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Lateral do Atlético-MG usa até palestras de coaching para superar críticas

Patric, lateral direito do Atlético-MG posa para o UOL Esporte - Thiago Fernandes/UOL Esporte
Patric, lateral direito do Atlético-MG posa para o UOL Esporte Imagem: Thiago Fernandes/UOL Esporte

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

27/02/2019 04h00

Desde 2011 no Atlético-MG, Patric já viveu os dois lados do futebol. Sabe o que é ter fãs e acumular elogios. Mas também convive com críticas. Lidar com isso e seguir focado tornou-se o desafio diário do lateral direito. A alternativa escolhida foi recorrer a livros, palestras de coaching e tratamento psicológico.

"O Atlético está muito bem alicerçado na parte de psicologia. Busco dentro do Atlético e busco fora também. É bem pessoal mesmo e bem simples. Não é nada que eu pago, são coisas que eu vejo nas próprias redes sociais e livros que faço investimentos, sem expor ninguém, nem falar de alguém", disse ao UOL Esporte.

O jogador de 29 anos conhece o carinho da torcida. Em Belo Horizonte, ganhou o apelido de "Patricão da Massa" e teve o rosto eternizado por uma máscara.

"À época, quando surgiu as máscaras, o Pratto brincava: "Patric, você vende mais máscara que eu". Teve muita valorização. De fato, sou muito bem quisto e querido pela torcida", contou.

"Eu trabalho para o grupo. O Belletti falou uma coisa: "Cara, sempre fui o pior do meu time, só que fazia o melhor para o meu time". Então, essa é a minha ideia. Lá fora, posso ser o pior jogador do Atlético, mas para o Atlético, eu quero ser fundamental", acrescentou.

Porém, nem sempre foi assim. Na capital mineira, o lateral direito sofreu com vaias e críticas. Ninguém aliviou para o atleta. Mais recentemente, ele precisou trocar o número de telefone porque as reclamações se transformaram ameaças e intimidações.

"As pessoas têm várias maneiras de abordar alguém. Tentaram intimidar o Patricão da Massa com uma abordagem psicológica. Só vi a primeira mensagem. Passou uns 30 minutos, minha esposa foi pegar meu telefone e visualizou inúmeras, milhares de mensagens. Só vi as primeiras palavras, mas é uma situação que não parte de torcedor, parte de opositores. Sou muito bem resolvido com isso, mas espero que seja a primeira e última", afirmou o lateral direito, que optou por não prestar queixa das ameaças recebidas.

Patric, lateral direito do Atlético-MG - Bruno Cantini/Atlético-MG - Bruno Cantini/Atlético-MG
Patric tenta lidar diariamente com críticas no Atlético-MG
Imagem: Bruno Cantini/Atlético-MG

Titular absoluto de Levir Culpi, Patric já sabe como lidar com as críticas. Mas se preocupa com quem não consegue enfrentá-las ao chegar ao time profissional. Prestes a completar dez anos no clube, pede mais paciência à torcida com os jogadores.

"Nenhum atleta gosta de ser vaiado. Seria muito mais fácil jogarem junto, torcerem junto. Eu tento me preparar para essa parte, trabalhando todos os dias para o que gosto de fazer. Eu cuido da minha parte espiritual, porque sei que meu corpo vai ficar forte. Peço uma reflexão. Hoje é o Patric que eles vaiam. Mas quando for um atleta que não consegue dar a volta por cima? Vários atletas passaram por isso e não fizeram nem 20 jogos pelo Atlético Mineiro. Resumindo, não gosto, não quero que aconteça, mas não fico puto e nem vou mandar o torcedor para aquele lugar", declarou.

Confira os principais pontos da entrevista de Patric ao UOL Esporte:

Telefone vazado

Eu acho que deve ter mais ou menos uns 15 dias, meu telefone, acredito eu, que foi repassado. As pessoas têm várias maneiras de abordar alguém. Tentaram intimidar o Patricão da Massa com uma abordagem psicológica. Mas assim, eu só vi a primeira mensagem. Passou uns 30 minutos, a minha esposa foi pegar meu telefone e visualizou inúmeras, milhares de mensagens. Ela disse: "vamos cancelar esse telefone". Só vi as primeiras palavras, mas é uma situação que não parte de torcedor, parte de opositores. Eu sou muito bem resolvido com isso, mas espero que seja a primeira e última. Não criei caso com ninguém, fiz minha parte, que é trocar o número de telefone e seguir a minha linda de raciocínio.

