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Do Paulistão à Champions, Maycon agradece: "devo tudo ao Corinthians"

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

06/11/2018 04h00

Um dos protagonistas da última grande alegria do Corinthians, o título do Campeonato Paulista, Maycon desfruta dos primeiros meses no futebol europeu em grande estilo. Se em abril ele converteu o pênalti que garantiu a taça estadual dentro do Allianz Parque, casa do arquirrival Palmeiras, nesta quarta-feira, às 16h (horário de Brasília), o meio-campista escutará o hino da Liga dos Campeões do gramado do Estádio Etihad, antes do duelo com o Manchester City, pelo Grupo F.

Titular absoluto do Shakhtar Donetsk-UCR, líder da liga ucraniana, Maycon conta com a companhia de mais oito brasileiros para facilitar a adaptação à vida no leste europeu. São eles: Ismaily, Alan Patrick, Júnior Moraes, Wellington Nem, Dentinho, Taison, Marquinhos Cipriano e Fernando. Como a comissão técnica do português Paulo Fonseca também compartilha o mesmo idioma, existe algo curioso no dia a dia do clube: são os jogadores ucranianos que precisam de tradutor.

Campeão brasileiro e bicampeão paulista com o Corinthians, por quem demonstra grande carinho e gratidão após oito anos no clube, Maycon trocou o Brasil pela Ucrânia em junho. Fã incondicional de Xavi e Iniesta, ele já gastou horas assistindo a lances da dupla que se consagrou com Pep Guardiola para tentar reproduzir os mesmos movimentos. Nesta quarta, o ex-corintiano de 21 anos terá mais uma chance de impressionar o "mestre" catalão, já que no confronto em Carcóvia o City impôs 3 a 0. Confira abaixo a entrevista com Maycon.

O sonho de disputar a Liga dos Campeões

Maycon, do Shakhtar - Joosep Martinson/Getty Images - Joosep Martinson/Getty Images
Imagem: Joosep Martinson/Getty Images

"Sempre me preparei bastante pra chegar nesse momento. Ainda tenho muito o que aprender, e o Shakhtar nos dá essa condição de aprender e jogar contra grandes jogadores e grandes equipes mesmo sendo jovem. Para a nossa evolução é fundamental. Sempre me vi jogando esses jogos de grande importância, contra grandes equipes. Quero evoluir ao máximo, e o Corinthians sempre me deu suporte para progredir. Agradeço muito o que fizeram por mim, me deram espaço para evoluir, jogar, e chegar aqui muito bem pra dar continuidade na minha evolução".

De perto, qualidade do City impressiona ainda mais

"Eles têm muita linha de passe, com movimentação, toques rápidos e inteligência. São muito bons e muito bem treinados. Nunca estão apertados. Quando a gente pensa que está pressionando, eles encontram linha de passe do outro lado e sai da pressão. É um nível muito alto. Não pode errar, porque cada erro é uma chance perigosa para eles"

Sem deslumbramento para o jogo na Inglaterra

"A ansiedade vem antes do jogo, mas quando vai começar, no aquecimento já esqueço isso e me concentro no que tenho de fazer. Já joguei em estádios de São Paulo contra rivais com torcida só deles e tem que manter a concentração. É o que sempre fiz e vou continuar fazendo, porque deu sempre muito certo. Eu não me iludo com o estádio em que eu estou jogando".

Admiração por Guardiola, mas sem assédio

"Acompanhei muito as equipes dele, porque gosto muito de ver a questão de posse de bola, de não apenas ganhar do adversário, mas ganhar bem, convencendo. É claro que tenho curiosidade de conhecer a pessoa, mas acho que ali na hora da partida vamos estar jogando e não sei quais serão minhas reações. Quero fazer um grande jogo, um grande trabalho e sair com um bom resultado de lá. Talvez a conversa fique para outro dia".

"Aulas" de Xavi e Iniesta

"Assisti muito ao Barcelona do Guardiola e prestava muito atenção no Xavi e no Iniesta pelo posicionamento de corpo, a tomada de decisão, algo muito importante. No Corinthians aprendi muito algumas questões e precisava sair para aprender mais sobre outras questões, como essas que citei".

O extenso histórico de brasileiros no Shakhtar

"Talvez exista essa atratividade pelo tanto de brasileiro que veio para cá e depois chegou à Seleção e a grandes clubes da Europa. O clube dá um suporte legal para brasileiros, cuidam da adaptação não só do jogador, mas da família também, porque sabem que é importante a família estar bem para o jogador estar bem. Tem esse trabalho interno do clube com nossa família que é muito importante".

Paulo Fonseca - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
Paulo Fonseca, o técnico que se fantasiou de Zorro

"É um cara bem sério. Dentro de campo ele não brinca muito. Depois do treino faz brincadeiras às vezes, É um cara profissional, mas aconteceu esse episódio na última Liga dos Campeões por causa de uma aposta. Ele acompanha muito futebol brasileiro, conhece muitos jogadores brasileiros, comenta, pergunta para nós, mas não posso falar nomes (risos)".

A má fase do Corinthians

"O time perdeu muitas peças. E querendo ou não isso muda muito as ideias de jogo, coisa que não estava acontecendo ultimamente e aconteceu esse ano. Com a mudança de técnico também muda o estilo de jogo. Mas acredito que ano que vem o Corinthians vai montar um grande time e conseguir chegar bem em grandes competições como a gente conseguiu fazer nos últimos anos".

Maycon no Corinthians - Daniel Vorley/AGIF - Daniel Vorley/AGIF
Imagem: Daniel Vorley/AGIF
Corinthians sofre para encontrar um substituto no meio

"Pelo que tenho visto, quem está jogando é o Douglas. Joguei com ele na seleção de base e gosto bastante do futebol dele, mas acho que ele é muito bom distribuindo bola, talvez melhor que eu, na marcação também. Mas o Corinthians está acostumado a jogadores que infiltram. Ele até infiltra um pouco, mas talvez menos, ele prefere armar de trás. Ele está tendo um pouco de dificuldade, mas acredito que ele vai evoluir bastante. O grupo é muito bom e dá todo suporte para o jogador evoluir".

A experiência de ter jogado pelo Corinthians já vendido

"Fui muito tranquilo e fiz o que estava fazendo antes. Eu tinha que fazer o meu melhor, queria ajudar o Corinthians de qualquer forma. O título paulista principalmente era muito importante pra mim, porque sabia que poderia ser o último. Eu não estava negociado ainda, mas havia conversas, então sabia que poderia ser a última chance. Eu devo tudo ao Corinthians, acho que o Corinthians me ensinou muitas coisas, me ajudou em muitas situações, e me transformou num jogador que chegou na Europa e talvez consiga fazer um bom trabalho. Eu precisava fazer isso pelo clube, era uma questão de honra e de caráter e sempre deixei muito claro isso principalmente no Corinthians, de querer ajudar, e fiz isso até o último dia em que vesti a camisa do Corinthians".