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Aliado de Eurico, deputado preso chefiou Maracanã e se aproximou de times

Eleito conselheiro no Vasco, Chiquinho prestigiou a posse de Eurico em 2014 - Divulgação
Eleito conselheiro no Vasco, Chiquinho prestigiou a posse de Eurico em 2014 Imagem: Divulgação

Bruno Braz e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/11/2018 04h00

Preso por suposto recebimento de propina para votações a favor do Governo do Estado do Rio, o deputado estadual Francisco de Carvalho (PSC), o Chiquinho da Mangueira, tem a sua trajetória intimamente ligada ao esporte.

O primeiro passo desta caminhada começou em um projeto social voltado ao atletismo, em um terreno abandonado ao lado da escola de samba que lhe empresta o apelido. O sucesso da iniciativa alçou Chiquinho ao mundo da política, e o parlamentar foi nomeado presidente da antiga Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj). À frente da autarquia, ele conviveu com a suspeita de ser conivente com um esquema de falsificação de ingressos para o Maracanã, mas nada foi provado. Nesta época, esteve na linha de frente da reforma do Maracanã para o Mundial de Clubes de 2000.

Já eleito nas urnas, Chiquinho foi nomeado secretário de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro por duas ocasiões. Como titular da pasta, ampliou ainda mais os seus canais com os grandes cariocas, especialmente com o Vasco, seu clube do coração. Nesta época, novamente esteve próximo de novas obras de adequação no Maracanã, desta vez para o Pan de 2007. Ex-atleta e técnico do atletismo no Vasco, além de figura carimbada em São Januário, o deputado foi eleito conselheiro do Cruz-maltino em 2014 e ostenta o título de benemérito.

Anos antes, ele e o ex-presidente vascaíno Eurico Miranda tiveram seus nomes ligados a uma operação que investigava doação eleitoral por parte de integrantes da cúpula do jogo do bicho. As investigações não tiveram consequência, mas ambos mantêm uma relação de respeito. Eurico, inclusive, o indicou conselheiro em seu último mandato.

Chiquinho era presença certa em reuniões na sede náutica do Cruzmaltino, na Lagoa, e voto garantido nas pautas que interessavam Eurico.

"Eu não acompanhei nada [episódio da prisão]. Ele é um benemérito por serviços prestados ao Vasco. Em relação aos assuntos do clube, ele conta com a minha consideração. Em relação à propina, Sérgio Cabral, não sei de nada. Eu tenho apreço por ele", disse Eurico ao UOL Esporte.

Chiquinho da Mangueira ao lado do presidente do Vasco, Alexandre Campello, e do deputado Carlos Osório - Rafael Ribeiro/Vasco - Rafael Ribeiro/Vasco
Imagem: Rafael Ribeiro/Vasco

Em 21 de agosto deste ano, data dos 120 anos do Vasco, Chiquinho organizou um evento e integrou a mesa que presidiu a sessão solene em honra ao clube, - agraciado com a Medalha Tiradentes, maior comenda oferecida pelo Poder Legislativo no Rio. Ao lado de Eurico, do presidente Alexandre Campello, de Roberto Dinamite e de outros cardeais da política vascaína, ele discursou:

"O Vasco precisa se unir, é triste lembrar que a gente não divide mais a torcida com o nosso maior rival. Sou da época em que o Vasco dividia o Maracanã. O que seria do esporte sem o Vasco? Não não podemos perder o que estamos perdendo, essa meninada que está escolhendo o clube. Fico triste quando eu tenho de comprar a minha filha para ser Vasco. Hoje ela é, mas custou para ser. O momento é de juntarmos nossas forças e levar o Vasco para o melhor caminho: o das vitórias e das conquistas".

Antes de ser detido, Carvalho ocupava a presidência da Comissão de Esporte e Lazer da Assembleia Legislativa, além de ter conseguido nova vitória nas últimas eleições. Em de seus últimos atos antes de ir para a prisão, ele era um dos que tentavam mediar uma conversa entre Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, e o governador eleito Wilson Witzel. Lopes gostaria de um encontro para saber quais seriam os planos para o futuro do Maracanã e também questões referentes à segurança pública em dias de partidas. Não houve tempo.

Além desta operação que prendeu Chiquinho e outros nove deputados, o parlamentar já teve seu nome vinculado a outros casos suspeitos, como a denúncia de que teria pedido proteção ao tráfico de drogas na Mangueira. Em 2003, o então tenente-coronel Erir Ribeiro da Costa Filho fez a denúncia, que foi arquivada.