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Campeão com Neymar, Maikon Leite defende: 'melhor cair ou quebrar a perna?'

Maikon Leite, na época em que jogava no Santos - Ricardo Nogueira/Folhapress
Maikon Leite, na época em que jogava no Santos Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

17/03/2019 04h00

Se por um lado parte da imprensa, torcida e jogadores adversários apontam Neymar como "cai-cai", por outro há muita gente que considera injusta a fama do atacante do PSG, que tomou maiores proporções durante a Copa. Maikon Leite, campeão da Libertadores ao lado do craque em 2011 pelo Santos e hoje no Brasiliense, faz parte desse 'segundo time'.

Em entrevista ao UOL Esporte, o atacante falou sobre o ex-companheiro, com quem não tem mais tanto contato. Maikon Leite também já apanhou muito em campo e chegou a ficar oito meses parado após romper todos os ligamentos do joelho em 2008, após uma disputa com o goleiro Bruno, do Flamengo. Para o jogador do Brasiliense, Neymar faz o que deve ser feito. E cita como exemplo o lance que provocou a última lesão do craque do PSG, em que ele precisa sofrer três faltas até o juiz finalmente parar a jogada e assinalar a infração.

"É melhor ele cair ou melhor ele ir para o ataque e quebrar a perna? Ele tem duas opções. É só olhar essa última lesão dele: ele teve que levar três 'porradas' para o árbitro apitar a falta, e aí ele teve a lesão. Se já na primeira falta o árbitro tivesse apitado, talvez ele saísse sem lesão", afirmou Maikon Leite, que também defende o ex-companheiro das críticas da última Copa.

Maikon Leite, então no Santos, sofreu lesão séria em jogo contra o Flamengo, em 2008 - Ricardo Saibun/AGIF/Folha Imagem - Ricardo Saibun/AGIF/Folha Imagem
Maikon Leite, então no Santos, sofreu lesão séria em jogo contra o Flamengo, em 2008
Imagem: Ricardo Saibun/AGIF/Folha Imagem

"É muito fácil criticar no momento que o Brasil perde uma Copa do Mundo que, teoricamente, o nosso craque não resolve. É muito fácil ficar falando mal, mas só quem está ali dentro sabe o que é a responsabilidade que ele traz, então é uma coisa que não tem nem o que falar. Se ele deixar a perna em todas, ele vai jogar um jogo e depois ficar dois, três meses parado porque vão quebrar a perna dele", acrescentou.

Neymar 'sensacional' fora de campo

Contratado pelo Santos em 2008 depois de se destacar pelo Santo André, Maikon Leite acompanhou a ascensão de Neymar dentro de campo. Fora dele, aponta o craque como uma pessoa 'sensacional' e totalmente de grupo.

"Sim [cara de grupo], sensacional. Da minha parte, dos três anos que convivi com ele no Santos, não tenho o que falar do dia que ele chegou até o dia que eu saí do Santos. A cada etapa que passava, ele evoluía, era impressionante, não tem explicação. Só quem estava lá é que pode falar isso. Ele foi evoluindo de uma forma que não tem explicação. E chegou uma hora que ele já estava um craque, e hoje não tem o que falar, é indiscutível."

Neymar brigará pela Bola de Ouro com Mbappé

Neymar brinca com Mbappé durante treino do PSG - KARIM JAAFAR / AFP - KARIM JAAFAR / AFP
Imagem: KARIM JAAFAR / AFP
Para Maikon Leite, Neymar tem tudo para brigar pela Bola de Ouro nos próximos anos. Porém, terá a concorrência de um companheiro do atual time.

"Acredito que, no máximo em três anos, ele e o Mbappé vão brigar pela Bola de Ouro. Pode ser que surja alguém, pode ser que para o ano que vem ainda sejam Messi ou Cristiano Ronaldo, mas daqui a três anos a briga vai ser ele com o Mbappé", analisou.

Libertadores pelo Santos: "tive participação direta"

Campeão da Libertadores de 2011, o Santos chegou a ficar por um fio ainda na fase de grupos e por pouco não foi eliminado. Mas uma vitória por 2 a 1 sobre o Cerro Porteño em Assunção (Paraguai) deu sobrevida ao time que iniciou a competição com Adílson Batista no comando e terminou com Muricy Ramalho como técnico. O final da história todo mundo conhece, mas Maikon Leite ajuda a relembrar o jogo-chave em que pôde contribuir para manter o Peixe vivo no torneio.

