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Oposição do Palmeiras aponta fraude com Crefisa e fala em novo patrocinador

Genaro Marino é candidato da oposição no Palmeiras - Danilo Lavieri/UOL Esporte
Genaro Marino é candidato da oposição no Palmeiras Imagem: Danilo Lavieri/UOL Esporte

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

23/11/2018 04h00

Candidato de oposição no Palmeiras, Genaro Marino diz que o clube cometeu uma fraude e será penalizado em breve no episódio de manutenção da Crefisa no clube. Em entrevista ao UOL Esporte, o atual vice-presidente afirmou que Maurício Galiotte não precisaria assumir a dívida de R$ 120 milhões com a patrocinadora por conta das contratações de jogadores e disse que o balanço financeiro de 2017 não foi alterado de acordo com a lei.

Às vésperas da eleição marcada para o próximo sábado (24), ele explicou o que motivou o rompimento com Galiotte e se mostrou preocupado com os rumos do Alviverde se a atual política for mantida.

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Genaro, que já foi diretor de futebol no início da década, disse reconhecer o poderio financeiro da Crefisa e o impacto que isso tem no orçamento, mas disse ter uma proposta em mãos de outro interessado em dar o patrocínio nas mesmas medidas.

Confira a entrevista completa de Genaro Marino ao UOL Esporte:

UOL Esporte: O título do Brasileiro está do tamanho do planejamento?
Genaro Marino:
Ganhando o deca, precisamos entender que isso é um título do clube. Não é das pessoas. Nós estamos ganhando o título, independentemente de quem forme a linha de frente. Valorizo o título. Mas gastamos muito para o retorno. São oito títulos com o maior orçamento nos últimos dois anos, o maior patrocinador, e um título só. Você precisa fortalecer isso.

UOL Esporte: Você aprova o trabalho do diretor Alexandre Mattos? Vai renovar com ele?
Genaro:
Sim, mas junto. Junto e acompanhando o trabalho dele e valorizando ou não o que ele trouxer. Como qualquer profissional.

UOL Esporte: Há a promessa da oposição de um interessado em patrocinar o Palmeiras com o mesmo aporte da Crefisa. O que você pode falar sobre esse interessado?
Genaro:
Não posso falar muito pela confidencialidade, porque não há contrato assinado. E aí você vai dizer. É promessa política? Seria político se a gente não tivesse compromisso. É uma holding com um recurso para investir, um palmeirense, que trabalha para essa empresa, nos ofereceu. Com bom grado, com preocupação e responsabilidade, chamamos advogados e eles estão conversando para ver se isso é seguro. Por ele ser um representante, a gente precisa ver.

Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, e Leila Pereira, dono da Crefisa e da FAM, na divulgação da nova camisa - Cesar Greco/Ag Palmeiras - Cesar Greco/Ag Palmeiras
Paulo Nobre, aliado de Genaro, iniciou a parceria da Crefisa com o clube
Imagem: Cesar Greco/Ag Palmeiras

UOL Esporte: Vocês mostram bastante restrição à forma de entrada da Leila no Conselho e indicam conflito de interesses. Mas na última semana afirmaram que queriam continuar com a Crefisa. Não é contraditório?
Genaro:
Dissemos isso com a área financeira. Para mim, há conflito de interesse. Ela veio no COF e veio conosco para discutir como patrocinadora. O que eu não tenho firmeza é de quando ela fala como conselheira ou patrocinador. Então, como patrocinadora ela é importante e só sai se quiser. Como conselheira, precisamos ter uma conversa com ela e Lamacchia para eles se posicionarem. A ética precisa ser do lado deles também. Precisamos conversar e rever. Não é regular isso. E aí há o conflito da forma como ela se tornou conselheira, sem respeitar nosso estatuto.

UOL Esporte: Esse foi o principal fato que fez você romper com o Galiotte?
Genaro:
Eles estão praticando a velha política. Tem 100 diretores que estão lá para dar voto. Tem camarote, tem avião com conselheiro, festa. Cadê a ética? O compliance? Isso não faz parte e nunca fez da nossa gestão.

