Topo

Aluno da UFPR é agredido por torcedores do Coritiba; Motivo seria político

DCE UFPR
Imagem: DCE UFPR

Brunno Carvalho, Gustavo Setti e Napoleão de Almeida

Do UOL, em São Paulo

10/10/2018 17h01

Um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi agredido na noite da última terça-feira (9) por 10 homens vestidos com camisetas da Império Alviverde, uma das principais torcidas do Coritiba. Khaliu Turt foi atingido com chutes e garrafadas na cabeça na escadaria da instituição, de acordo com o Boletim de Ocorrência registrado pela Polícia Militar.

O relato do Diretório Central Estudantil (DCE) da UFPR no Facebook diz que o caso teve motivação política. Turt estaria usando um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e os agressores teriam gritado o nome do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no momento do ataque. A versão não consta no Boletim de Ocorrência.

"Só ele estava com o boné em um grupo de amigos. Falaram que iam votar no Bolsonaro e bateram nele. Eles entraram na quadra já gritando Bolsonaro, encontraram ele com o boné e agrediram. Tem bastante gente que fica aqui. A gente imagina que eles não tenham visto logo de cara. Eles chegaram procurando", disse Matteus Henrique, secretário-geral do DCE, ao UOL Esporte.

Vidros do Diretório Central Estudantil da Universidade Federal do Paraná foram quebrados no ataque - DCE UFPR - DCE UFPR
Vidros do Diretório Central Estudantil da Universidade Federal do Paraná foram quebrados no ataque
Imagem: DCE UFPR

Henrique diz ter passado pelo local minutos antes do ocorrido. "Voltamos e vimos depois. Não estava no começo da confusão. Ninguém conhecia nenhum dos agressores. Eles não pareciam da universidade. Estavam com a roupa de torcida organizada do Coritiba. Os 10 estavam com o uniforme".

Em contato com o UOL Esporte, o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa), disse não ter confirmação de que a confusão teria acontecido por motivação política, mas que alguns agressores já teriam sido identificados.

De acordo com ele, a DHPP trabalha com três linhas de investigação para determinar o motivo que causou a briga: desentendimento corriqueiro, briga de torcida organizada ou motivação política.

O estudante Kaique Romaiollo estava em um bar em frente à escadaria da UFPR no momento em que a confusão aconteceu. De acordo com ele, Khaliu Turt estava no mesmo estabelecimento quando decidiu atravessar a rua para conversar com conhecidos. Na sequência, a confusão teve início.

"No começo, achávamos que era uma briga de torcida, porque quem estava batendo usava a camisa da Império Alviverde. Mas aí ouvimos alguém gritando 'Bolsonaro, Bolsonaro'. Começaram a bater nele [Khaliu] e todo mundo começou a correr. Uma menina entrou na frente da confusão e um deles gritou: 'é Bolsonaro, sua p...'", relatou.

O UOL Esporte conseguiu outros relatos de pessoas que estavam no local do momento da confusão, que afirmaram que Khaliu estava com um boné do MST e que gritos de 'Bolsonaro' foram ouvidos durante a agressão.

ATENÇÃO: IMAGEM FORTE

Khaliu Turt, aluno da Universidade Federal do Paraná, foi agredido por torcedores do Coritiba - DCE UFPR - DCE UFPR
Khaliu Turt, aluno da Universidade Federal do Paraná, foi agredido por torcedores do Coritiba
Imagem: DCE UFPR

O presidente da Império Alviverde, Juliano Nicolosi, disse ter sabido do caso por mensagens pelo WhatsApp. De acordo com ele, nenhum membro da torcida organizada assumiu a autoria do caso até o momento.

"A gente precisa primeiro confirmar se os agressores são mesmo membros da torcida. Muitas vezes, as pessoas usam a camisa [da Império Alviverde], mas não têm relação com a organizada", explicou.

Nicolosi afirmou que a Império Alviverde não defende nenhum movimento político e que o estatuto da organizada prevê desde advertência verbal até expulsão em determinados casos. Segundo ele, a primeira opção está descartada caso se confirme envolvimento de membros na agressão.

"Como o DCE é um nicho da esquerda, quem fez isso pode ter provocado para ter uma reação. Não teve essa conotação política (por parte da torcida). Se aproveitaram do momento para fazer esse tipo de ação".

A UFPR divulgou um comunicado oficial sobre o caso. Em nota, a instituição lamentou o fato e afirmou que a Pró-reitoria de Administração e a Superintendência de Infraestrutura foram acionadas e tomaram as devidas providências para garantir a segurança do local.

Além da agressão a Khaliu Turt, os 10 homens teriam quebrado vidros da Biblioteca Central da UFPR e da Casa da Estudante Universitária.

A Universidade Federal do Paraná é localizada na região central de Curitiba, muito próximo ao Couto Pereira, estádio do Curitiba, e da sede da Império Alviverde. A distância entre a instituição e os outros dois locais é menos de 10 minutos a pé.

Confira a nota oficial da UFPR:

"A Universidade Federal do Paraná lamenta profundamente o ato de violência ocorrido em frente às suas dependências. Um membro da comunidade foi vítima de agressão física, aparentemente por seu posicionamento político. Ele já foi encaminhado para atendimento médico e não corre risco de morte. Vidros foram quebrados na Biblioteca Central e na Casa da estudante universitária.

A Pró-reitoria de Administração e a Superintendência de Infraestrutura prontamente foram acionadas e já tomaram as devidas providências para garantir a segurança no local e boletins de ocorrência foram registrados.

A UFPR repudia veementemente todo e qualquer ato de violência, de preconceito ou de discriminação e entende que os espaços universitários são ambientes de debate e do exercício de liberdade de opinião. Um espaço histórico e simbólico que deve se manter pleno da democracia e de continua resistência à intolerância, à violência e banidas as formas de opressão."