Maikon Leite comemora o primeiro gol do Santos contra o Mirassol - RICARDO SAIBUN/AGIF/AE - RICARDO SAIBUN/AGIF/AE
Imagem: RICARDO SAIBUN/AGIF/AE
"Foi o maior título da minha carreira, sem dúvida nenhuma, e que posso não só falar que estava no grupo, mas também que tive participação direta nessa conquista e principalmente na nossa classificação [para o mata-mata]. Todo santista lembra e me recorda até hoje do meu gol contra o Cerro Porteño, que nos trouxe de volta a oportunidade de jogar em casa por uma vitória", diz.

Naquela partida, Maikon Leite foi acionado na metade do primeiro tempo, substituindo Danilo, machucado. Deu bastante trabalho à defesa do time paraguaio e, no começo do segundo tempo, deixou o Santos em situação mais confortável ao marcar o segundo gol - Danilo havia aberto o placar no começo do jogo com um golaço de fora da área.

"Se a gente empatasse, estávamos fora, então eu tive participação direta e posso falar que não estava só na foto, não. Nós fomos para esse jogo com vários desfalques, não tivemos Neymar, Elano e Zé Love, eles estavam numa sequência excelente. Nós fomos para lá e ouvimos: 'ah, o Santos vai cair fora', e quem entrou resolveu. Foi o primeiro jogo do Muricy Ramalho como treinador do Santos na Libertadores", recordou.

Maikon Leite já sofreu três pênaltis no mesmo jogo

Em seu primeiro ano com a camisa do Santos, em 2008, Maikon Leite passou por uma experiência nada comum. Em um jogo contra o Vasco, pelo Campeonato Brasileiro, o atacante sofreu três pênaltis, todos marcados pela arbitragem.

"Teve um jogo na Vila Belmiro contra o Vasco da Gama que tiveram três pênaltis, e eu lembro que eu apanhei muito. Não lembro de ter um jogador no futebol que sofreu três pênaltis num jogo além de mim. Já vi jogador que fez três, quatro, até cinco gols, mas um que sofreu três pênaltis como eu, nunca vi. Foi no Brasileiro de 2008, 5 a 2 para o Santos, e sofri os três pênaltis", recordou o atacante, que ao longo da carreira se acostumou a apanhar bastante dos adversários.

"Eu apanhei muito este jogo. E outro que eu apanhei muito também foi Santos e Internacional, no Beira-Rio, também em 2008. Foi 1 a 0 para nós e eu lembro que a zaga era Bolívar e Índio. Estes dois... vou te falar uma coisa [risos]. Não batiam pouco, viu [risos]? Nunca joguei junto com o Índio, mas trocamos telefones e fora de campo é um cara fora de série. Mas estes caras batiam, meu, não era brinquedo, não. Eles batiam até na sombra deles se deixassem", brincou.

Fim da passagem pelo Palmeiras teve a ver com Oswaldo

Maikon Leite comemora gol com a camisa do Palmeiras - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Em sua segunda passagem pelo Palmeiras, em 2015, Maikon Leite praticamente não jogou. Ele chegou ao clube a pedido do técnico Oswaldo de Oliveira, depois de defender o Atlas, do México. Mas acabou esquecido depois de três partidas, e até hoje vê o treinador como um dos responsáveis pelo fim de sua história com a camisa alviverde.

"Na época eu tinha vontade de permanecer [no Atlas], só que os clubes não entraram em acordo. O impasse foi com o Palmeiras, e o treinador Oswaldo de Oliveira me pediu de volta, disse que ia me utilizar. Aí fiz a pré-temporada, joguei uma partida como titular, na outra fui banco e saí no intervalo do clássico contra o Corinthians e nunca mais joguei. Foi um momento em que você não sabe o que acontece no futebol. Aí o Palmeiras fez novas contratações e eu fiquei para trás. Foi nesse momento que acabou minha história no Palmeiras", disse o atacante.

"É difícil ficar apontando que faltou diálogo. Joguei um jogo de titular, o outro não joguei e o outro saí no intervalo num clássico contra o Corinthians. Para quem não entende e só vê o jogo e o resultado, eu saí no intervalo, então a culpa é dele [jogador]. Aí depois não joguei mais e fui emprestado. Acabou meu momento no Palmeiras justamente aí", completou.

