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Corintiano preso na Argentina diz ter sido agredido e roubado por policiais

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

01/03/2019 12h00

Pelo menos 14 torcedores do Corinthians que foram à Argentina ver o jogo contra o Racing na última quarta-feira (27) não conseguiram entrar no estádio Presidente Perón. Um deles, integrante da torcida organizada Coringão Chopp, acabou detido por tentar passar da revista policial com uma bandeira enrolada nas pernas - o item estava proibido por ordem da Conmebol. Ele conta como tudo aconteceu e afirma ter sofrido agressões e ter sido até roubado por policiais.

Tudo começou justamente com a bandeira que leva o nome da torcida organizada. A ideia de tentar escondê-la foi dele próprio, conta Bruno, que em conversa exclusiva ao UOL Esporte preferiu não revelar seu sobrenome. "A gente quer colocar a faixa da torcida para dentro em qualquer jogo, independentemente se está punido, se é proibido ou não. A gente assume o erro, porque não deveria entrar, mas demos nosso jeito porque queríamos ver a bandeira dentro do estádio. Tomamos o risco pelo Corinthians, para ter nosso nome em todo canto", diz o torcedor.

De acordo com a Agência de Prevenção da Violência no Esporte (APreviDe), do Ministério de Segurança da Província de Buenos Aires, foram 14 torcedores detidos pouco antes de a bola rolar para Racing e Corinthians, em jogo da Copa Sul-Americana - incluindo Bruno. O órgão informa que foram apreendidas drogas, bebidas alcoólicas e bandeiras irregulares, que não tinham a dimensão aceita pela Conmebol. Desde janeiro a entidade proíbe itens que tenham mais de 2 metros por 1 metro.

"Nós até falamos que, se desse alguma coisa errada, eles [policiais] só nos mandariam tirar [a faixa] e voltar para o ônibus. O máximo que fariam seria nos deixar no ônibus. Mas aí perceberam porque estavam mandando tirar tênis, tirar meia, chutando durante a revista, dando tapa na nuca", denuncia o torcedor, reclamando de violência policial. "Durante a revista o cara sentiu e já começou a puxar a faixa, foi quando saiu nos vídeos", explica.

Bruno até pediu para não ser filmado, mas não adiantou. É ele quem aparece em um vídeo divulgado ontem pela APreviDe, no qual policiais aparecem retirando justamente a faixa da torcida organizada Coringão Chopp que estava enrolada em suas pernas (assista mais acima). Segundo Bruno, foi aí que começou o abuso dos agentes de segurança.

"Nos levaram para dentro de um camburão, sem ar. Quando eu cheguei já tinham quatro lá dentro. Falamos que estávamos com sede, mas disseram que não tinha água. E que era para ficarmos tranquilinhos, mas que esse jogo a gente já não assistiria", relembra Bruno, que diz que outros vários torcedores foram detidos sem justificativa.
"Eu ainda assumo meu erro, mas também não justifica a ação deles, de bater, pegar o dinheiro de todo o mundo como pegaram", reclama.

Na versão do corintiano, os pertences de todos os torcedores foram recolhidos pela polícia e guardados em sacolas. Eles então foram levados a uma delegacia para assinar boletins de ocorrência e, na volta, notaram que parte das coisas já não estava mais lá. "Faltava dinheiro de todo o mundo, relógio, correntinha de prata... Até tênis sumiram e, quando um torcedor foi reclamar, tomou um monte de pancada", conta Bruno, que diz não ter visto torcedores sendo detidos com drogas, como sustenta a APreviDe.

"Se tinha, eu não vi. O que ouvi foi eles falando que, se ficássemos quietinhos, eles liberariam depois do jogo; se déssemos trabalho, jogariam um monte de coisa para assinarmos lá [na delegacia]. Até creio que não [tinha droga], porque ficaram responsáveis vários torcedores conhecidos. A maioria foi [detida] de forma aleatória", entende.

No final das contas, Bruno e os demais torcedores foram liberados já na madrugada de ontem.Por conta do ocorrido ele não pôde retornar no ônibus da torcida organizada e precisou pedir dinheiro emprestado para comprar passagens. A bandeira, pelo menos, foi recuperada.

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