovens como Wendell, do Bayer Leverkusen, e Guilherme Arana, do Sevilla, que ainda buscam uma afirmação no futebol europeu.

Há, entretanto, um terceiro grupo de remanescentes. Atletas como Fagner, Renato Augusto e Willian sinalizam que Tite não deve se dobrar diante das críticas que recebeu durante a Copa da Rússia. Durante o Mundial, a comissão brasileira foi alvo de contestação pela gestão das lesões do elenco e pela insistência de Tite em alguns atletas de confiança que não renderam o esperado. 

O caso mais emblemático é o de Willian, um dos jogadores brasileiros mais criticados por torcida e imprensa durante a competição. O atacante do Chelsea tem 30 anos, e chegaria em 2022 com 34, já veterano. Isso torna incerta sua permanência nos planos durante todo o ciclo. Na posição em que joga existe a maior oferta de atletas jovens e promissores, caminhos claros para um processo de renovação – David Neres, Richarlison, Malcom, Vinicius Júnior e Rodrygo são opções. 

Fagner tem 29 anos, e terá 33 em 2022. O lateral corintiano é homem de confiança de Tite, fez uma boa Copa, mas iniciou a competição como reserva. Apesar do bom desempenho, não chega a ser referência técnica na posição. Fabinho, convocado por Tite, e Danilo, mais jovem que Fagner e que também esteve no Mundial, eram os dois que apareciam com maior probabilidade de começar o novo ciclo de Tite na seleção.

Renato Augusto tem 30 anos, atua no futebol chinês, e foi o ponto focal dos problemas na gestão de lesões do elenco brasileiro. O meio campista sofreu uma sobrecarga de treinamentos na reta final da preparação, e acabou sendo pouco aproveitado durante a competição. Esteve bem quando entrou em campo, mas o fez por apenas 50 minutos. Os problemas contínuos de lesão viraram motivo para o questionamento da permanência do jogador no novo ciclo até o Qatar. Além disso, assim como acontece com Willian, Renato joga em uma posição com boas opções para renovação.

Outros podem receber nova chance

Mesmo no discurso, Tite tratou de blindar e proteger jogadores que estiveram na Copa mas ficaram de fora da convocação. “Dentro dessa lógica que colocamos, temos um objetivo a curto prazo que é importante. Trouxemos um atleta que esteve na Copa e outro que não esteve para dar oportunidade. É inquestionável falar do campeonato que fez o Miranda, ou do goleador que é Gabriel Jesus, ou de Marcelo”, afirmou.

A convocação com metade dos jogadores tendo disputado a Copa vem na fase que o coordenador técnico Edu Gaspar definiu como o principal laboratório de testes do ciclo até o Qatar. "Dividimos o novo ciclo em três fases. A primeira fase, consideramos curto prazo, a segunda, médio prazo, a terceira longo prazo. Entendemos que o curto prazo, as convocações terão leque maior de observação para potencializar equipe para a Copa América”, afirmou

O cenário indica que o técnico brasileiro, ao mesmo tempo em que dá início à renovação, marca território. Tite mostra lealdade aos seus homens de confiança, e sinaliza que a eliminação na Rússia e as críticas que vieram com ela não tem o efeito de mudar suas convicções. O processo deve se dar sem rupturas, de forma gradual, com veteranos do ciclo anterior participando da transição.

O Brasil enfrenta a seleção dos Estados Unidos no dia 7 de setembro, em Nova Jersey (EUA), e a de El Salvador no dia 11, em Washington.