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Peres minimiza poder de vice e diz que futebol se aproxima do crime

Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC
Imagem: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Do UOL, em São Paulo (SP)

13/09/2018 19h23

Acuado pela crise política que culminou em votação que pode destituí-lo da presidência do Santos, José Carlos Peres não tem poupado palavras para se defender e atacar o seu vice, Orlando Rollo. Nesta quinta-feira (13), na Vila Belmiro, o dirigente adotou a estratégia de minimizar a influência do agora ex-aliado no processo e no futuro do clube, caso permaneça.

Peres concedeu entrevista no CT Rei Pelé minutos antes de Rollo convocar a imprensa, também em Santos, para comentar sobre os dois processos de impeachment acatados pelo Conselho Deliberativo do clube, e que serão votados pelos associados no dia 29 deste mês. De frente para o microfone, o presidente partiu para o ataque ao dizer que foi "espetado" pelo vice nos bastidores e prometeu limitar a atuação dele caso saia vitorioso da disputa.

"Nunca houve um racha oficial. Houve essas espetadas, é duro. Ninguém sabe quem é o vice. Quem governa é o presidente. Quem está respondendo por dois impeachments sou eu. Vice tem de estar no lugar dele, de colaborar com o clube. Não prometi nada (cargo) a ninguém. Sou contra. A ideia é profissionalizar o clube. Contratação e dispensa quem faz é o executivo de cada área. O que fazer depois do dia 29? Já estou fazendo agora. Dei a ele futebol feminino, esporte olímpico e segurança. Vou fazer modificações. Vou deixar só no CG (Conselho de Gestão). Vinculou-se que ele iria fazer uma proposta: se o presidente renunciar, eu renuncio. Não. Ele que renuncie. Por que tem de me esperar? Tenho 70 anos de idade. Tenho muitos defeitos. Todos nós temos, é a vida. De todos os meus defeitos, um que eu não tenho é a desonestidade", disparou Peres.

"A cabeça é dele (Rollo), as insatisfações são dele. Não o ataquei, só falei verdades. Respeito-o como ser humano. Não será meu inimigo nunca porque não tenho inimigo, isso foi algo que tive de berço. A gestão está pífia? Baseado em quê, se você não administra o clube? Quem está fora não pode falar que a administração está pífia", completou.

Peres, acusado de infringir o estatuto do clube por ser sócio de uma empresa que agencia jogadores durante a gestão (o que ele nega) e também de tentar não submeter a contratação de atletas ao crivo do Comitê de Gestão, disse que há opositores torcendo contra o Santos durante o processo de impeachment e que a instabilidade política 

"Nunca torci contra o meu time, nem quando estava insatisfeito. Fico muito triste que tenha pessoas que, pelo interesse, pelo poder, torcem contra", apontou Peres. "É um boicote diário, essa é uma grande realidade. A situação do clube era caótica", enfatizou.

Durante a entrevista, Peres defendeu a ideia de clubes brasileiros se tornarem Sociedades Anônimas (empresas) para evitar o interesse político e prevalecer a gestão consciente das finanças. Mas, em seu argumento, disse que o futebol se assemelha ao crime organizado.

"O futebol é muito próximo do crime. Enquanto o futebol não tiver dono, como é na Europa...", interrompeu. Para explicar melhor a teoria, usou como exemplo a Juventus, da Itália, que foi punida por manipulação de resultados na década passada e ressurgiu como força do futebol mundial após anos de reconstrução. "O futebol brasileiro tem de ter dono. O futebol das Américas tem de ter dono. O dono não se submete a esse tipo de chantagem. Todo mundo acha que tem de dar emprego aqui dentro. A gente não pode ser o RH da cidade (de Santos)", criticou.

Para pedir o voto de confiança dos sócios na votação do impeachment, o presidente do Santos aproveitou também para criticar o Conselho Deliberativo do Santos, a quem acusa de "golpear" o estatuto.

