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Seleção vê defesa firme, ataque em xeque e renovação lenta após Copa

O atacante Gabriel Jesus em lance do amistoso entre Brasil e Argentina - REUTERS/Waleed Ali
O atacante Gabriel Jesus em lance do amistoso entre Brasil e Argentina Imagem: REUTERS/Waleed Ali

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Jeddah (Arábia Saudita)

17/10/2018 04h00

Quatro jogos, quatro vitórias. Dez gols marcados, nenhum sofrido. O saldo da seleção brasileira em seu novo ciclo visando a Copa do Mundo de 2022, no Qatar, segue positivo após os triunfos sobre Arábia Saudita (2 a 0) e Argentina (1 a 0) nos amistosos disputados em outubro no Oriente Médio.

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Mas, entre os adversários enfrentados pelo Brasil nesse período invicto, apenas os argentinos se apresentaram como um grande teste, capaz de render avaliações mais reais de prós e contras. E foi em Jeddah, na última terça-feira (16), que o técnico Tite fez um alerta sobre o ataque. O trio ofensivo formado por Neymar, Gabriel Jesus e Roberto Firmino, com Philippe Coutinho mais recuado como armador, não funcionou diante do rival sul-americano.

Por outro lado, o setor defensivo mostrou eficiência (até no ataque, com os gols marcados por Alex Sandro e Miranda) sem precisar passar por uma renovação drástica, ao contrário das demais posições da equipe. 

Ainda que um teste ou outro possa ocorrer na data Fifa de novembro, em que a seleção enfrentará o Uruguai, no dia 16, em Londres, a tendência é de que Tite consolide ainda mais o grupo para a Copa América de 2019, que será disputada no Brasil.

"Veteranos" comandam defesa firme, mas 4ª opção da zaga segue aberta

Miranda - Pedro Martins / MoWA Press - Pedro Martins / MoWA Press
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

A defesa é um dos pontos fortes da era Tite, que não levou gol em 20 dos 26 jogos que disputou com o treinador. Neste novo ciclo, Marquinhos, 24 anos, se firma como espinha dorsal da zaga, na companhia de Miranda e Thiago Silva, ambos com 34 e atuando em alto nível. Segue aberta, portanto, a briga para ser o quarto zagueiro do grupo. Pablo, ex-Corinthians e atualmente no Krasnodar, da Rússia, recebeu uma chance contra a Arábia Saudita, mas foi pouco exigido pelo frágil adversário.

Na lateral, a indefinição sobre quem tem lugar cativo no grupo é maior. Pela esquerda, Alex Sandro fez gol diante dos sauditas, mas não brilhou, enquanto Filipe Luis teve atuação mediana contra a Argentina. Pela direita, Éder Militão é visto como promessa, tem apenas 20 anos, mas esbanjou timidez nos treinamentos com a seleção em outubro e não impressionou a comissão técnica. Fabinho, ainda que atuando fora de posição, não cometeu erros, e Danilo sofreu nova lesão.

Sem nenhuma "cara nova" roubando a cena, velhos conhecidos da lateral seguem no radar de Tite para as próximas convocações, seja Marcelo, em má fase pelo Real Madrid (e cortado dos amistosos de outubro por problema muscular), e até Daniel Alves, que se recupera de lesão no joelho direito, sofrida em maio.

Titular contra a Argentina, Arthur sobra. Coutinho mostra apatia

Arthur - REUTERS/Waleed - REUTERS/Waleed
Imagem: REUTERS/Waleed

Uma das surpresas de Tite na escalação inicial que encarou a Argentina em Jeddah, o meio-campista Arthur foi um dos pontos positivos do amistoso de terça-feira. Sem demonstrar qualquer nervosismo, ele chefiou o setor ao lado de Casemiro e deu mais qualidade à saída de bola, além de quase marcar um golaço, no segundo tempo, em jogada ensaiada com Neymar.

Aos 22 anos, o jogador do Barcelona foi o único titular diante da Argentina que não esteve na última Copa do Mundo e, mais uma vez, deu indícios de que fincará de vez os pés no elenco verde-amarelo, mantendo a boa fase dos meio-campistas, com Casemiro, Fred e Renato Augusto.

Por outro lado, Philippe Coutinho, um dos pontos positivos da seleção na última Copa, não tem o que comemorar nos amistosos de outubro. Atuou em posições distintas - atacante pela esquerda contra os sauditas, meia-armador diante dos argentinos - e só demonstrou apatia e cansaço, com muitos erros de passes.

Trio ofensivo empaca; Neymar se destaca em assistências

Neymar - Pedro Martins / MoWA Press - Pedro Martins / MoWA Press
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Escalado pela primeira vez como titular com Tite, o trio de ataque formado por Neymar, Gabriel Jesus e Roberto Firmino não funcionou diante da Argentina, o mais forte adversário que encarou neste novo ciclo. O capitão da seleção brasileira teve dificuldades com a marcação rival, mas se destacou nas assistências - para Miranda, contra os argentinos, e Jesus, contra os sauditas.

No caso do atacante do Manchester City, o gol que não saiu durante a Copa da Rússia veio diante da Arábia Saudita, mas Gabriel não se adaptou como ponta aberto pela direita na partida contra a Argentina. Quando ficou mais centralizado, tentou tabelar com Neymar, mas sem sucesso. Já Firmino foi peça quase nula ofensivamente, apesar do empenho na marcação à saída de bola adversária.

Cara nova na seleção pós-Copa, Richarlison está aproveitando as chances que recebe. Anotou dois gols em setembro, diante de El Salvador, e conseguiu algumas boas jogadas entrando no segundo tempo contra Arábia Saudita e Argentina.

Renovação tende a ser gradual nos próximos compromissos

Troféu - Pedro Martins / MoWA Press - Pedro Martins / MoWA Press
Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Apesar de ter incrementado as duas últimas convocações com novos nomes e se demonstrar aberto a dar nova cara à seleção brasileira, Tite ainda não sente confiança plena em boa parte de suas apostas. O fato de apenas Arthur entre os novatos ser titular diante da Argentina é um dos indícios desse cenário, assim como a ausência de chances a Malcom no ataque.

As exceções, além de Arthur, são Fabinho e Richarlison, mais pelo futebol demonstrado por eles em setembro do que nos amistosos de outubro.

Outro ponto é o desejo de alguns veteranos, casos mais específicos de Miranda e Thiago Silva, em seguir como integrantes da seleção brasileira neste novo ciclo enquanto ainda estão em alto nível físico e técnico. A renovação lenta e gradual do grupo pode ter reflexos já na convocação para o amistoso contra o Uruguai, no dia 16 de novembro, em Londres.

“É um pepino essa convocação para novembro. É desafiador, difícil. Queremos oportunizar sem perder uma base. Vamos acompanhar os atletas que ainda não tiveram oportunidades e vão estar aqui. Outros que foram para Copa e quero ver. Quero avaliar isso tudo”, afirmou o treinador após a vitória sobre os argentinos.