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Mbappé tem fama de "mini Obama" por ser bom de discurso, mas já levou dura

Mbappé com traje de gala ao ser apresentado no PSG em 2017 - Foto: Divulgação/PSG
Mbappé com traje de gala ao ser apresentado no PSG em 2017 Imagem: Foto: Divulgação/PSG

João Henrique Marques

Do UOL, em Paris

12/09/2018 04h00

Terno, camisa branca e uma gravata clássica. Kylian Mbappé é quem investe no traje de gala para ser apresentado no Paris Saint-Germain aos 18 anos. O discurso com vocabulário rico chama atenção e parece ensaiado. Nada disso. O posicionamento do atacante impressiona a todos até hoje e rende entre os franceses do clube o apelido de "mini Obama", em alusão ao "Rei da oratória", o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

Mbappé não tem assessor particular ou profissionais para orientá-lo com palavras e posicionamentos nas redes sociais. Mas o estilo confiável deu lugar a recentes problemas no PSG. Foi a primeira vez que o jovem pagou pela língua.

"Eu não me arrependo do meu gesto. Se sofresse outra coisa assim, eu faria novamente. Eu não posso tolerar esse tipo de ação no campo. Vou ao Comitê Disciplinar para me defender", disse Mbappé após ser expulso por agredir Teji Savanier, volante do Nimes, em confronto vencido pelo PSG por 4 a 2, dia 25 de agosto, em partida válida pelo Campeonato Francês.

Dias depois, Mbappé foi punido pela Ligue 1 com três jogos de suspensão. No PSG, a análise foi de que o discurso desbocado contribuiu para a dura pena. E o departamento de comunicação do clube já voltou a trabalhar com blindagem ao jovem francês.

"Mbappé compõe uma narrativa perfeita para um homem maduro na cidade de Paris. Parece o típico político que, quanto maior a liberdade permitida, maior será a demonstração de conhecimento. Isso, ao meu ver, é o que o deixa tão confiante nas palavras e que acaba o prejudicando”, comentou o jornalista francês, Arnaud Tulipier, chefe de reportagem da France  Football.

O camisa 7 sempre foi visto internamente como sábio com as palavras. O "mini Obama" foi pela primeira vez citado pelo companheiro de seleção, o lateral esquerdo Mendy, do Manchester City, em comentário no vídeo de apresentação de Mbappé. O apelido se espalhou pelo clube a cada vez que o atacante discursava.

"O Mbappé sabe que ele tem carisma e o usa no discurso. As emoções são sempre controladas de maneira serena e incrível para quem tem 19 anos. É o nosso mini Obama", endossou Mendy em entrevista ao jornal esportivo francês L’Equipe, pouco após a conquista da França na Copa do Mundo.

O tema foi explorado na França recentemente justamente por conta da conquista de Les Bleus na Copa do Mundo. Na primeira entrevista como campeão ainda no gramado, Mbappé respondia pergunta sobre ser comparado a Pelé com o gol na final quando foi interrompido por empurrões e gritaria de Antoine Griezmman: "Bom, como eu ia dizendo, me sinto lisonjeado de estar elevado a esse nível. Mas isso não pode gerar acomodação, e sim, a sabedoria de que foi apenas uma etapa inicial da carreira", afirmou calmamente o camisa 10 da seleção.

O histórico de Mbappé

A eloquência no discurso de Mbappé é avaliada na França como fruto dos estudos compartilhados com o futebol. Já com jogador profissional do Monaco, em 2016, o francês concluiu o Ensino Médio sendo bacharelado em Ciência e Tecnologia de Gestão – uma formação prévia ao Ensino Superior.

Kylian Mbappé nasceu em Paris em dezembro de 1998. A família é de esportistas. O pai Wilfrid Mbappé Lottin, um nativo de Camarões, é ex-jogador de futebol e tornou-se treinador de jovens jogadores. A mãe é Fayza Lamari, originária da Argélia, é ex-atleta profissional de handebol.

Em documentário exibido pela TV L’Equipe sobre o histórico de Mbappé, um dos pontos mais destacados foi o patriotismo. O capítulo sobre o camisa 7 conta que ele programou a doação do prêmio a ser recebido na Copa do Mundo e mostra um firme discurso de argumentação antes de a bola rolar na Rússia.

"Eu não preciso de dinheiro para jogar a camisa do Bleus. É apenas uma grande honra", declara o "mini Obama".