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Saiba quem é o jogador brasileiro ídolo dos meninos resgatados na Tailândia

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

10/11/2018 04h00

Em junho deste ano, um episódio dramático parou a Tailândia e ganhou os noticiários de todo o Mundo. Doze meninos e o professor de um time de futebol local – Javalis Selvagens – ficaram presos em uma caverna inundada no norte do país e foram resgatados por mergulhadores britânicos após longas duas semanas. Durante todo esse tempo, a tensão tomou conta não só dos familiares de quem estava na caverna, mas de amigos, conhecidos e até desconhecidos.

O episódio não demorou a chegar ao conhecimento de Victor Cardozo, brasileiro que defendia o time de Chiang Rai, cidade onde fica localizada a caverna. Desde 23 de junho, dia em que os meninos foram dados como desaparecidos, o clima no clube não foi mais o mesmo.

“Esses dias que eles ficaram presos na caverna foram de muita tensão, até mesmo entre nós jogadores. As brincadeiras diminuíram, a galera falava mais sério, mas com muita esperança. O povo tailandês tem muita esperança, e acho que isso sustentou eles a acreditarem que ia dar tudo certo, como deu”, recorda o zagueiro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Mal sabia Victor que dois dos meninos que estavam presos na caverna tinham – e têm – ele como ídolo por conta de seu futebol. Apesar de zagueiro, o brasileiro marcou mais de 40 gols desde que chegou à Tailândia, em 2015, e foi o vice-artilheiro do time nesta temporada, inclusive ajudando a equipe a conquistar três títulos – incluindo o mais importante, da Copa da Tailândia.

Brasileiro Victor Cardozo posa para foto com meninos da Tailândia resgatados em caverna - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

“Eu escutei o relato de um professor que trabalhava na escolinha deles. Eu vi uma entrevista dele falando que um menino gostava muito de mim, pelos meus gols de cabeça, e os meninos também falaram que gostavam muito de mim porque eu fazia muito gol e era muito alto. É difícil a gente falar ‘eu me tornei ídolo’, acho que a minha humildade não deixa, mas eles começaram a gostar de mim quando eu cheguei no Chiangrai United, que é o time da cidade”, declarou.

O encontro com os ‘fãs’

Com o episódio, os meninos ganharam fama mundial. Receberam homenagens, foram convidados de honra em diversos eventos – assistiram, por exemplo, a Manchester United x Everton no Old Trafford – e conheceram alguns de seus ídolos. Entre eles, claro, Victor.

“Para mim foi um prazer. Encontrei eles num jogo que ganhamos em casa, de 4 a 1, e depois eles pediram para tirar foto comigo. Eu falei: ‘Pô, quem sou eu? Eu que tenho que pedir para tirar foto com vocês. Vocês são um milagre vivo que estou vendo’. Foi sensacional”, afirmou.

Brasileiros Victor Cardozo e Bill (em cima), do Chiangrai United, acompanhados de alguns dos meninos resgatados na caverna, na Tailândia - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Como Victor não fala a língua local com perfeição, o contato foi por gestos e algumas poucas palavras de seu conhecimento. Mas o suficiente para o encontro se tornar mais do que especial.

“Eles não falam muito inglês. Um que fala um pouco lá disse que os meninos gostam muito de mim por causa dos gols de cabeça. Eu não cheguei a perguntar como foi lá dentro. Eu simplesmente falei para o treinador deles que ele era um herói, que com as técnicas budistas ajudou a salvar os meninos, de ter ajudado, mantido a calma com os meninos. Ele agradeceu e disse também que gosta muito de mim. Acho que eles não têm muita dimensão do tamanho que eles representam. São jovens, né? Humildes demais, como o povo tailandês”, disse.

“Uma coisa que eu entendi é que eles falaram que eu sou muito alto e forte. Eu falo bem pouco a língua e entendi e brinquei com eles: ‘Pô, forte são vocês que sobreviveram’”, acrescentou o jogador que tem 1,94 m e superou a marca de dez gols pela quarta temporada consecutiva.

Lado artilheiro vem do futevôlei

Com 1,94m de altura, Victor carrega a fama de artilheiro logo desde chegou à Tailândia. E não à toa: o brasileiro superou a marca de dez gols pela quarta temporada consecutiva. O segredo para a precisão apurada nas finalizações, especialmente de cabeça, está no futevôlei, esporte que pratica desde pequeno. A paixão persiste até hoje.

Victor Cardozo comemora título da Copa da Tailândia pelo Chiangrai United - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
“Jogo futevôlei desde os meus 13 anos de idade. Tem quadra na minha avó, então fica mais fácil. Nasci vendo meus tios, meus primos mais velhos, e me apaixonei. Desde então eu sou apaixonado. Ajuda no tempo de bola, na questão de salto, direcionamento do cabeceio. E graças a Deus, já é quarta temporada que faço no mínimo dez gols. No ano passado eu fui artilheiro do meu time com 11 gols. E até os meninos [resgatados na caverna] brincaram depois: uns não falavam inglês, então eles pulavam e batiam a mão na minha cabeça, indicando: ‘Pô, toda hora você faz gol de cabeça’”, recorda o brasileiro artilheiro.

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A trajetória de Victor: “rodei no interior do Brasil”

Eu comecei no Primeira Camisa, em SJC, na época presidiado pelo Roque Júnior, depois tive uma passagem no profissional do Cerâmica, do RS, que hoje está extinto, América-RJ, Duque de Caxias-RJ, Esportivo, de Bento Gonçalves (RS), Campinense-PB, Operário-PR. Rodei alguns clubes do interior do Brasil. E fiquei um tempo no Fluminense na base, uns três meses.

A saída do Brasil: “O que será que é isso? Tailândia?”

Victor Cardozo festeja título da Copa da Liga Tailandesa pelo Chiangrai United - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Eu estava deitado no colo da minha mãe, na sala, e recebi uma mensagem: Tailândia. Até brinquei com a minha mãe: ‘O que será que é isso, Tailândia?’. Sabia que era na Ásia, mas nunca tinha procurado nada sobre. E ela também preocupada: ‘Onde é isso?’. Era uma proposta de um clube da terceira divisão da Tailândia e eu fui. Nos primeiros seis meses já subimos para a segunda [divisão], no ano seguinte subimos para a primeira e disputei um ano na primeira. Já comecei fazendo um bom trabalho. Estou há quatro anos na Tailândia.

A chegada à Tailândia: “Perdi 5 kg em menos de um mês”

O que me afetou mais foi quando eu cheguei. Perdi 5 kg. Por causa do tempo e da comida. Não sabia muito bem falar inglês, não falava nada a língua do país e, até me adaptar, perdi 5 kg em menos de um mês. Lá eles comem muita coisa apimentada e muita sopa. Pô, eu com 1,94 m, doido num macarrão, numa lasanha... Foi difícil. Foi o maior perrengue, mas depois me adaptei.

A diferença no futebol: “é muito mais corrido”

Lá eles correm muito mais, o futebol é muito mais corrido, e taticamente não é evoluído que nem o Brasil. O próprio tailandês não é tão bom. Mas evoluiu muito de uns sete, oito anos para cá. E digo que é o terceiro ou quarto país da Ásia. Bom de se jogar.

Novo rumo: “assinei com um outro time”

Eu vou sair do time que eu estou. Ganhamos três títulos esse ano, foi o ano mais vitorioso do clube, e eu como capitão, porém o time vai diminuir a folha salarial. Mas volto para lá. Assinei contrato com um novo time, só não posso divulgar ainda.