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Capitania não é prêmio, e Tite espera que Neymar "mostre a cara" na seleção

Com a faixa de capitão, Neymar comemora segundo gol da seleção brasileira - Pedro Martins / MoWA Press
Com a faixa de capitão, Neymar comemora segundo gol da seleção brasileira Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Pedro Ivo Almeida e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

08/09/2018 04h00

Na última quinta-feira, Tite tomou uma decisão surpreendente. Encerrou o rodízio de capitães na seleção brasileira, e concedeu o posto a Neymar em caráter definitivo. O UOL Esporte apurou que a braçadeira não é um prêmio, e sim uma pressão. O treinador pretende, deliberadamente, aumentar a responsabilidade e os holofotes sobre seu camisa 10, e espera dele uma reação, assumindo a posição de líder da equipe.

Pessoas que participaram do processo de decisão reconhecem que o “cargo” de capitão traz consigo pressão adicional. A ideia é justamente que esse ambiente de pressão contribua para o desenvolvimento do atacante. Um dos pontos chave é aumentar a representatividade do jogador enquanto o principal nome da seleção brasileiro.

Isso passa por ampliar e melhorar seu contato com a imprensa. Com a tarja, Neymar estará ao lado de Tite em entrevistas coletivas antes das partidas. O objetivo é que o craque seja mesmo exposto a questionamentos e funcione como uma das principais vozes do time, e que suas reações estejam sobre a mesa e sejam avaliadas.

A comissão reconhece que há risco na decisão. A pressão irá aumentar nos próximos meses. Na vitória por 2 a 0 sobre os EUA nesta sexta – primeira partida de Neymar como capitão - Yedlin, zagueiro da equipe norte-americana, tentou citar a fama de “cai-cai” colocada sobre o camisa 10 durante a Copa em uma discussão sobre arbitragem. No ano que vem, na esteira de três eliminações traumáticas em Mundiais, o Brasil disputará em casa uma Copa América com quase obrigação de vencer.

A expectativa, entretanto, é de que Neymar cresça em meio a esse risco. Tite tem evitado entrar em detalhes sobre a decisão. O discurso é de que as atitudes do novo capitão dirão mais do que as palavras do treinador. “Vocês vão estar com olhos todos voltados nele. Mas do que falar, quero falar pouco, mas ser cumplice das atitudes dele, que ele possa crescer cada vez mais. Sem tirar a audácia, a finta no último terço, que é característica dele, e do jogador brasileiro. Não vou retirar, são adaptações mesmo. São as atitudes que vão falar por si só, vocês vão ter condição de acompanhar”.

Antes da chegada da seleção a Nova Jersey, não havia qualquer sinal da medida. O discurso de gente ligada à CBF era de que o rodízio de capitães tendia a continuar no ciclo. Veículos de imprensa ouviram de pessoas ligadas ao estafe de Neymar que ele provavelmente não atenderia à mídia durante a passagem pelos EUA. Na quinta-feira, véspera do confronto contra os anfitriões, o enredo foi outro.

O capitão da vez, que daria entrevista coletiva junto com Tite, não foi anunciado. Após alguns minutos de espera além do normal, o treinador entrou na sala de imprensa acompanhado de Neymar e fez o anúncio. Sorridente, o atacante concedeu entrevista coletiva, algo que não chegou a fazer durante a Copa; depois do confronto diante do México, nas oitavas de final, chegou a sentar ao lado do técnico, mas foi blindado na primeira pergunta e deixou o local.

O ciclo para 2022 acabou de começar, e a passagem pelos EUA traz dois amistosos contra adversários de menor expressão. Ao longo dos treinamentos, Neymar interage frequentemente com os recém-chegados à seleção, fazendo brincadeiras. Na vitória contra os donos da casa dessa sexta, sofreu apenas uma falta. Depois da partida, sorridente, parou diversas vezes, em pontos diferentes da zona mista, para conversar com jornalistas.

O caminho para a próxima Copa está apenas começando, junto com a nova trajetória de Neymar como capitão da seleção. Os próximos meses serão fundamentais para a avaliação do acerto da medida Tite, que só será definitivo se o camisa 10 entrar em campo no Qatar, daqui a quatro anos, com a braçadeira. A estrada é longa, e o próximo passo é o confronto diante de El Salvador, nesta terça-feira, no Fedex Field, em Washington.