Topo

Caso Daniel

Sem fala dos Brittes em audiência, julgamento fica mais distante do crime

O jogador Daniel Correa quando jogava pelo São Paulo -
O jogador Daniel Correa quando jogava pelo São Paulo

Dimitri Valle e Karla Torralba

Do UOL, em São José dos Pinhais e São Paulo

04/04/2019 12h00

Chegou ao fim na noite de ontem (3) a segunda fase de audiência de instrução do caso Daniel, que reuniu 44 testemunhas arroladas pelos advogados de defesa dos sete réus, acusados em diferentes níveis pela morte do jogador, e marcada por críticas da acusação em relação à estratégia adotada pela defesa da família Brittes, que trabalha para retirar a acusação de homicídio de Cristiana Brittes e outros qualificadores.

A expectativa de que os réus fossem ouvidos nessa semana não se concretizou, mesmo após quase 60 depoimentos depois, contando com a primeira fase da audiência, em fevereiro. Uma nova data para que os sete acusados deem sua versão dos fatos ainda não foi divulgada. Além deles, há três testemunhas que também não foram ouvidas e, por não estarem no Paraná, darão depoimento via carta precatória. A juíza Luciani Regina Martins de Paula irá marcar os interrogatórios dos réus apenas após ouvir todas as testemunhas.

"A defesa não tem outra saída. Quer empurrar esse júri para demorar o quanto mais a condenação. É lamentável, eu respeito a defesa, mas lamento que isso tenha ocorrido. 44 testemunhas, três dias para nada. O crime está ali, as qualificadoras estão ali. Agora, é aguardar e esperar os interrogatórios, a decisão de pronúncia e o julgamento do tribunal do júri", disse Nilton Ribeiro, assistente de acusação e advogado da família de Daniel. Na teoria, quanto mais distante do crime o julgamento acontecer, menos emocional tende a ser a reação do júri popular, que vem acompanhando o caso pela imprensa nacional.

Na próxima semana, duas pessoas devem ser ouvidas por carta precatória em Conselheiro Lafaiete (MG), e uma nova intimação será feita também para Ludmila Garrid, que não compareceu ao depoimento ontem em Belo Horizonte.

Amigos e familiares dos réus formaram a maioria dos ouvidos nos últimos três dias. São pessoas que não participaram da festa na Shed em comemoração aos 18 anos de Allana Brittes, nem do "after party" na casa da família, onde Daniel foi espancado antes de ser morto. Essas testemunhas traçaram um perfil dos acusados e alguns criticaram o comportamento de Daniel.

"Foram depoimentos para tentar denegrir a imagem de uma pessoa enterrada em Conselheiro Lafaiete. Para denegrir a imagem do Daniel, um jovem promissor no futebol, tentar aumentar a dor de uma mãe que enterrou o filho por duas vezes. Porque teve o enterro e, depois, o pênis foi encaminhado. Meses depois teve que tirar o caixão e colocar o pênis dentro. Até quando vai isso?", falou.

Nas mais de duas horas de fala do apresentador da Rede Massa, afiliada do SBT, também pouco foi dito sobre o assassinato especificamente. Passaia teve de responder questões relacionadas a reportagens publicadas no decorrer do processo sobre a família Brittes -- segundo a defesa, elas prejudicariam a análise do júri em um possível julgamento.

Defesa dos Brittes espera que Cristiana não vá a júri por homicídio

A estratégia de defesa do advogado da família Brittes, Cláudio Dalledone Júnior, de evitar que Cristiana Brittes vá a júri por homicídio ficou clara ao longo dos depoimentos, que procuraram também derrubar a tese de que haveria ocorrido "meio cruel" e crime de ocultação de cadáver, ambos qualificadores para outros réus do processo.

"Ministério Público denuncia fatos em juízo, propõe que sejam submetidos a júri por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e que Cristiana participou do homicídio, o trabalho foi feito para comprovar que ela não teve participação no homicídio e isso é feito na inquirição das testemunhas, produção da prova. Os depoimentos para Cristiana demonstram, já na primeira fase, a interpretação de algo escrito no inquérito para fazer a denúncia. As testemunhas disseram em um só tom que ela não incentivou o homicídio. Temos certeza de que ela não será pronunciada pelo homicídio", analisou Dalledone.

Cristiana não foi inicialmente indiciada por homicídio pela polícia civil, mas acabou denunciada e virou ré pelo crime após um interrogatório sigiloso, no qual uma testemunha afirmou que a mulher de Edison Brittes Júnior disse para "não fazer sujeira em sua casa", o que teria motivado o marido a colocar Daniel no Veloster preto e levar o jogador para a morte.

Caso Daniel