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Brasil começa ciclo com novatos em alta, Neymar líder e calendário polêmico

Jogadores da seleção brasileira comemoram gol em amistoso contra El Salvador - Pedro Martins / MoWA Press
Jogadores da seleção brasileira comemoram gol em amistoso contra El Salvador Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Pedro Lopes

Do UOL, em Washington, DC (EUA)

12/09/2018 13h29

Com vitórias sobre os Estados Unidos, por 2 a 0, e El Salvador, por 5 a 0, o Brasil encerrou sua passagem pelo território americano e deu início a um novo ciclo visando a Copa do Qatar, em 2022. Contra equipes claramente inferiores, os resultados dentro de campo foram previsíveis. A amostra é pequena, mas o começo de um novo trabalho com Tite teve algumas marcas. Dentre ela, a ascensão rápida de alguns novatos, a escolha por Neymar como capitão definitivo e um conflito constante com o calendário do futebol nacional, que acabou limitando a atuação de Paquetá, uma das apostas da comissão técnica.

Alguns dos jovens largaram na frente e corresponderam em treinamentos e partidas, enquanto outros não brilharam, mas não fecharam portas. Dentre os "veteranos", há quem precise trabalhar mais para permanecer nos planos. Neymar deu sinais de amadurecimento com a braçadeira, e Tite foi confrontado com os problemas do calendário brasileiro, forçado a adotar medidas para contorná-los.

Richarlison e Arthur largaram na frente e impressionaram. Marquinhos consolida liderança

Richarlison e Neymar comemoram gol na vitória do Brasil sobre El Salvador - AP Photo/Patrick Semansky - AP Photo/Patrick Semansky
Richarlison faz a "dança do pombo" com Neymar após seu primeiro gol
Imagem: AP Photo/Patrick Semansky

Dentre os estreantes na seleção, Arthur e Richarlison impressionaram. O meio-campista do Barcelona tinha impressionado Tite no dim de 2017, quando foi convocado, e manteve o ritmo nos Estados Unidos. Mostrou personalidade nos treinamentos, jogando entre os titulares antes da vitória sobre os anfitriões, marcando gol e sempre se destacando. Iniciou o confronto contra El Salvador e, em que pese a fragilidade do adversário, fez o que dele se esperava, com passes precisos e lucidez.

Richarlison também teve bom desempenho nos treinamentos, particularmente em finalizações, e desencantou rapidamente ao receber chance contra os salvadorenhos. Sofreu um pênalti, marcou duas vezes, e praticamente garantiu seu lugar nesta primeira fase de renovação. Marquinhos, como esperado, desponta como uma âncora da defesa neste começo de ciclo. Foi titular nas duas partidas, atuou por alguns minutos como lateral-direito e deixou sua marca contra El Salvador.

Outros "novatos" não brilham, mas mantém portas abertas na seleção

Outros nomes como Éder Militão, Andreas Pereira e Everton não tiveram o mesmo destaque, mas cumpriram sua função. São jogadores que enfrentarão concorrência até o fim do ano, etapa na qual o coordenador Edu Gaspar afirmou que irão ocorrer um maior número de experiências. Se não consolidaram de vez seu lugar com Tite, é impossível dizer que foram mal, e devem seguir com as portas abertas para os próximos amistosos, em outubro, contra Árabia Saudita e Argentina.

Veteranos não aproveitaram as oportunidades e podem sair em baixa

Alex Sandro por pouco não disputou a Copa de 2018, e, diante da idade mais avançada de Marcelo e Filipe Luís, é a principal aposta da lateral esquerda. Depois de ficar entre os reservas contra os Estados Unidos, o jogador da Juventus foi um dos poucos nomes com atuação discreta diante de El Salvador. aparecendo pouco no ataque e deixando a desejar.

