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"Grupo de ideias" assume papel de oposição e ganha relevância no Botafogo

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Imagem: Arquivo Pessoal

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/11/2018 04h00

A situação do Botafogo é complicadíssima. As dívidas são enormes, o orçamento nem tanto. Apesar do cenário, o “Botafogo Sem Medo” acredita que o clube tem solução. O grupo político tem ganhado destaque a cada dia que passa e assumiu o papel de oposição nos bastidores de General Severiano.

Um dos fundadores do grupo, Thiago Pinheiro explica que o trabalho é feito com o objetivo de sugerir o debate através de ideias e críticas. Mais do que chegar ao poder a ideia é fazer com que o Botafogo siga o caminho do profissionalismo.

“O Botafogo Sem Medo é fundado em defesa de três bandeiras inicialmente. Separação do social do futebol, sócio-torcedor com direito a voto e ser votado e transparência nos atos do clube”, disse Pinheiro ao UOL Esporte.

Entre as várias pautas sugeridas, algumas já começaram a mudar o clube. Uma delas foi o direito do sócio-torcedor poder votar. Uma bandeira defendida por eles há muitos anos e que não teve mais como ser ignorada. Mesmo que ainda não tenha ocorrido da maneira ideal.

“Na primeira eleição [2014], tivemos uma participação decisiva. Fizemos forte pressão no assunto e todas as chapas aderiram ao projeto de sócio-torcedor com direito a voto. O Carlos Eduardo Pereira [que ganhou o pleito na oportunidade] colocou no panfleto de campanha dele que o sócio poderia votar e ser votado. Deu uma confusão interna no grupo e aprovaram apenas a “meia democracia”. O sócio-torcedor votará, mas não pode ser votado”, lamentou.

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"Botafogo Sem Medo" foi fundado em 2011 durante um jantar na sede de General Severiano
Imagem: Arquivo Pessoal

Veja outros trechos da entrevista com Thiago Pinheiro, um dos fundadores do “Botafogo Sem Medo”:

O grupo

O grupo foi formado em 2011, quando o Maurício se reelegeu. Na época vimos que era necessário fazer alguma coisa, o Botafogo ter uma alternativa porque foi mais uma eleição sem propostas, novas ideias. O Padilha era o diretor de comunicação do Maurício e queria um projeto sério de sócio-torcedor. Nos reunimos e fizemos a proposta, inclusive propondo uma reforma estatutária. Mas ela acabou sendo arquivada, não pelo Padilha, preciso ser justo, mas por causa do Landau. Ali ficou ainda mais claro para a gente que o caminho do Botafogo era através de uma democracia de verdade, com separação do futebol e do social, com sócio-torcedor podendo votar e ser votado.

É oposição?

Acaba que individualmente os integrantes do grupo têm postura de oposição, mas o nosso principal objetivo é influenciar o debate político do clube com propostas, trazer temas, pautar o debate. O que vejo é que nenhum dos grupos trazem conteúdo, o debate de como o clube deve avançar só se dá na véspera da eleição. Na última nem isso. Então o Botafogo Sem Medo é um grupo de ideias. É claro que um dia poderemos encabeçar uma chapa de oposição, mas isso ainda está longe [próxima eleição no fim de 2020].

Futuro

Sei que é um discurso comum na política, mas realmente reflete o nosso momento. Ainda não estamos discutindo nomes, mas propostas. Tanto que colocamos no nosso site textos com o caminho que o Botafogo deveria seguir. Estamos trabalhando para chegar na próxima eleição e mostrar o que o clube precisa ter. Se vai conseguir compor com alguém, se vai ter um candidato nosso ainda não sabemos. Foco é hoje é mostrar o que o Botafogo precisa, apresentar ideias.

Há possibilidade de se juntar a alguém?

Claro que se tiver uma pessoa que nos agrade e eles pensem da mesma forma que a gente, é um bom início. Mas não adianta pensar diferente em outras. Separamos essas três bandeiras para ter foco. Muita gente quer muita coisa e não consegue nada. Esses três pilares são apenas o início para que o Botafogo tenha salvação.

Relevância do grupo

A primeira eleição que a gente realmente participou [em 2014], tivemos uma participação decisiva. Fizemos forte pressão no assunto e todas as chapas aderiram ao projeto de sócio-torcedor com direito a voto. O Carlos Eduardo Pereira colocou no panfleto de campanha dele que o sócio poderia votar e ser votado. Deu uma confusão interna no grupo e aprovaram apenas a meia democracia. O sócio-torcedor vota, mas não pode ser votado. Outra questão de influência nossa é a questão da transparência. 

Separação do social do futebol? Há chance real?

Tem ocorrido em outros clubes porque não tem mais como. É uma situação do passado e muito menor. O futebol cresceu demais para ser tocado dessa forma. Você pega um vice-presidente que precisa discutir problemas da piscina e do futebol... Não dá, é um outro mundo. Para conseguir isso será preciso mudar o estatuto. Tem muita gente que está há muito tempo ali. O Carlos Eduardo, por exemplo, foi vice do Montenegro. Olha quanto tempo tem isso. É um clube que repete os nomes, é preciso renovar.

Botafogo ideal

É um longo caminho para o Botafogo chegar no ponto ideal. A separação do social é essencial. Sem isso dificilmente teremos o profissionalismo no clube. Futebol precisa ser totalmente autônomo e com a receita com uso exclusivo para o futebol. Se quer montar times para competir em outros esportes, ótimo, mas o dinheiro do futebol não pode ser investido nisso. Outra situação são esses vice-presidentes com poderes enormes. Um clube moderno deve haver um conselho de administração e pessoas capacitadas em suas áreas. Elas vão receber salário? Sim, mas elas são capazes de gerar receita também. E serão cobradas. Um dirigente amador, hoje, é tratado como se tivesse fazendo um favor. Ser amador virou desculpa. Então, o Botafogo ideal é um Botafogo profissional. Onde um conselho administrador traçaria metas para os profissionais contratados serem cobrados. Uma estrutura mais moderna do que existe hoje.

Ideias apresentadas

Quando teve a reforma do estatuto, apresentamos uma proposta que propunha separar os poderes, a separação do social do futebol. Também uma reforma do sócio-torcedor para que eles também possam ser votados. Além disso a criação do conselho de administração. O aumento da transparência também. Defendemos que todos os contratos a partir de determinado valor deveriam passar pelo conselho deliberativo. Isso acontece no Flamengo e torna o clube muito mais transparente. Fomos recebidos por um dirigente para falar dessas propostas. O “carrinho de compras” (modalidade que o sócio escolhe o plano e acrescenta opções de serviço de acordo com sua vontade) do sócio-torcedor foi muito conversado nessa reunião e foi implementado há pouco tempo.

Atuação do grupo

Temos atuado com críticas. Não às pessoas, mas aos cargos que elas exercem. As pessoas confundem questão de perseguição. Algumas pessoas exercem cargos mais importantes e sofrem pressões maiores. Fomos os primeiros a falar dos R$ 100 milhões de adiantamento da TV Globo, que era tratado como luva. E não era. O próprio conselho deliberativo tratou como adiantamento em um documento oficial. Temos focado muito nessa questão da transparência. Isso é importante para mostrar a situação do clube para que as pessoas possam fazer as cobranças certas. Queremos que todos saibam como funciona o clube, as contas do Botafogo, as tomadas de decisão. Acontecem coisas muito ruins no clube. Assumem e dizem que não há muito o que fazer porque a situação é difícil. Não. Há um caminho, sim, a seguir.