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Paulista - 2019

Diretor conta como Red Bull virou melhor do Paulista: "Não é acidente"

Thiago Scuro, diretor-geral do Red Bull Brasil - Divulgação/FPF
Thiago Scuro, diretor-geral do Red Bull Brasil Imagem: Divulgação/FPF

Eder Traskini e Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte e Santos

23/03/2019 04h00

"Do Campeonato [Paulista] todo, o favorito é o Red Bull" - foi o que disse Andrés Sánchez, presidente do Corinthians após a última rodada da fase de grupos do Estadual. Mas não é que pensa Thiago Scuro, CEO do Red Bull Brasil.

Com faturamento anual próximo de R$ 30 milhões, o clube surpreendeu na primeira fase do torneio e terminou com a melhor campanha, com 27 pontos em 12 rodadas. Às vésperas das quartas de final contra o Santos, Thiago Scuro atendeu o UOL Esporte e falou sobre o assunto.

Planejamento é palavra-chave para o dirigente que já esteve à frente do Cruzeiro e sabe bem as diferenças entre um time tratado como uma empresa e outro que conta com uma estrutura como a dos demais clubes brasileiros.

"Estive no Cruzeiro e sempre disse isso. Foi uma decisão difícil sair, tive o privilégio de trabalhar no Cruzeiro. Um dos maiores clubes, tem potencial enorme. A política acaba condicionando as decisões no topo da organização. É essa a grande diferença. Um clube-empresa, no topo da organização, a gente só discute futebol, investimento, estrutura, modelo de jogo. Em um clube como o Cruzeiro, que é onde vivi, o topo da pirâmide discute demais a política, a questão das próximas eleições, o conselho, a opinião da imprensa e redes sociais", disse ao UOL.

No Red Bull, Thiago Scuro tem liberdade o suficiente para discutir o que estudou: futebol. Foi assim que montou a sensação do Paulista 2019. Mas se engana quem pensa que o trabalho é feito há pouco tempo. Pelo contrário. O dirigente começou a planejar esta temporada no início de 2017, logo que voltou ao clube.

"Muito [da campanha] é por planejamento, organização e tempo. O estágio que atingimos agora é fruto de uma reorganização que o clube vem passando desde o início de 2017. Eu fui convidado a retornar quando saí do Cruzeiro com um projeto ambicioso de preparar o Red Bull Brasil para crescer em nível nacional e ficar em destaque, assim como são os outros times que a Red Bull se relaciona fora do Brasil", comentou.

"Não é um acidente, não é um acaso, mas, sim, fruto do trabalho de vários profissionais que se comprometeram e estão ajudando para que o clube cresça. É um trabalho coletivo, existe o mérito do Antônio Carlos Zago, nosso treinador, desse grupo de jogadores, que se comprometeram com o clube em um nível que fazia algum tempo que não tínhamos", acrescentou.

Hoje, às 19h30 (de Brasília), a equipe comandada por Antônio Carlos Zago enfrentará o Santos, na Vila Belmiro, pela ida das quartas de final do torneio. A volta será na terça-feira (26), às 20h (de Brasília), no Moisés Lucarelli.

Confira, abaixo, outros trechos da entrevista de Thiago Scuro ao UOL Esporte:

FORMAÇÃO DO ELENCO

"Existe uma autonomia de cada país para construir ideias de jogos, para construir elenco, para se organizar. Eu acho que essa questão do equilíbrio entre jovens talentosos para se desenvolver e jogadores maduros que podem ajudar a equipe crescer é uma tendência do futebol mundial. As grandes equipes do mundo procuram esse equilíbrio em todos os sentidos. Nós temos hoje quase 50% do elenco com atletas entre 20 e 25 anos. A gente tenta reduzir cada vez mais o percentual de atletas acima dos 30 anos. Conseguimos, nesse ano, antecipar o mercado e temos oito jogadores oriundos de Primeira Divisão. Conseguimos trabalhar com um número significativo de atletas neste sentido. Eles foram observados na construção da equipe. Obviamente, a gente busca gerar oportunidade para jogadores jovens".

RELAÇÃO COM OUTROS TIMES DA RED BULL

"Existe um relacionamento constante com os outros diretores esportivos, principalmente com o Leipzig [da Alemanha] e com o New York [dos Estados Unidos]. Nós temos a responsabilidade pela captação de atletas de jogadores da América do Sul, não só do Brasil. É um departamento que está sob nossa responsabilidade, que foi criado no meio de 2017. Através do desempenho da nossa equipe e do monitoramento no mercado latino, a gente consegue manter um fluxo de relacionamento constante e tenta aproveitar ao máximo de conhecimento, prática e informações dos clubes de outros países, até pelo sucesso que eles vêm tendo. O Leipzig se tornou uma força do futebol alemão. O New York foi campeão da temporada regular da MLS. Tudo isso gera oportunidade da gente poder aprender alguma coisa, mas jamais deixando de respeitar a história do futebol brasileiro. É algo que temos como entendimento comum em todos os níveis".

METODOLOGIA NO MERCADO DA BOLA

"Acho que o primeiro fator é o projeto técnico que é apresentado para o atleta. A antecipação foi um ponto importante. Já no meio de setembro, estávamos trabalhando ativamente o mercado, fazendo propostas, assinando com os jogadores, isso traz uma vantagem sim. Quando você tem a informação primeiro, toma a decisão primeiro. O departamento de recrutamento bem estruturado traz informações onde outros não enxergam. O caso do Jobson [na mira do Santos] é de destaque. É um jogador que estava na reserva do Náutico, na Série C do Campeonato Brasileiro, e nós tivemos gente competente para detectar que ele tinha o perfil para estar conosco. Acho que a gente evoluiu em termos de clube e estrutura, a condição financeira que o clube consegue proporcionar para os jogadores. É um pouco disso que transforma o Red Bull Brasil cada vez mais atrativo no mercado".

COMO ATRAIR TORCIDA

"É o grande desafio do clube para os próximos anos, tão grande ou até maior que o desafio técnico, que é crescer a equipe dentro de campo. O que nós estabelecemos como cronograma é focar toda a nossa atenção e energia em fazer com que a equipe cresça esportivamente. A partir do momento que tivermos mais calendário, mais jogos e um ambiente mais agradável para o torcedor se aproximar, será o momento de colocar mais energia e investimento nesse aspecto. É sim o grande desafio que o Red Bull tem para os próximos anos, adquirir uma base de torcedores, fãs ou admiradores que estejam dispostos a ir ao estádio para acompanhar o clube, para elogiar, criticar e a viver o clube da mesma maneira que os torcedores de outros clubes vivem. Nós estamos atentos a esse aspecto, mas o momento ideal para que seja o nosso foco de atenção".

ONDE QUER CHEGAR

"Existe sim a ambição de atingir este estágio [de Série D] o quanto antes. O grande objetivo nosso é a vaga na Série D do Brasileiro, porque isso nos dá condição de iniciar um plano de 18 meses a partir do momento que alcançar a vaga, de forma estruturada e organizada, coisa que o clube nunca teve nas duas outras oportunidades que jogou a Série D. É usar isso para fazer um trabalho consistente nesse sentido de subir a equipe para a Série C. O nosso entendimento é que o acesso mais difícil neste estágio é o acesso da Série D para a Série C. A partir do momento que nos posicionarmos na Série C, você tem calendário, você tem nível de organização de planejamento mais consistente e que torna o risco de queda de desempenho menor".