Críticas

Nenhum atleta gosta de ser vaiado. Seria muito mais fácil jogarem junto, torcerem junto. Eu tento me preparar para essa parte, trabalhando todos os dias para o que gosto de fazer. Eu cuido da minha parte espiritual, porque sei que meu corpo vai ficar forte. Peço uma reflexão. Hoje é o Patric que eles vaiam. Mas quando for um atleta que não consegue dar a volta por cima? Vários atletas passaram por isso e não fizeram 20 jogos pelo Atlético Mineiro. Essa é a grande pergunta. Então, eu vejo também às vezes os meninos que subiram passarem por isso. É o cuidado que peço para o torcedor atleticano. São atletas que estão na base e joias que vão trazer retorno financeiro. Hoje, é comigo. E se amanhã for com um atleta que está em processo de maturação? Será que ele vai conseguir sobressair e dar a volta por cima? Resumindo, não gosto, não quero que aconteça, não fico puto, não vou mandar o torcedor para aquele lugar.

Máscara

À época, quando surgiram as máscaras, o Pratto brincava: "Patric, você vende mais máscara que eu". De fato, teve muita valorização. Não ganhei nem um real com isso, mas aquele que criou e também pôde trazer sustento para sua casa. De fato, sou muito bem quisto e querido pela torcida. Às vezes, recebo vaia, mas não é a maioria, é a minoria. Em 2019, não recebi nenhuma vaia. Então, muitas das coisas, a mídia cria. Rede social, hoje, deu poder para todo mundo. Não estou aqui para falar mal de rede social, não tenho nada contra. Tem que saber absorver e eu consigo absorver. De fato, a gente só precisa trabalhar.

Eu tenho, o Júnior Urso tem, o Otero tem. Inclusive, final de ano, eu recebi fotos. Eu tenho a máscara guardada. Fica na casa da minha mãe, ela que coleciona todas as minhas coisas.

Tratamento psicológico

O Atlético está muito bem alicerçado na parte de psicologia. Busco dentro do Atlético e busco fora também. É bem pessoal mesmo e bem simples. Não é nada que eu pago, são coisas que eu vejo nas próprias redes sociais e livros que faço investimentos, sem expor ninguém, nem falar de alguém. Eu compartilho as ideias que canalizo para a minha vida, até mesmo porque tem jovens e atletas do elenco que a gente já pôde ajudar voluntariamente. Eu costumo dizer e viver. Não é só por palavras, é também por gestos. Às vezes, a pessoa me observa por três, quatro meses e me diz: "pô, velho, você é diferente". Eu acredito muito que é na longevidade do meu trabalho que as coisas acontecem. Pessoas que já me viram, me conheceram anos atrás, falam comigo: "caraca, irmão, como você mudou". Ou até esperam algum tempo para se posicionar. Hoje, a gente fala e dá um bom testemunho.

Mudanças na vida

Na verdade, isso faz sete anos mais ou menos. Eu levava uma vida desregrada que não condiz com profissionalismo e atleta de alto rendimento. Antes, eu falava que era jogador de futebol. Hoje, eu me considero um atleta profissional, pegando grandes modelos de atletas que tem mundo afora. Não sou nada contra quem toma sua cerveja ou seu vinho. A minha empresa é o meu corpo, meu instrumento de trabalho. Tenho que zelar e cuidar dela. Foi por conta da maturidade que venho alcançando, sou casado, tenho filho. Vivo uma vida muito saudável para que possa ser modelo de atletas para os mais jovens, principalmente para aquelas pessoas que vão olhar uma matéria e ver uma foto na rede social e dizer: "quero ser igual a esse cara". É como encarei minha mudança de vida. É assim: "Patric, como você quer ser enxergado daqui 20 anos?". Não queria ser atleta de bar, danceteria, queria ser atleta de potencial, crescimento, que pode edificar uma casa, um lar.

Motivo da mudanças

É uma longa história. Assim como muitos, tive problemas familiares, separação dos meus pais. Em 2010, meu pai e minha mãe separaram. Minha cabeça se perdeu um pouco neste processo. Não entendi o motivo da decisão dele, fiquei dois anos sem falar com ele. Achei muito interessante, porque foi minha mãe quem procurou meu pai para me auxiliar. A minha mãe estava pedindo. O que ela pensou naquele momento? O Patric pode nos auxiliar, assim como vários atletas. A grande maioria vem de uma infância pobre, humilde. Devo muito aos meus pais pela educação que eles me deram. Já venho de berço com uma educação, mas procuro viver e fazer. Gosto de exercer o que falo. Então, o que falo eu vivo. Aí veio minha esposa, a Chay, que começou a me ajudar. Ela é formada em farmácia, faz seus cursos também. Aí vem a alimentação, descanso, todas as coisas que vêm para ajudar em conjunto para buscarmos a forma física, apta para ficar em prol da família.

