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Caso Daniel

Testemunha e ré acusam gêmeo de envolvimento no caso Daniel em conversa

Evellyn Brisola Perusso foi denunciada pelo MP por três crimes após a morte de Daniel - Reprodução
Evellyn Brisola Perusso foi denunciada pelo MP por três crimes após a morte de Daniel Imagem: Reprodução

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

08/03/2019 04h00

Conversas entre Evellyn Perusso, ré por falso testemunho no caso Daniel, e a menor T.F., prima de 17 anos de Cristiana Brittes, testemunha no processo, acusam Eduardo Purkote de ter batido e quebrado o celular do jogador, após Daniel Correa ter sido retirado da casa da família Brittes momentos antes de sua morte. A reportagem teve acesso a prints das conversas, conduzidas pelas duas pelas redes sociais.

A troca de mensagens, que aconteceu após o encerramento do inquérito policial, quando Evellyn foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público, foi vazada na última semana e apareceu em páginas do Facebook. Os prints foram registrados pela mãe de Evellyn, Rosangela Brisola Machado, em ata notarial, à qual a reportagem também teve acesso, e adicionada ao processo sobre o assassinato de Daniel.

A ata notarial traz as imagens das conversas entre Evellyn e a adolescente de 17 anos, que foram repassadas pela ré à própria mãe, requerente do documento datado de 6 de dezembro de 2018. A conversa diz respeito aos depoimentos das duas à polícia, durante o inquérito. 

Evellyn e adolescente - Reprodução - Reprodução
Trecho da conversa entre Evellyn e adolescente testemunha
Imagem: Reprodução

Os prints citam membros da famílias Brittes e até mesmo o promotor do caso na época, João Milton Salles, autor da denúncia dos sete réus à Justiça. Os 'piás' a que as duas se referem são Ygor King e David Vollero, presos por envolvimento no assassinato. 

Evellyn diz: "Vai juntar meu advogado, o Dalledone, o advogado 'dos piá'. E vão para cima do promotor".

A adolescente de 17 anos responde: "Sim meu... Eu não lembrava do papel dele lá, estava muito nervosa, esqueci da metade dos fatos, que ódio me arrependi tanto. E ainda foi pior porque acusaram você. Sim, mas os meninos também tentaram mentir e jogar tudo pro Edu e pro Júnior. Fiquei de cara com isso". 

Edu é Eduardo Henrique da Silva, Júnior é Edison Brittes Júnior. Os dois também estão presos e respondem, entre outros crimes, por homicídio. A conversa continua: 

Evellyn: "Eles saíram limpo, porque tem dinheiro". 

Adolescente: "Realmente, o Purkote se safou demais porque ele era o mais foguinho". 

Evellyn: "Ele ajudou a bater lá fora. Lembra que o irmão dele falava pra ele parar". 

"Ele" é Eduardo Purkote, que foi preso durante o andamento do inquérito, mas solto. Ele não foi denunciado e agora é testemunha do caso junto ao irmão gêmeo, Gustavo. 

Adolescente: "E só não foi no carro porque o irmão dele não deixou. Fiquei preocupada porque você falou toda a verdade e foi acusada de mentir". 

Evellyn: "Sim, que raiva, fui a única que contei até os detalhes e eles falaram que eu menti". 

Adolescente: "Exatamente, e 'o gêmeo lá saiu' impune".  

Evellyn: "Ainda limparam a barra do Purkote, sendo que o piá quebrou o celular. Pegou a faca". 

Adolescente: "Eu falei muito pouco porque fiquei nervosa, deveria ter dado mais detalhes". 

Evellyn: "Ele não falou a verdade nem pra mãe dele. Ela fica lá defendendo". 

Adolescente: "E o irmão dele acobertando. E ele queria ir junto ainda no carro. E só não foi no carro porque o irmão dele não deixou". 

Evellyn foi denunciada pelo Ministério Público por denunciação caluniosa e fraude processual. Em seu depoimento à polícia, a ré afirmou que Eduardo Purkote participou das agressões ao jogador, quebrou o celular da vítima e entregou a faca do crime a Edison Brittes Júnior, que confessou ter matado Daniel. 

Conversa Evellyn e testemunha  - Reprodução - Reprodução
Trecho da conversa entre Evellyn e a testemunha de 17 anos
Imagem: Reprodução

Edison Brittes, Cristiana Brittes, Allana Brittes, Ygor King, David Vollero e Eduardo da Silva estão presos por envolvimento na morte do jogador. Evellyn responde em liberdade.

O advogado de Eduardo Purkote Ricardo Dewes afirmou que as conversas têm "origem duvidosa". "Os irmãos são testemunhas, não precisam de defesa, estão somente falando a verdade e os horrores que vivenciaram naquele terrível dia. O documento apresentado com o teor dessa conversa entre a Evellyn e a T., além de ser baseado em imagens de imagens de uma suposta conversa, foi feito após os depoimentos à autoridade policial e com a orientação dos advogados delas, que como elas mesmo dizem estão contra as testemunhas. As conversas não possuem nem mesmo uma data, o que as torna incertas e de origem duvidosa. Além disso, existem diversas contradições entre o que elas conversam e as próprias declarações dos outros réus", disse.

O advogado de Evellyn Perusso, Luis Roberto Zagonel explicou que juntou o documento ao processo nos últimos dias, antes do depoimento da prima de Cristiana Brittes à Justiça, que aconteceu no último dia 26. "Eu fiz a juntada agora antes da oitiva dela, caso ela falasse algo diferente do que havia na conversa. No depoimento, ela é questionada sobre a conversa e fala que não lembra, mas no final, quando confrontada, ela afirma que de fato teve a conversa. Adite a denúncia e inclua a pessoa dele e absolva a Evellyn ", contou Zagonel. 

"Ela está abalada por causa das imputações. Ela é testemunha dos fatos e não participou. Ela viu a agressão", ressaltou o advogado de Evellyn. A menina havia ficado com Daniel na noite anterior ao crime, na boate Shed, em Curitiba, onde foi comemorado o aniversário de Allana Brittes.

Os depoimentos do caso Daniel serão retomados em 1º de abril com as testemunhas de defesa e a fala dos réus e devem durar três dias. 

Relembre a 1ª fase de depoimentos:

O advogado da adolescente que a acompanhou em seu depoimento à Justiça, no dia 26 de fevereiro, afirmou que não atende mais a prima de Cristiana Brittes. O UOL não conseguiu contato com a mãe da testemunha. 

O Ministério Público afirmou que não vai se manifestar sobre o caso. O advogado da família Brittes, Claudio Dalledone Júnior, disse que não há como se manifestar de forma precisa em relação à parte na qual é citado: "Sobre o que terceiros dizem, não há como se manifestar precisamente, contudo acredito que ela se refere a um posicionamento Jurídico". 

O advogado de Ygor King e David Vollero Rodrigo Faucz Pereira e Silva ressaltou que assumiu a defesa dos dois em 27 de dezembro de 2018 que "os supostos fatos narrados na conversa não se referem a ele ou a qualquer advogado de seu escritório". 

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