Willian, titular durante o Mundial na Rússia, começou os dois jogos no banco de reservas. Quando entrou, não fez muito para impressionar Tite. Diante de El Salvador, teve uma chance clara de gol, mas bateu em cima do goleiro Hernandez. Um dos jogadores mais criticados na Copa, o meia do Chelsea não sairá facilmente dos planos de Tite. Com concorrência pesada de promessas como Rodrygo, David Neres, Malcom e Vinicius Júnior, precisará, entretanto, mostrar mais.

Escolhido como capitão, Neymar dá sinais de amadurecimento

Neymar, com a faixa de capitão, batalha pela bola com atleta dos Estados Unidos - Pedro Martins / MoWA Press - Pedro Martins / MoWA Press
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Tite encerrou o rodízio de capitães e "efetivou" Neymar como dono definitivo da posição. Nos Estados Unidos, o atacante deu sinais de amadurecimento: passou bastante tempo junto aos mais jovens, atuando para integrá-los rapidamente ao elenco. Mostrou serenidade e paciência com imprensa e torcedores, dando autógrafos e entrevistas. Bem-humorado, parou por diversas vezes para atender jornalistas e respondeu a todas as perguntas.

A fama de cai-cai que o infernizou na Copa o seguiu aos Estados Unidos, mas é difícil culpá-lo. Contra os norte-americanos, sofreu uma falta e viu o zagueiro adversário relembrar o Mundial para tentar cooptar a arbitragem. Contra El Salvador, recebeu um amarelo por simulação em um lance no qual houve choque com o zagueiro adversário. O camisa 10 se irritou com oponente e árbitro e deu declarações contundentes. Aos 26 anos, não virou um veterano da noite por dia, mas sinaliza uma postura mais tranquila e madura.

Dentro de campo, a liderança técnica apareceu. Contra os Estados Unidos, acabou ofuscado pela atuação de gala de Douglas Costa, o melhor em campo, mas foi participativo e deixou sua marca, de pênalti. Contra El Salvador, em que pese a fragilidade do adversário, fez seu trabalho, destruindo a defesa adversário com jogadas individuais e terminando com um gol e três assistências.

Calendário brasileiro é polêmica constante e limita Paquetá

Paquetá, do Flamengo, foi uma das novidades de Tite na lista após a Copa do Mundo - Pedro Martins / MoWA Press - Pedro Martins / MoWA Press
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Com Dedé, Paquetá e Fagner convocados para os amistosos e tendo compromissos decisivos pelas semifinais da Copa do Brasil nesta quarta, um dia depois da goleada sobre El Salvador, o calendário brasileiro foi uma polêmica constante no início de ciclo. Fagner acabou cortado, mas Tite terminou por fazer concessões: primeiro admitiu o problema, reconhecendo que beneficiou o Palmeiras ao não convocar nenhum jogador alviverde. Depois, limitou os minutos de Paquetá e Dedé.

A polêmica acabou atrapalhando Paquetá, que chegou um pouco mais desgastado fisicamente aos Estados Unidos. O meia foi introduzido gradualmente aos treinamentos e acabou começando no banco nas duas partidas. Jogou 19 minutos contra os americanos e pouco mais de 30 contra El Salvador. Em um voo fretado em parceria entre Flamengo e Cruzeiro, foi levado às pressas para o Brasil após a goleada para entrar em campo nesta quarta.

O caso de Fagner ampliou a polêmica. Cortado da seleção no último dia 2, com um prognóstico anunciado pelo Corinthians de três semanas de recuperação, o lateral voltou aos treinos nesta segunda – dez dias depois – e deve estar em campo nesta quarta. A sequência de acontecimentos gerou revolta no Flamengo e surpresa na CBF.

Depois de tudo, Tite anunciou que não convocará nenhum atleta envolvido na final da Copa do Brasil para a próxima rodada de amistosos, nos dias 12 e 16 de outubro. A seleção irá encarar a Árabia Saudita e seu primeiro adversário de peso deste ciclo, a Argentina, na Árabia.