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Chegada ao Santos: "outro mundo"

Foi o treinador Cuca quem me levou para lá e me deu este suporte no meu primeiro clube grande. Eu saí do Santo André disputando uma Série B com 18 anos, e aí você vai para o Santos e é totalmente diferente, é outro mundo, é outra história. Aí chego e vejo Kleber Pereira, Fábio Costa, esses jogadores que já tinham bagagem, e não era pouca, não. E aí você vai vendo no dia a dia, é outra coisa, e é só você observar o que os mais velhos fazem, adquirir seu espaço com respeito e seguir seu caminho.

Palmeiras: "poderia ter dado muito mais"

Eu fui do céu ao inferno. O começo foi conturbado. O Palmeiras estava naquela de voltar a ser um clube respeitado, o respeito que tem hoje o Palmeiras não tinha, e estava nesta mudança de direção, e ganhamos a Copa do Brasil. A gente estava no céu, como se diz. Fazia tempo que o Palmeiras não ganhava um título importante, mas, de repente, no Brasileirão, as coisas não iam, e a gente pensando que dava tempo. Aí o Felipão saiu, chegou o Gilson Kleina e respiramos um pouquinho, mas não deu certo e caímos para a Série B. Aí eu fui emprestado, não fui mais o mesmo no Palmeiras. Depois voltei, achei que ia retornar a coisa, mas não aconteceu de novo. Mas tenho certeza que poderia ter dado muito mais no Palmeiras, mas por inúmeras razões da minha parte, da parte de quem está lá, da parte extracampo... cada um tem sua parcela; eu tenho a minha, como todo mundo tem a sua, mas eu poderia ter sido muito mais do que fui.

Felipão: "é um orgulho falar que trabalhei com ele"

Ele me deu todo suporte possível. Foi ele quem me levou para o Palmeiras, devo muito a ele e respeito muito o trabalho dele. Ganhamos a Copa do Brasil 2012 sem ninguém acreditar e, de repente, no Brasileiro, as coisas não andaram. Antes do final ele saiu, mas não tem nem o que falar, é um orgulho para mim falar que trabalhei com o Felipão.

Atlas-MEX: "um dos clubes que mais gostei de jogar"

Eu joguei no Atlas e no Toluca, mas o Atlas, para mim, foi um dos clubes que mais gostei de jogar na minha carreira. Eu me sentia muito à vontade. Tive um ano excelente lá e, por motivos extras, o Atlas não chegou a um acordo com o Palmeiras na época, e o Oswaldo de Oliveira me pediu de volta. Mas é um clube que até hoje a torcida tem um carinho enorme por mim, sempre me manda mensagem, e é um clube que realmente sinto muita falta.

Ainda espera voltar a um time grande?

Sim, sem dúvida. Espero fazer um bom campeonato aqui no Brasiliense, subir, que é o objetivo, e se não conseguir alguma proposta de clube de Série A ou Série B, não vejo problema nenhum, vou continuar neste projeto do Brasiliense e quem sabe subir para uma C ou B e seguir minha carreira. Tenho 30 anos e eu não vim aqui para me aposentar, longe disso. Recebi uma proposta, aceitei e estou pronto para o desafio. O meu contrato vai até o Estadual do ano que vem.

Lesões atrapalham interesse de clubes?

Acredito que não, porque quem me conhece sabe o que posso render ou não. No ano passado, no Figueirense, joguei 32 partidas. Não é pouco. Deveria ter jogado mais, não joguei por opção, mas poderia ter jogado 40 ou até mais de 40 partidas, que é o normal na maioria dos jogadores - chegar no final do ano com 60 ou mais jogos. Então não joguei pouco e não tive problema nenhum, isso aí é besteira. Qualquer jogador está sujeito a isso, não adianta ficar com isso na cabeça. Machucou, vai cuidar, se recupera e volta, acabou. Meu objetivo é conquistar. Fui campeão no Figueirense, no Bahia, no Ceará participei do acesso, então sou muito vitorioso na minha carreira; de nove finais, ganhei 8 títulos. Quer dizer, tenho muito mais a agradecer do que ficar lamentando se houve uma lesão, de uma sequência que não tive. Agora só quero continuar a minha caminhada.