Palestras de coaching

Eu não acredito muito em coincidência, acredito em fato. Na verdade, nessa palestra, eu fui convidado para ouvir. A palestrante não sabia que eu estava ali, mas o grupo todo desse lugar sabia quem eu era. Quando ela terminou a palestra, ela disse: "poderia ter pedido para você auxiliar aqui na palestra, a sua história é maravilhosa". Resumindo, ela e o marido, todos tiraram foto comigo. Eles têm mais de 300 escritórios mundo afora. Tem escritório no Brasil, nos Estados Unidos, Canadá... Era tudo sobre psicologia. Não esperava o convite. Penso em fazer alguns cursos também, até para aprimorar. Essa parte que falei de ajudar os jovens, é esporadicamente, quando a gente vê algum atleta que precisa de ajuda, anda um pouco cabisbaixo ou não produz o que pode produzir. Temos uma pessoa aqui do clube que me chamou e falou: "Está vendo esse cara? Esse cara é o Patric, ele vai completar 10 anos no Atlético Mineiro. O que ele falar, você ouve, porque vai trazer crescimento na sua vida e profissionalismo". Então, para mim, não tem palavras e preço que poderia pagar isso aí. Tem tudo isso que gosto de fazer, mas tenho sonhos e ambições, quero vencer Libertadores, Brasileiro, o Atlético precisa desse título. São coisas que, se vierem a mim, terão feito extraordinário, porque as pessoas vão chegar de maneira diferente. Seria de muita alegria.

Novos cursos

Tenho vontade de fazer os cursos da CBF. Essa parte de coaching é um dos cursos que quero continuar fazendo. Algo bem certo, com profissionais adequados. Hoje, a gente vê a crescente que essa parte da psicologia tomou. Eu tenho cuidado para buscar referência também. Eu quero fazer uma faculdade, pretendo cursar sim, porque acho que traz muito crescimento. Ainda está longe o fim da minha carreira, tenho 29 anos, muito tempo para remar. Tenho alguns pensamentos de alguns cursos. Mas quero tentar conciliar, ter um bom desempenho profissional, bom desempenho físico e técnico, porque a gente é avaliado pelo rendimento.

Reconhecimento interno

Para mim, é uma coisa mágica. Eu falo porque de fato eu mudei ao longo da minha história. Eu era muito brigão, era muito esquentado. Ao longo dos anos, fui aprendendo com meus erros. Por isso, nunca fugi dos meus erros, fui aprendendo com os meus erros, seja dentro ou fora de campo. Então, ser reconhecido por todas essas características que as pessoas atrelam a mim e à minha família. Imagina o seu pai ver as pessoas falarem que você é um exemplo na sua profissão. Eu espero que o Dominic, um dia, possa ouvir tudo isso que envolve o pai dele. É trabalhar, evoluir mais, crescer mais para que eu possa ajudar muito mais. Eu tenho fé, convicção e certeza de que esses títulos vão vir para ajudar as coisas. Aprendi que aquele que é muito dado, muito será cobrado. Então, talvez eu sou cobrado, porque as pessoas esperam e sabem que eu posso dar muito mais do que estou fazendo, do que quero fazer ou até já fiz.

"Patricão da Massa"

Eu gosto do apelido, de fato. Muita gente, muitos amigos me chamam de Patricão da Massa. Os meus amigos de Belo Horizonte só me chamam de Patricão da Massa. As esposas dos meus amigos me chamam de Patricão da Massa. Às vezes, a emoção toma conta. É gostoso demais, eu amo o Atlético, só que eu não sou marqueteiro. Eu trabalho para o grupo. O Belletti falou uma coisa: "Cara, sempre fui o pior do meu time, só que fazia o melhor para o meu time". Então, essa é a minha ideia. Lá fora, posso ser o pior jogador do Atlético, mas para o Atlético, eu quero ser fundamental. Eu passei com três presidentes aqui (Alexandre Kalil, Daniel Nepomuceno e Sérgio Sette Câmara), seis treinadores e joguei mais de 36 partidas do ano com quatro. Jogo mais da metade dos campeonatos de partida. Os dois que não joguei tive excelente relacionamento.

Importância de Levir

O Levir é um cara paizão, é um cara que auxilia e ajuda todo mundo, não só a mim. É um cara que dá muita oportunidade a todos para trabalhar. É um cara que tem muitas passagens pelo Atlético. Se ele tem muitas passagens pelo Atlético, é porque as pessoas gostam muito dele e do trabalho dele. Ele retorna ao clube para ter uma conquistar e a gente vai extrair o melhor dele para que sejamos melhores em tudo.

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