"O que se faz aqui na Terra se paga. Espero que o associado reflita e dê uma resposta no dia 29. Lembrando que eu fui eleito pelos associados. Quem manda no clube é sócio, não adianta vir nessa aventura de quem manda é o Conselho. Eu participei daquela casa e sei como funciona, infelizmente", afirmou.

Política e futebol andam separados, segundo Peres

Na entrevista coletiva, concedida após a apresentação oficial do atacante Felippe Cardoso, ex-Ponte Preta, Peres vangloriou-se de evitar que a política conturbada tivesse impacto nos resultados em campo. O Santos vem de rodadas de invencibilidade no Campeonato Brasileiro, afastando-se da zona de rebaixamento.

"Existe uma virtude de não misturar as coisas. A primeira preocupação foi separar o CT, aqui não entra mais empresário. Quem frequenta aqui há muito tempo sabe que vivia cheio de empresário. Agora fechou a porta, só entra comissão técnica, jogadores, os funcionários e vocês (jornalistas). Aqui só se fala de futebol, e foi importante. Por isso os resultados vieram. Depois do jogo contra o Cruzeiro (eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil), eu abracei a equipe, passei a acompanhar mais a comissão técnica. O mais importante é ter humildade daqui para frente", disse o dirigente, que transferiu os méritos da reação ao técnico Cuca e ao elenco alvinegro.

"Os resultados não vieram por causa de mim, mas quem contratou o Cuca foi eu. Ele me surpreendeu. É de uma sinergia absurda. O jogador entra em campo a 150 por hora. O crédito é da comissão técnica e dos jogadores. Eu dei a minha cara para bater e dei apoio. O resultado é do Cuca e da comissão técnica."

Confira outras declarações de José Carlos Peres no CT Rei Pelé:

Briga interna por poder

"Eu trabalho 14, 15 horas por dia. Houve problema com as pessoas que têm interesse no clube. Gastaram milhões para conseguir dois impeachments políticos, sem dolo. É lamentável pela grandeza do clube. O presidente do Conselho Deliberativo reconhece que o estatuto é confuso e permite que 20 pessoas possam conturbar o ambiente do Santos. Pessoas com interesse contrariado. É bom ressaltar que clube está organizado, com pagamentos em dia. Existe um entulho financeiro para pagar de gestões anteriores, R$ 119 milhões até dezembro. Foram acumulando dívidas e jogando para frente. O clube fatura R$ 8 milhões e gasta R$ 12 (milhões). Há muito a fazer, mas tem Comitê de Gestão para passar tudo por lá. Tem de se modernizar, dar exemplo."

Caos administrativo

"Falar em caos é para quem interessa. O clube nunca esteve tão organizado. Abro a porta para os jornalistas verem financeiro, marketing. Nunca tivemos marketing como agora, e a torcida está adorando. Fazemos tudo o que prometemos. Só não esperava ter fogo amigo, que me espetou desde o primeiro dia. Isso foi exposto, quando nunca deveria ser. Não frequento redes sociais, não ataco, e informações são passadas. Documentos sobem, é um boicote diário. Temos de ficar alertas e correr atrás. Desculpe o desabafo. O clube está funcionando 100%, quem administra somos eu e Comitê de Gestão."

Eleição do dia 29 de setembro

"Só lamento que o estatuto está sendo golpeado. É eleição de presidente e não tem urnas em São Paulo. Eu estaria brigando se só tivesse urnas em São Paulo. Santos e São Paulo são uma cidade só, separadas por alguns quilômetros. O Santos é de São Paulo, do Brasil e do mundo. Temos de nos abraçar, dar as mãos. Estou muito feliz com a Vila Belmiro e com o Santos. Terceiro jogo que lotamos a Vila. Quando aconteceu? Compraram a briga, e estamos preparados para ganhar no domingo (contra o São Paulo, pelo Brasileirão). Se ganharmos, será mais um upgrade. É só manter o foco".