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Ex-Barça concilia bola e medicina, assiste a cirurgias e denuncia machismo

Ana Romero se formou em medicina nas horas vagas da carreira de jogadora - Reprodução/Instagram
Ana Romero se formou em medicina nas horas vagas da carreira de jogadora Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

17/11/2018 04h00

"Não quero saber nada de futebol masculino ou feminino. Isso não vale nada. Importantes são médicos, engenheiros, etc", escreveu um internauta ao atacar a jogadora espanhola Ana Romero no Twitter. "Então muito obrigada, porque também sou médica. Um abraço". Foi assim que essa espanhola de 31 anos respondeu seu hater, em mais uma discussão virtual em que se envolveu.

Atualmente defendendo o Betis, seu time de coração, Ana Romero é formada em medicina, faculdade que cursou enquanto jogava futebol profissionalmente. Ela precisou frequentar universidades em três cidades para adequar a vida acadêmica ao mundo da bola, já que defendeu times como Sevilla, Rayo Vallecano, Espanyol e Barcelona.

Ana Romero, jogadora do Betis formada em medicina na Espanha - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Romero costuma acompanhar eventuais cirurgias das companheiras de time
Imagem: Reprodução/Instagram

A cada mudança, alguma matéria já cursada não era reconhecida pela universidade seguinte, então era preciso repeti-la. E ela repetiu, em um "malabarismo" que ainda precisava contemplar suas viagens pela seleção espanhola. Adiar provas e entregas de trabalho era comum, assim como transformar a concentração com suas equipes em local de estudo.

Mas Romero também se aproveitou do futebol na prática. Assim que foi avançando na faculdade, pedia aos médicos que operavam suas colegas de equipe para acompanhar cirurgias e procedimentos mais delicados.

"Se alguma companheira tinha que fazer uma cirurgia, eles me deixavam ficar no centro cirúrgico. Ou, quando me operaram, pedi para ficar consciente durante o procedimento, então eles foram me ensinando o que estavam fazendo comigo”, recordou em entrevista ao jornal "El Mundo".

A atacante canhota, agora, prepara-se para em alguns meses prestar uma prova de especialização em medicina, carreira que seguirá quando pendurar as chuteiras. Até lá, ela pretende continuar brigando por mais reconhecimento e respeito ao futebol feminino. Assim como muitas jogadoras, ela conviveu com preconceito nas mais diversas fases de sua vida.

"A verdade é que em vários lugares há muitos dirigentes machistas que não querem o futebol feminino e buscam qualquer razão para dizer que não devem nos apoiar. Em um time, diziam que se a academia estava em más condições a culpa era das mulheres, e não dos homens", contou Romero.

Já escutei muito que eu deveria ficar limpando minha casa. Tentavam me insultar dizendo isso, como se limpar a casa fosse uma ofensa, ainda por cima. Minha mãe é dona de casa, por exemplo

Ana Romero, jogadora espanhola de futebol

Para ela, no entanto, esses são só mais alguns obstáculos que já encontrou. Nada que a desanime depois do que aprendeu com o futebol e com a medicina. "É preciso ter perseverança".