UOL Esporte: Vocês sempre disseram ser contra tumultuar o ambiente do time. E nesta semana houve vazamento de documentos que o Palmeiras alega ser do COF e uma carta do Nobre, chamando o presidente de traidor.
Genaro:
É oportuno esclarecer. Quando a gente teve todos esses fatos para ter o crivo do sim, para mudar o estatuto, já tínhamos material para isso. A gente sabe que tudo o que fala pode ser levado como interesse. Mas quando o Palmeiras saiu da Libertadores começamos a falar, porque o Brasileiro não tem como perder. Já somos deca, só uma catástrofe tira o título. Eles prometeram colocar a casa em ordem, mas piorou. Você falou de vazamentos, mas o que vazou está errado. Não é aquele valor, é muito mais. O COF e os vices têm as informações corretas. Por que vazaram esse valor errado? Alguém sabia que ia vazar e aí vazaram errado antes. E isso o torcedor não sabe. Se fosse para tumultuar, falaríamos da fraude de mudança de contrato da Crefisa, em fevereiro, em março.

Genaro Marino apresentou Yerri Mina no Palmeiras - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Genaro Marino apresentou Yerri Mina no Palmeiras
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação


UOL Esporte: Qual fraude?
Genaro:
Não falamos disso (no passado). Não há vaidade aqui. Mas não posso deixar que eles tomem decisões como essa. Quem vai pagar as contas? Quem vai alterar o balanço? Quem vai falar a verdade? O Palmeiras não pode passar a dever R$ 120 milhões da noite para o dia. Eles (Crefisa) alteraram tudo para não tomar multa, mas o Palmeiras não alterou o balanço. Isso está fora da lei. Quem vai ser punido quando houver a investigação? A Crefisa? Não. Nós.

Nota da redação: Galiotte admitiu que o balanço foi feito nos moldes antigos, mas afirmou que não fez a alteração por orientação de sua diretoria e por auditoria externa. Segundo eles, não há necessidade de retificação.

UOL Esporte: Se você não ganhar esta eleição, como vai ser a sua oposição?
Genaro:
Se eu não for eleito agora, não vou ficar em linha de frente como estou hoje. Vou participar de grupos, ajudar, mas... É como um vício que você adquire quando se torna conselheiro no Palmeiras. Mas eu acho que uma continuidade (da oposição) na área jurídica. Porque estamos segurando a turma para não avançar em alguns sentidos. Mas como isso não é minha área... Tem muita gente abafando muita coisa. Se eles vencerem, pode ser lastimável o que eles vão fazer em três anos.

UOL Esporte: Você está dizendo que isso vai vir à tona após a eleição?
Genaro
: Sim. Porque estamos segurando a turma porque não é justo o clube viver tudo isso com Libertadores pela frente. Se dava para segurar, ótimo. Mas o clube está exposto. Uma hora isso vai aparecer.

UOL Esporte: Qual tamanho deste problema que o Palmeiras vai ter?
Genaro:
Não sei como a Receita ou o órgão responsável vai administrar isso. Sei que não estamos adequados. Se eu for eleito, eu corrijo o balanço imediatamente.

Paulo Nobre e Cuca conversam com Maurício Galiotte, cotado para assumir o Palmeiras após saída do atual presidente - Cesar Grego/Ag. Palmeiras - Cesar Grego/Ag. Palmeiras
Paulo Nobre e Galiotte conversam com Cuca em 2017
Imagem: Cesar Grego/Ag. Palmeiras


UOL Esporte: O Nobre não deveria aparecer mais na vida política, até para te dar mais apoio? Ou é justo a opção de se ausentar?
Genaro:
Justo eu acho que não. Tudo o que ele fez e vivenciou, eu não abandonaria. Eu mesmo estou me candidatando mesmo sabendo que sou contra o poder da máquina ou financeiro. Ou precisa de uma boa razão ou ser maluco. E eu não sou maluco.

UOL Esporte: Você vê a Leila como sucessora do Galiotte?
Genaro:
Acho que não. Como a patrocinadora vai ser presidente do clube? Me disseram que há regras que nem permitem isso. Por isso já tem gente falando em criar o Palmeiras S/A. Não sei. Presidente do clube acho que ela não consegue ser.

UOL Esporte: No filtro, você teve apoio do Mustafá para ter a candidatura aprovada. Ele faz parte do seu plano de gestão?
Genaro:
Com o Mustafá, não teve acordo. Seríamos aprovados só com os nossos grupos e alguns dissidentes do outro lado. Do Mustafá, deve ter 20 e pouco que apoiaram, mas o próprio Mustafá não foi claro. Tem gente dele que está conosco, mas ele não faz parte do plano e nem do grupo.