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Caso Daniel

Delegado do caso Daniel: "Crime começou pela manhã e terminou com almoço"

Dimitri do Valle e Karla Torralba

Do UOL, em São José dos Pinhais e São Paulo

20/02/2019 12h22Atualizada em 20/02/2019 23h06

O terceiro dia de audiência de instrução do caso Daniel começou na manhã de hoje (20) com o depoimento do delegado Amadeu Trevisan no fórum de São José dos Pinhais (PR) em fala de 4 horas. O chefe das investigações do assassinato do atleta falou das diferentes versões apresentadas por Edison Brittes Júnior à polícia no curso das investigações e ironizou a alegação da defesa de Juninho de que o crime foi cometido em "violenta emoção". 

"Não consegui entender a violenta emoção que durou três horas, um surto psicótico coletivo. Começou pela manhã e terminou com almoço de estrogonofe", disse o delegado em depoimento, o mais longo de todos os dias de audiência. Amadeu Trevisan começou a falar à Justiça por volta de 9h30 e encerrou o testemunho 13h30.

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Daniel foi morto na manhã do dia 27 de outubro de 2018, após um "after party" realizado na casa da família Brittes. O jogador foi espancado na residência em São José dos Pinhais e levado dali de carro para uma estrada, onde foi degolado e teve o pênis cortado. Cinco dias após o crime, Edison Brittes confessou ter matado a vítima. No carro, estavam ainda David Vollero, Eduardo Henrique da Silva e Ygor King, todos réus por homicídio. 

A citação sobre o estrogonofe feita pelo advogado se deve a um testemunho ainda durante o inquérito de que Evellyn Perusso, ré por supostamente ter mentido em depoimento à polícia, cozinhou o almoço para os que continuaram na casa dos Brittes no sábado após o crime. O prato escolhido foi estrogonofe. 

"Foi um inquérito simples. Eu só tinha de desconstruir a tese e mostrar que os fatos não foram daquela forma [como relatados por Edison Brittes]", contou Trevisan sobre as diferentes versões apresentadas pelo réu confesso ao longo do inquérito. 

Sobre a faca usada para degolar e cortar o pênis de Daniel, o delegado afirmou que o objeto foi jogado na água. "A faca foi jogada na água, segundo o próprio Edison. A princípio, ele disse que a faca estava no carro para cortar laranja. Acho improvável isso, pois na cidade não tem pé de laranja por aí", ressaltou. 

"Daniel apanhou na cama, no corredor, dentro do carro leva cotovelada. Para mim isso é tortura. Na área rural ele é tirado do carro e tem o pescoço degolado. É um cara contra quatro, totalmente indefeso", falou Trevisan ao ser questionado pelo advogado Rodrigo Faucz, que defende Ygor King e David Vollero, sobre se Daniel foi torturado. 

Amadeu Trevisan falou da participação de Cristiana e Allana Brittes no crime, quando afirmou que Cristiana estava dormindo e acordou com Daniel sendo espancado e que Allana, por ser mais jovem, teve menos noção ainda do que estava acontecendo. Para o delegado, no entanto, Cristiana foi determinante para o assassinato. "A partir do momento que ela não quis [que o assassinato acontecesse] na casa dela, ela praticamente o induz a pegar e fazer em outro lugar", disse.

O delegado também confirmou que o local do crime foi alterado por Edison ao mandar testemunhas limparem a casa, onde Daniel começou a ser espancado. "Não adianta só a confissão, tem que ser materializado. A partir do momento que ele [o local do crime] é alterado, acho que a camisa e a faca têm que ser trazidos para o inquérito". 

Trevisan disse que "Daniel morreu por ser imaturo". "Tirou foto e mostrou para os amigos". 

Depois de sair da sala de audiência, Amadeu Trevisan falou com a imprensa e disse que todos os réus contribuíram em diferentes níveis para o resultado, o crime. "Todos aqueles que concorreram para o resultado, responderão pelo resultado. A defesa tem que dizer que não praticou, mas ela poderia ter evitado. Ela só pede para que não cometam na casa dela. Ela contribuiu e induz para que não acontecesse ali. Allana Brittes colabora no sentido de cometer o crime oculto", explicou.

Terceiro dia de audiência:

Hoje as últimas testemunhas de acusação serão ouvidas na audiência de instrução do caso Daniel. O primeiro foi o delegado Amadeu Trevisan e na sequência falarão os investigadores Marcelo Brant e Izaudino dos Reis. 

Antes da audiência de hoje começar, a defesa da família Brittes falou à imprensa que ingressou com pedido de habeas corpus para libertar Allana Brittes. Segundo o advogado Renan Pacheco, as testemunhas que falaram à Justiça em condição de sigilo isentam a filha do casal de participação no ato de coagir testemunhas. 

Os dois primeiros dias de depoimentos foram marcados por falas emotivas da família de Daniel e por desavenças entre advogados de defesa e acusação.

Audiência continua em abril

Os depoimentos das 14 testemunhas de acusação acabarão hoje. Na sequência, devem ser ouvidas as testemunhas de defesa e, por fim, os réus.

Os arrolados pelos defensores dos réus, no entanto, serão ouvidos apenas em abril, com a transferência da audiência para os dias 1º, 2 e 3 deste mês. O advogado Rodrigo Faucz Pereira e Silva, responsável pela defesa dos réus Ygor King e David Vollero, confirmou a informação à reportagem do UOL Esporte.

O advogado de Ygor e David havia inicialmente pedido a anulação dos dois primeiros dias de audiência por não estar presente, mas o pedido foi negado pela juíza da 1ª Vara Criminal de São José dos Pinhais (PR) Luciani Regina Martins de Paula. Os dois são acusados de homicídio triplamente qualificado.

Entenda o caso

Daniel Correa foi morto no dia 27 de outubro de 2018 depois da festa de aniversário de 18 anos de Allana Brittes. Após celebração em uma boate de Curitiba, todos seguiram para a casa da aniversariante, onde o jogador foi espancado antes de ser levado dali de carro para a morte. 

Daniel foi degolado e teve o pênis cortado. Edison Brittes Júnior, pai de Allana, confessou o crime. No carro que levou o jogador para ser morto ainda estavam David Vollero, Ygor King e Eduardo da Silva, também presos acusados de participação no homicídio. 

Segundo Edison Brittes, conhecido como Juninho Riqueza, Daniel tentou abusar de sua mulher, Cristiana Brittes, e por isso iniciou a sessão de espancamento do jogador, ainda em sua casa. Cristiana e a filha Allana também estão presas. 

A polícia afirma que, além de ter matado Daniel, Edison Brittes ameaçou testemunhas do crime e fez com que todos os presentes na casa limpassem o local para apagar as provas de que Daniel esteve ali. 

A sétima ré denunciada à Justiça é Evellyn Perusso, ficante de Daniel na noite anterior ao crime. A garota, amiga de Allana, responde por falso testemunho e denunciação caluniosa. 

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