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Testemunha diz que foi ameaçada por suspeito de matar jogador Daniel

Adriano Wilkson e Napoleão de Almeida

Do UOL, em São Paulo

01/11/2018 12h17

Uma testemunha que pediu para não ser identificada disse nesta quinta-feira (1º) que foi ameaçada pelo suspeito de ter matado o jogador Daniel Corrêa, que tinha contrato com o São Paulo, e cujo corpo foi encontrado com sinais de tortura em São José dos Pinhais (PR) no último sábado.

Segundo a testemunha, Edison Brittes Júnior, de 37 anos, conhecido como Juninho, se reuniu na segunda-feira com ela e outras três pessoas que presenciaram as agressões ao jogador para combinar o relato que fariam à polícia. A testemunha afirmou que não concordou em mentir e resolveu denunciar o caso às autoridades.

De acordo com o relato desta testemunha, cujo teor do depoimento já havia sido tornado público por meio de seu advogado, Daniel foi espancado na manhã de sábado depois que entrou em um quarto onde estava Cristiana Brittes, esposa de Juninho.

Juninho, Cristiana, Daniel, a testemunha e outras pessoas estavam na casa de Juninho depois de terem ido ao aniversário da filha do casal, que comemorava 18 anos.

Muito abalada e temendo represálias, a testemunha falou com a imprensa no escritório de seu advogado de defesa, o criminalista Jacob Filho. Ela detalhou o que viu na manhã de sábado, mas não respondeu às perguntas dos jornalistas. Horas antes, a Polícia Civil do Paraná anunciara a prisão temporária de Juninho e a condução da esposa e da filha para "averiguações". Na ficha policial, consta que o suspeito já tinha "indicativo criminal" por porte ilegal de armas e receptação.

Procurado pela reportagem, a defesa do suspeito disse que ele confessou o crime, mas afirmou que o fez porque Daniel teria estuprado sua esposa.

Testemunha relata espancamento e ameaças a Daniel

Em prints de WhatsApp anexados ao processo, aos quais a reportagem teve acesso, o jogador Daniel comenta com um amigo que estava na casa da família e pretendia "comer a mãe da aniversariante" e "o pai está junto". Dezessete minutos depois, o meia manda outra mensagem: "Comi ela, moleque", seguida de risadas e fotos ao lado de uma mulher, aparentemente dormindo.

De acordo com a testemunha, quem estava na casa ouviu do quarto gritos de uma mulher pedindo socorro para que "se evitasse uma tragédia". Quando a testemunha chegou, já encontrou Daniel sendo enforcado e espancado por Juninho.

Em seguida se juntaram outros homens ao espancamento. A testemunha disse que Daniel pedia para não morrer. Quando ele estava quase desfalecido, foi jogado no porta-malas de um carro. Durante o espancamento do jogador, a testemunha teria ouvido a frase: "Mexeu com mulher de bandido vai morrer."

Advogado Jacob Filho - Raquel Arriola/UOL Esporte - Raquel Arriola/UOL Esporte
Advogado Jacob Filho, que atua auxiliando testemunha do caso Daniel
Imagem: Raquel Arriola/UOL Esporte

Muito assustada, ela saiu do local e passou o fim de semana sendo procurado pela filha do suspeito, que queria encontrá-lo novamente na casa da família. A testemunha inventou desculpas para não ir, até concordar em encontrar a família em um shopping center de São José dos Pinhais, onde o suspeito teria informado qual versão da história eles deveriam dizer à polícia. Nessa versão fabricada, segundo a testemunha, Daniel teria saído da casa no meio da noite sem falar com ninguém.

O UOL Esporte apurou que a defesa de Juninho deve trabalhar com a tese de que Daniel fez sexo sem consentimento com a mulher do suspeito. De acordo com o depoimento de outra pessoa ouvida pela polícia, o jogador era amigo da filha do casal e tinha ido à casa da família mesmo antes de chegar à festa.

A boate Shed, em Curitiba, afirmou que fornecerá à polícia imagens do circuito de segurança da casa. No Instagram, a aniversariante postou fotos da família na festa. Daniel seguia tanto a filha quanto a mãe nesta rede social.

Daniel tinha 24 anos quando foi morto. Considerado tímido por seus amigos, ele foi revelado na base do Cruzeiro, se profissionalizou pelo Botafogo e estava emprestado ao São Bento de Sorocaba para a disputa da Série B. Como não vinha sendo relacionado, foi a Curitiba para encontrar amigos e participar da festa de aniversário.

O corpo de Daniel foi encontrado sem o pênis e parcialmente degolado, características de um crime bárbaro. O velório aconteceu na quarta-feira, em Conselheiro Lafaiete (MG), onde ele passou parte da infância.