Topo

Belluzzo ironiza opositores do Allianz e elogia afastamento de Mustafá

Belluzzo foi presidente do Palmeiras nos anos de 2009 e 2010 e não foi campeão - Fernando Santos/Folha Imagem
Belluzzo foi presidente do Palmeiras nos anos de 2009 e 2010 e não foi campeão Imagem: Fernando Santos/Folha Imagem

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

28/11/2018 12h00

Luiz Gonzaga Belluzzo é considerado por parte do Palmeiras o "pai da arena". Como diretor de planejamento e, depois, presidente, ele foi um dos principais entusiastas do projeto do Allianz Parque. Hoje, com o estádio funcionando há quatro anos e rendendo mais de R$ 260 milhões só em bilheteria desde a inauguração, ele lembra com ironia às diversas tentativas da oposição de não deixar a reforma acontecer.

Em entrevista ao UOL Esporte, o economista disse que não se considera um salvador da pátria por ter encabeçado o projeto e lamenta pelo o que classifica como uso do clube para promoção pessoal. 

Rival histórico de Mustafá Contursi no clube, Belluzzo elogiou a vontade manifestada por Mustafá Contursi de se afastar um pouco da vida política e criticou as pressões políticas em cima de Maurício Galiotte.

Confira a entrevista completa de Belluzzo ao UOL Esporte:

UOL ESPORTE: O que achou da eleição de Galiotte? Como você analisa o futuro do Palmeiras?
Luiz Gonzaga Belluzzo:
O Palmeiras está em um estágio muito acima dos demais. Se você pensar bem, no aspecto do futebol como um todo, não é uma coisa muito boa, porque há clubes que regrediram muito. A forma que os direitos de transmissão são pagos não favorecem a competitividade. E o Palmeiras não tem nada a ver com isso. No Clube dos 13 eu tentei fazer algo coletivo, mas houve obstáculos intransponíveis, pelo pensamento estreito de alguns dirigentes que quiseram se beneficiar.

UOL Esporte: Além da Crefisa, dos direitos de transmissão, tem o Allianz, que muita gente te considera o “pai da ideia”.
Belluzzo:
Eu não fiz nada de excepcional. Eu fiz o que todos devem fazer quando está em um ambiente coletivo. Pensando em ajudar o clube como um todo. E as receitas do Allianz tendem a melhorar, porque tem uma relação entre o desempenho esportivo e a receita de bilheteria. E isso porque estamos falando só da receita de bilheteria, porque ainda há o acesso com outras receitas. É engraçado, o clube tem um espírito conservador e consegue ser o mais inovador, de repente sai alguma coisa inovadora, como Parmalat e Arena.

Allianz Parque, estádio do Palmeiras - Eduardo Knapp/Folhapress - Eduardo Knapp/Folhapress
Allianz Parque rendeu ao Palmeiras em 2018 mais de R$ 260 milhões
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress


UOL Esporte: Você travou uma luta no clube contra conselheiros que sabotavam a Arena. Como é ver o sucesso dela agora?
Belluzzo:
É até engraçado a história que vou te contar, cômico mesmo. Encontrei esses dias o Gilto (Avallone, conselheiro ligado a Mustafá que trabalhou contra a Arena) e perguntei para ele se ele ainda era contra o Allianz. Ele ficou sem ação e veio me dizer que tem ponto cego no estádio. Olha, onde já se viu um ponto cego no Allianz? Eu respondi: o único cego aqui é você. Ele foi um dos maiores adversários, mas ele nem sabe o motive. O Piraci (foi diretor jurídico da gestão de Arnaldo Tirone) é outro e ele sumiu do Palmeiras. O comportamento tem várias razões, vários sentimentos. O sujeito tem inveja, ressentimento, não pode se irritar, não sei.

UOL Esporte: Ainda falando de oposição, o Maurício tem enfrentado dificuldades com o COF, a exemplo do que aconteceu com você.
Belluzzo:
É muito importante que ele tenha esse ambiente bom, porque o clube pode avançar muito. Você tem fundamentos para fazer isso. E entre eles está o patrocínio, a arena. O Palmeiras pode escalar um pouco nos direitos de transmissão. O ponto de partida muito bom e o Maurício é sensato, equilibrado, tranquilo. Ele não se deixa empolgar. O Palmeiras tem condições de disputar com vantagem a Libertadores, pode qualificar o elenco. Mas isso é uma opinião de torcedor mesmo.

Mustafá Contursi, ex-presidente do Palmeiras - KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS - KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS
O ex-presidente Mustafá Contursi
Imagem: KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS


UOL Esporte: O COF é dominado pelo Mustafá. Em entrevista à ESPN, ele declarou vontade de se afastar um pouco do clube. O que você acha disso?
Belluzzo:
Minha opinião é a seguinte: ex-presidente deveria ser algo como Senador Romano, um conselheiro, que não se envolve. Ele deveria fazer isso faz tempo. Ele foi eleito em 1993 e, no período Parmalat, ganhou tudo e mesmo assim ele criou caso com a Parmalat. A gente precisa respeitar o clube e não usar o clube para promoção pessoal. Ele manipula o conselho, fica naquela coisa toda. Depois da minha saída, ele apoiou o Tirone e se transformou em oposição pouco depois. Ele tinha eleito o Della Mônica e fez oposição ao Della Mônica. Ele já brigou com Nobre, com Maurício. Será que ninguém desconfia que há uma anomalia neste círculo vicioso? Ele é assim, elege o cara e depois se opõe. O negócio do estádio ele ficou contra, dizendo que o projeto era ruim. Ele mobilizou o Conselho para me suspender por um ano. Me suspender por dar ao clube um ativo de R$ 2 bilhões. Seria bom se ele se afastasse. Deixa espaço para os outros, né?

UOL Esporte: Os opositores manifestam preocupação com a dívida de R$ 120 milhões com a Crefisa e citam os juros. A dívida te preocupa?
Belluzzo:
Você paga a diferença. Não há preocupação. Se vender acima, paga a correção e é uma vantagem. Não acho que seja problema. Não é uma catástrofe, mas a forma como isso foi feito foi estranha. A Receita pegou e fez uma mudança. Veja, o Palmeiras pagou tudo do Nobre. O Palmeiras tem hoje capacidade para pagar as dívidas. A oposição faz isso por razões eleitoreiras, para não dizer política e desvalorizar ainda mais a política. É de curto prazo e isso prejudica a reputação do clube. Tinha gente que sumiu, tem gente que era corifeu da fake news, como o Mauro Marques, que sumiu. É gente que usa o clube para se projetar. Conheço o Palmeiras desde os 5 anos e nada me assusta mais hoje em dia.

UOL Esporte: O que você acha da empresa interessada em substituir a Crefisa?
Belluzzo:
Eu pedi a alguns amigos uma análise mais profunda no aspecto econômico. Mas quando eu vi o Blackstar e logo me lembrei do tempo de Parmalat. Naquela época, o pessoal falou que tinha uma empresa melhor que a Parmalat e eu falei: “ótimo, se for melhor para o clube, está ótimo. Eu não tenho nada com a Parmalat”. Mas ninguém trouxe nada. E esse episódio é um replay do comportamento de sempre. O Maurício respondeu muito bem, de forma muito serena. Não foi a empresa que fez essa carta, foi o Genaro, né? Então o Palmeiras deveria pedir a ele uma confirmação.