Topo

Alvo de racismo da torcida, brasileiro reclama de árbitro e treinador rival

Serginho deixa campo na Bolívia após ofensa da torcida do Blooming - Reprodução
Serginho deixa campo na Bolívia após ofensa da torcida do Blooming Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

19/03/2019 18h23

O brasileiro Serginho falou sobre o episódio de racismo que o fez abandonar o campo durante a partida entre Blooming e Jorge Wilstermann, no último fim de semana, pelo Campeonato Boliviano. Alvo da torcida do Blooming, o jogador também criticou o árbitro do jogo, Gery Vargas, e o técnico do rival, Erwin Sánchez.

Aos 40 minutos do segundo tempo, o atacante do Wilstermann (ex-Linense, Mogi Mirim, Portuguesa e XV de Piracicaba, entre outros clubes) deixou o gramado reclamando de ofensas racistas vindas da torcida do Blooming, que venceu por 2 a 0.

"Foi um momento muito difícil. Estava passando isso há um certo tempo, mas resolvi tomar uma decisão. Foi uma coisa pessoal, não estava aguentando mais, o tempo todo a torcida fazia o som de macaco, brasileiro disso, daquilo e foi uma coisa muito difícil. Conversei com o árbitro, que é da Fifa, ele dá uma risada pra mim debochando daquilo, achei uma falta de respeito e acabei tomando essa decisão. Futebol não é para isso, as pessoas estavam no lugar errado, eu estava no lugar certo, fazendo o meu trabalho", disse à ESPN.

"Não foi a primeira vez. Desde o meio do ano passado, ficou uma coisa corriqueira. Jogo passado contra o San Jose, em Oruro, eles fizeram a mesma coisa, esse som de macaco, imitando macaco, e todo tempo isso. Ninguém fez nada. Isso começou com o próprio treinador do clube (Blooming) no ano passado, quando nós eliminamos eles nas quartas. Pegou pesado, começou a me chamar de macaco, que eu não estava no meu país. Creio que teve influência dele, infelizmente. São pessoas que não têm muito o que fazer. Você se sente impotente. A única coisa que pude fazer foi sair do campo como ato de protesto", contou.

Serginho diz que está recebendo grande apoio na Bolívia, e até mesmo do presidente Evo Morales se solidarizou com o atleta. O brasileiro acredita que seu episódio será um divisor de águas no futebol boliviano.

"Eu estou muito amparado pelo meu clube. Esse momento vai ser um divisor de águas. Não aconteceu só comigo, tem jogadores negros bolivianos, colombianos que sofrem muito esse tipo de discriminação aqui, mas isso não representa o povo boliviano, que é um povo muito carinhoso e receptivo com os brasileiros", declarou Serginho, que relembrou do episódio de racismo envolvendo o goleiro Aranha, do Santos, durante jogo contra o Grêmio em 2014.

"Sempre falo com alguns amigos aqui do caso que teve com o Aranha no Sul. Depois dessa situação, o futebol brasileiro mudou muito. O respeito pelo negro aumentou muito depois do papel do Aranha, da coragem que ele teve. Aqui não é diferente. Estamos sendo amparados pelo presidente do país, imprensa, torcida, muita gente na rua. Eles entendem que é o momento de parar. Espero que o respeito seja maior com todos os estrangeiros que vêm aqui", finalizou.